Vendas no comércio apresentaram expansão nos primeiros dez dias de fevereiro. As transações registraram alta de 6,6% no prazo e 10,9% à vista, segundo o SCPC.
A realização do carnaval deste ano em março distorceu a base de comparação do desempenho do comércio paulistano na primeira quinzena de fevereiro ante igual período de 2010. O "efeito calendário" induz a um falso entendimento de expansão acelerada dos indicadores do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) nas vendas à vista e a prazo. Sem o efeito carnaval, considerando-se os dez primeiros dias do mês, os números ratificam projeções do mercado indicando acomodação da expansão do varejo em 2011, com alta de 6,6% nas vendas a prazo e de 10,9% nas transações à vista.
"O momento é de cautela, tanto na avaliação do ritmo de vendas, como no da inadimplência, cujos resultados parciais ainda não refletem uma tendência clara", observou o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alencar Burti.
A análise do executivo leva em conta os números da ACSP, fornecidos pela sua empresa SCPC Boa Vista Serviços (BVS), responsável pela administração do Serviço Central de Proteção ao Crédito.
Sazonalidade – O movimento de consultas junto ao SCPC, indicador das vendas a prazo, cresceu 11% na primeira quinzena de fevereiro na comparação com igual período de 2010. "É o mesmo número de dias úteis, mas no ano passado, o dia 15 era a segunda-feira de Carnaval, um feriado prolongado que afeta o comércio paulistano. Esse 11% reflete uma base fraca de comparação", ressalta o economista da ACSP Emílio Alfieri.
Ele acrescentou que é por força do mesmo efeito que o SCPC Cheque, indicador das vendas à vista, cresceu 15,1%. "Nesse caso, as liquidações de roupas e calçados antecipadas pelo comércio também ajudaram", diz Alfieri. Geralmente, complementa, o varejo espera o final do carnaval para lançar as liquidações de verão.
O economista lembra que a análise de desempenho da segunda quinzena de fevereiro ainda trará reflexos do chamado efeito-calendário, porque terá o feriado da terça-feira de carnaval e quarta-feira de cinzas de 2010 pressionando para baixo a base de comparação. No mês de março deverá acontecer o movimento inverso. "Só o balanço do primeiro trimestre de 2011 (ante igual período do ano passado) nos dará um retrato mais preciso das vendas do varejo na capital paulista", diz Alfieri.
Na primeira quinzena de fevereiro, os indicadores de inadimplência do SCPC apontaram crescimento de 11,5% nos registros recebidos e de 4,2% nos cancelados, na comparação com igual período de 2010. Segundo análise de Alfieri, também nesse caso é preciso aguardar o desempenho do trimestre para se ter um retrato mais preciso. De uma maneira geral, explica, a inadimplência tende a crescer nos primeiros meses do ano, atingindo seu pico entre março e abril (pelo reflexo de carnês atrasados para pagamento das compras do período de Natal).
Ano será de consolidação
Ninguém espera repetir um 2010, quando se projeta o crescimento do varejo para este ano, comenta o economista da LCA Consultores Douglas Uemura. A consultoria manteve sua projeção de expansão anual de 5% para o setor, bem abaixo do desempenho de 2010 (de 10,9%) divulgado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "É um bom crescimento, sobre uma base forte, mas é uma desaceleração", afirma o economista.
Uemura analisa que todos os segmentos de negócio do varejo devem crescer menos em 2011, ante 2010, "um período de consolidação da recuperação da economia". As atividades mais dependentes de crédito (automóveis, móveis e eletrodomésticos), projeta, devem sentir um impacto mais direto das medidas de contenção do governo federal.
Estímulos – Esses setores, argumenta o consultor, são mais voláteis, sujeitos a desacelerações abruptas. "Mas há paradoxos, com muitas variações possíveis, conforme o setor analisado", acrescenta Uemura. No comércio de computadores e linha marrom, exemplifica, o crédito afeta, mas há outros fatores que vão contrabalançar, como o aumento do rendimento e a bancarização. Além disso, a queda de preço estimula a compra, e parcela grande da população brasileira ainda não adquiriu computador, argumenta o consultor.
No caso do setor de tecidos, vestuário e calçados, Uemura observa uma curiosidade. Ele intercala anos bons e ruins e 2010 foi muito bom. "Uma das hipóteses é que a pessoa monta o guarda-roupa e deixa de ir às compras no ano seguinte", afirma o economista.
No caso de alimentação, analisa Uemura, 2011 é novamente, como 2010, um ano de expressivo crescimento de preço. "Isso afeta o orçamento, com reflexo nas outras compras", diz o consultor.
Veículo: Diário do Comércio - SP