"Proteja seu caixa. Faça os investimentos necessários para garantir sua operação e manter o patrimônio. Esconda a chave do caixa", sugeriu ontem o diretor-geral da Klabin, Reinoldo Poernbacher, como fórmula para administrar a fabricante de papéis na atual fase de instabilidade financeira.
A Klabin decidiu reduzir os planos de investimentos para 2009. Os desembolsos serão limitados aos gastos operacionais. A companhia vai aplicar cerca de R$ 400 milhões, principalmente na compra de terras e na expansão de plantios. O valor é quase metade do que o programado para este ano.
Os projetos de expansão de capacidade de fábricas da empresa em Santa Catarina estão, por enquanto, suspensos até o cenário ficar mais claro "pós-tsunami", como Poernbacher classificou a atual crise. "Nossos estudos sobre os projetos não vão parar", avisou. A Klabin espera também aproveitar a queda nos preços de aço, metais, máquinas e outros equipamentos para levar a cabo os investimentos futuros.
A maior fabricante de papéis, que divulgou um prejuízo líquido de R$ 253 milhões no terceiro trimestre, decorrente do efeito da desvalorização do real em sua dívida (efeito contábil, sem desembolso de recursos), mantinha cerca de R$ 2 bilhões em seu caixa no dia 30 de setembro. O volume é considerado pela fabricante suficiente para ultrapassar a crise - embora a empresa não faça previsão para o fim da instabilidade.
Mas, diante da nova cotação cambial, a companhia vê com bons olhos a melhoria em sua situação operacional. "Não obstante à crise, a desvalorização torna a companhia mais competitiva a longo prazo", afirmou Poernbacher. A Klabin avalia que poderá obter maior receita nas exportações, penalizadas pela acentuada valorização do real antes do estouro da crise.
A empresa espera ter um aumento extra de R$ 201 milhões em suas vendas externas, enquanto o impacto da mudança do patamar do real frente ao dólar sobre os resgates de dívida será elevado em R$ 41 milhões.
Ao contrário de fabricantes de celulose, como a Suzano, que prevê reduzir 30 mil toneladas de produção a partir da primeira semana de novembro, a Klabin não fará paradas. "Temos toda a produção de papéis cartões já alocadas para 2009", afirmou o executivo da Klabin, lembrando a menor volatilidade nos negócios de vendas de papéis do que celulose.
O diretor-geral da Klabin afirmou que o ritmo de vendas no mercado interno tem se mantido normal, sem efeito ainda sobre a demanda. Até o terceiro trimestre, o volume de vendas da Klabin aumentou 7,7%, por conta da entrada da nova fábrica de papel cartão em Monte Alegre, no Paraná. A receita líquida evoluiu 6,6%, para R$ 770 milhões no trimestre. A empresa tem procurado, segundo o executivo, atender melhor os mercados da América do Sul, de forma a compensar eventuais perdas nos mercados europeu ou americano.
A Klabin, que disse não ter realizado operações alavancadas com derivativos, informou que os financiamentos para exportação ficaram mais caros e com prazos mais curtos. As taxas, cotadas em Libor, aumentaram de 1% a 2% para 5% a 6%, enquanto os prazos foram reduzidos de oito a dez anos para apenas 90 dias. "Não pegamos a linha porque o custo é alto", disse o diretor financeiro da Klabin, Sérgio Alfano. A empresa afirmou que possui uma situação confortável para suas operações, dizendo que mantém US$ 1,8 bilhão em financiamentos de exportações contratados até 2020. As receitas com exportações, por sua vez, chegam a US$ 550 milhões, um terço das vendas totais.
Veículo: Valor Econômico