Um comunicado discreto, publicado pela Lojas Renner na edição de quarta-feira em um jornal de grande circulação em São Paulo, é um sinal de que as varejistas já começam a se preparar para dias difíceis. A cadeia de vestuário, um das três maiores do país, informa que "as taxas de juros praticadas para novas compras de produtos e/ou serviços sofrerão reajustes, tornando sem efeito todo material impresso porventura existente e cujo recolhimento não foi possível". Procurada pelo Valor, a Renner não quis se pronunciar a respeito do anúncio, mas ele deixa claro que a rede prevê alterar os planos oferecidos aos clientes.
Nesta semana, a rede começou a distribuir em suas lojas uma revista de mais 100 páginas com sua coleção Verão 2008/09. O problema é que, além das novidades, as páginas também estampam as condições de pagamento. Nos parcelamentos em oito vezes sem entrada (0+8) são cobrados juros de 5,99% ao mês. Para até cinco prestações, não há juros.
É esperado que esse catálogo circule por um bom tempo. No entanto, depois da crise nos mercados financeiros, ficou impossível prever como ficarão as taxas de juro, os preços e o próprio consumo.
Embora os executivos do setor continuem otimistas, o agravamento da crise preocupa e pode fazer com que as vendas de Natal não escapem ilesas. "Estamos discutindo o que vamos fazer, mas não tomamos nenhuma decisão. Estamos analisando continuamente (as taxas de juros)", afirma Túlio Queiroz, gerente de relações com investidores da Riachuelo. A rede também oferece planos em oito vezes com juros de 5,9% e parcela em cinco vezes sem juros.
"O processo de diminuição dos prazos de pagamento e aumento dos juros pelo varejo é irreversível", diz Nabil Sayon, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping Centers (Alshop). Mas não está claro em que velocidade e intensidade a alta dos juros chegará ao consumidor nas próximas semanas, o que dependerá do fôlego financeiro e da estratégia de marketing de cada varejista.
O volume de compras financiadas no cartão de crédito já mostra uma desaceleração, de acordo com dados do Banco Central divulgados até agosto. Após registrar taxas históricas de expansão, superiores a 50% em alguns meses do primeiro semestre, o ritmo de crescimento caiu quase pela metade, para 27% em agosto. Essa queda deve ter se agravado com a deterioração dos mercados financeiros.
O estoque dos empréstimos superou R$ 60 bilhões se considerado o volume de financiamentos no cartão (com e sem juros). Desse total, grande parte, 66%, representam compras parceladas sem juros.
Marcelo Noronha, diretor de Marketing da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), avalia que a queda no ritmo de crescimento das compras parceladas acompanha a desaceleração geral do mercado de crédito, que vem perdendo força devido à elevação na taxa básica de juros.
Apesar de algumas lojas oferecerem compras sem juros em até 12 vezes, a média do mercado é bem menor. Segundo o diretor de uma empresa de cartões, o ritmo de crescimento das compras parceladas no cartão vai continuar caindo nos próximos meses. "As lojas não têm margem para suportar o ritmo de crescimento do primeiro semestre". O estoque de financiamentos no cartão aumentou em R$ 20 bilhões em um ano.
Veículo: Valor Econômico