Varejo, crédito, seguro, consórcio... Até onde vai a Máquina de Vendas

Leia em 6min

Perto de completar um ano da união entre Ricardo Eletro e Insinuante, grupo cria novas empresas e se prepara para abertura de capital

 

Em março do ano passado, o mercado foi surpreendido pelo jeito matuto como as empresas Insinuante e Ricardo Eletro se uniram para formar a segunda maior rede varejista de eletroeletrônicos do País. Sem a assessoria de banqueiros, Luiz Carlos Batista, controlador da primeira, e Ricardo Nunes, fundador da segunda, conversaram até de madrugada e dormiram no mesmo quarto de flat no episódio que marcou o início das negociações. "Em um momento o Ricardo perguntou: cadê a toalha? Dali a pouco ele já estava de pijama. Acho que isso ajudou a fechar o negócio porque acabou com a formalidade", diz Batista. Perto do primeiro aniversário da fusão, porém, o clima de improviso ficou para trás. Enquanto Ricardo se encarrega de encerrar a integração de ambas as companhias, Batista ficou com a tarefa de pensar o futuro do grupo, que envolve não só a abertura de capital como a criação de novas empresas. "Agora os filhotes começam a nascer", diz Batista.

 

A primeira iniciativa dessa estratégia foi anunciada no início do mês, com a criação de uma empresa de serviços financeiros, em parceria com o HBSC. Segundo executivos próximos, o banco aportou R$500 milhões no negócio, mas não terá participação na nova companhia. Inicialmente, a intenção é oferecer cartões de crédito e empréstimos para clientes da varejista. No longo prazo, porém, o negócio (ainda sem nome) deverá ter vida própria e dar empréstimos para pequenos varejistas. Em entrevista ao Estado, Batista revelou seus próximos passos. Agora, a holding da Máquina de Vendas quer ter uma seguradora e uma empresa de consórcios.

 

Assim como aconteceu no caso da financeira, em que Itaú e Bradesco entraram na disputa com o HSBC, a Máquina de Vendas pretende promover uma espécie de concorrência entre as principais seguradoras do País. A nova empresa que surgir desse processo deverá vender seguros de vida e garantia estendida de eletrodomésticos, entre outros produtos. Para montar o consórcio de carros, motos e eletrodomésticos, a Máquina de Vendas precisa pedir uma autorização ao Banco Central.

 

A criação de empresas financeiras por parte de varejistas não é exatamente uma novidade. A Magazine Luiza, por exemplo, tem a Luizacred, joint venture com o Itaú que oferece de cartões de crédito a seguros. A Casas Bahia tem uma parceria com o Bradesco desde 2004. A rede Gazin, do Paraná, tem um consórcio de carros e eletrodomésticos. "Os serviços financeiros são cada vez mais importantes na receita das varejistas", diz Marcos Gouvêa, da consultoria GS&MD. "No exterior, as redes já oferecem serviços não financeiros, como a instalação de eletrodomésticos. Muitas delas viraram até operadoras de celular."

 

Bolsa. No caso da Máquina de Vendas, a expansão para além das geladeiras e fogões tem a ver com a tendência do setor em geral e com sua realidade particular: a preparação para o IPO. Bem ao estilo da empresa, alguns bancos de investimento começaram a competir pela vaga de assessor e, até o fim do ano, a varejista deve estar pronta para a abertura de capital. Ainda não foi decidido como as empresas da holding Máquina de Vendas serão levadas à bolsa: se em conjunto ou em partes. De todo modo, ao separar os negócios, a ideia é deixar claro para os investidores todos as facetas da holding - e assim conseguir uma valorização maior do grupo.

 

"A discussão, agora, é qual o melhor momento para o IPO. Os resultados do primeiro trimestre de 2011 não são os melhores para apresentar aos investidores porque o movimento no varejo é mais fraco mesmo. Mas, se esperar demais, a empresa pode ver a janela do mercado do mercado de capitais se fechar", disse um banqueiro próximo.

 

Apesar da expansão em várias frentes, o varejo continua sendo a prioridade da Máquina de Vendas. A intenção é que os novos negócios sirvam para promover as vendas da rede ao aumentar o tráfego de pessoas nas lojas. O modelo de holding também servirá como base para o crescimento via fusões e aquisições. Foi assim com a rede City Lar, do Mato Grosso, incluída no ano passado. Uma nova empresa foi criada, a Máquina de Vendas Norte, que está abaixo da companhia-mãe mas, ao mesmo tempo, mantém o antigo controlador, Erivelto Gasques, como sócio. "Ganhamos com a escala na hora de negociar compras com fornecedores de eletroeletrônicos e também de tecnologia para nossos sistemas", diz Gasques. "Mas toda a região Norte ficou sob minha responsabilidade, tenho toda a autonomia. A empresa não perdeu o dono atrás do balcão." A mesma tática deve ser usada para aumentar a presença no Sudeste (hoje há apenas 11 lojas no estado de São Paulo) e entrar no Sul.

 

"Corda do caranguejo". O estilo de gestão, que pretende respeitar peculiaridades regionais e manter a competitividade das redes, deu origem a uma relação quase umbilical entre os três sócios. Batista, Nunes e Gasques falam-se por telefone todos os dias - em alguns, várias vezes. Pelo menos uma vez por mês eles se encontram em uma reunião que dura o dia todo e ocorre em Salvador. Mesmo no tempo livre eles estão juntos. Foram assistir a Copa da Mundo na África do Sul e levaram mulheres e filhos para Miami (EUA) em setembro. Chegando lá, ficaram no mesmo hotel e usaram uma van para se deslocar pela cidade. Nunes costuma chamar o grupo de "corda de caranguejo". No carnaval, todos devem ir para Salvador se hospedar da casa de Batista.

 

Segundo pessoas próximas ao trio, o clima entre os empresários é ameno exatamente por conta da divisão de tarefas. Batista, responsável pelos novos negócios, tem passado a maior parte do tempo em São Paulo, perto dos bancos de investimento. Gasques trata das questões referentes à rede City Lar enquanto Nunes, de Belo Horizonte, comanda o dia a dia do grupo como um todo, especialmente Insinuante e Ricardo Eletro.

 

Expansivo e carismático, Nunes sempre foi a face pública de sua rede varejista: dando entrevistas, protagonizando propagandas de TV e atendendo diretamente os clientes. Até hoje ele trabalha como vendedor aos sábados e leva dois celulares para atender gerentes que ligam enquanto negociam com consumidores. "No varejo, não dá para ficar no ar condicionado, no segundo andar", diz Nunes. Mas agora que a Máquina de Vendas tornou-se uma holding com ambições expansionistas, Batista, uma figura até agora discreta, começa a se expor. A diferença é que ele precisa vender para outro público: banqueiros, investidores e futuros parceiros. Resta saber se, na nova empreitada, a empresa terá o mesmo sucesso.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Preço do leite ao produtor sobe quase 3% mesmo na safra

Em mais um movimento atípico de mercado, o preço médio do leite pago aos produtores do país ...

Veja mais
Supermercado acredita no aquecimento dos negócios

Carnaval: Estoques já foram reforçados.  A última semana que antecede o Carnaval deverá...

Veja mais
Liquigás investe para atender setor de aerossóis

Empresa montou uma linha de produção exclusiva para propelentes   Acreditando no crescimento da dem...

Veja mais
Para equilibrar custo, Pirelli estuda material alternativo

Pneus: Troca de 10% da borracha natural pode gerar economia de US$ 5 bi   Com vistas a reduzir a exposiç&a...

Veja mais
Ar no chocolate ajuda a aumentar o lucro

A receita das barras de chocolate é razoavelmente comum: cacau, manteiga de cacau ou outros óleos, ado&cce...

Veja mais
Setor têxtil sente alta do algodão

A alta da cotação internacional do algodão, que soma 270% nos últimos 12 meses, começ...

Veja mais
Custo de produção do leite fica 43% mais alto em um ano

O custo de produção do leite ficou mais alto em fevereiro deste ano, ante o mesmo mêsde 2010. J&aacu...

Veja mais
Varejo espera fechar o mês com crescimento real estimado em 8,7%

Os maiores varejistas do País pretendem superar em 8,7%, neste mês, a taxa de crescimento anual registrada ...

Veja mais
Klabin eleva investimentos em 32%, para R$510 milhões no ano

A Klabin está otimista com o desempenho do mercado interno e com a perspectiva de crescimento da economia em cerc...

Veja mais