Varejo de eletrônicos não sente aperto no crédito e vende mais no 1º bimestre

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Varejistas de diversas regiões do país registraram vendas fortes no primeiro bimestre. Empresários do setor de eletroeletrônicos, móveis e mesmo alimentos relatam vendas entre 10% e até 25% maiores que em igual período do ano passado. Para eles, outros setores do comércio foram indiretamente beneficiados pelas medidas de aperto ao crédito de longo prazo - elas afetaram as vendas de automóveis, mas liberaram parte do orçamento que seria comprometido com essas prestações para a aquisição de outros bens.

 

Com a confiança do consumidor em alta, e ainda sem sentir impactos negativos do aperto no crédito, as varejistas gaúchas Lojas Colombo e Manlec iniciaram 2011 com alta de 15% nas vendas do primeiro bimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. Televisores de LCD e plasma, além de móveis, são os destaques apontados pelas duas redes, que também pretendem manter neste ano ritmo de expansão semelhante ao de 2010.

 

"O embalo do ano passado continua no início deste ano", diz o diretor de vendas e marketing da Colombo, Thiago Baisch. A rede, que tem 340 lojas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo prevê faturamento bruto de R$ 1,5 bilhão neste ano, ante R$ 1,3 bilhão em 2010, e pretende abrir de 10 a 15 novos pontos de venda até dezembro. No ano passado, foram inauguradas dez unidades.

 

Na Manlec, com 45 lojas no Rio Grande do Sul, a arrancada de 2010 permite projetar crescimento de 10% a 12% no faturamento bruto do ano em relação aos R$ 246,6 milhões apurados em 2010, afirma o vice-presidente Atílio Manzoli Júnior. No ano passado, a expansão sobre 2009 foi de 25,2%, mas o executivo considera importante o desempenho previsto para 2011, porque ele toma como patamar de comparação uma "base mais alta" de vendas.

 

Conforme Baisch e Manzoli Júnior, as encomendas das varejistas seguem o ritmo de expansão das vendas e nenhuma delas enfrenta problemas de entregas. A única sinalização de aumento de preços, segundo o diretor da Colombo, foi emitida pelos fornecedores de linha branca, que reclamam dos aumentos dos custos do aço e querem reajustar suas tabelas a partir de março. "Mas ainda não sabemos qual será o percentual de aumento", diz o diretor da Colombo.

 

De acordo com Baisch, a linha branca foi a única que apresentou retração de vendas no bimestre - na faixa de 15% a 20% em comparação com o mesmo período de 2010. Em compensação, os demais segmentos registram forte alta: informática, puxada pelos "tablets" e pelos computadores portáteis, televisores de LCD e plasma, que estão mais baratos às vésperas da renovação das linhas, em março e abril, e móveis.

 

Para o vice-presidente da Manlec, as medidas de contenção do crédito, anunciadas pelo Banco Central, não atingem "de imediato" o varejo de eletroeletrônicos e móveis. "O efeito é maior sobre a venda de produtos mais caros, como automóveis", diz. Segundo ele, a rede abriu cinco novas lojas no Rio Grande do Sul em 2010 e deve repetir o número este ano.

 

O bom resultado relatado pelos executivos do varejo não se reflete, na mesma proporção, nos indicadores do setor. O indicador de vendas do varejo da Serasa mostrou queda de 2,6% em janeiro sobre dezembro na série com ajuste sazonal. Apesar da queda, janeiro registrou o maior índice da série depois do dezembro de 2010, superior inclusive ao resultado de novembro do ano passado.

 

De acordo com estatísticas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na primeira quinzena de fevereiro as vendas cresceram sobre janeiro. As consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) subiram 1%, enquanto nas consultas para compras com cheque a alta foi de 6,7%. Sobre fevereiro de 2010, as altas foram de 11% e 15%, respectivamente.

 

Na Lojas Cem, o ano começou bastante forte. No primeiro bimestre, o faturamento cresceu 25% sobre o mesmo período de 2010, com destaque para vendas de televisores e equipamentos de informática. O supervisor-geral da Lojas Cem, José Domingos Alves, acredita que o bom ritmo será mantido e o ano fechará com expansão de 25% a 28% no faturamento. É uma alta forte, que ocorre sobre uma base de comparação já elevada - em 2010, o aumento foi de 33%.

 

As medidas de restrição ao crédito não afetaram a Lojas Cem, já que a rede trabalha com recursos próprios, diz Alves. A empresa tem hoje estoques para 60 dias de vendas, acima da média de 45 dias, devido à estratégia de iniciar 2011 preparada para boas vendas e driblar eventuais aumentos de preços típicos do começo do ano.

 

A Fnac tem até o momento os números referentes a janeiro, que mostram aumento de 10% nas vendas em relação ao mesmo mês de 2010. O ritmo de expansão é inferior aos 27% registrados na média do ano passado, uma taxa muito forte, impulsionada, entre outros fatores, pela Copa do Mundo. O destaque no primeiro mês do ano foram as vendas de notebooks, que aumentaram 15% sobre janeiro do ano passado.

 

O entusiasmo no mercado imobiliário, diz Nilo Signorini, diretor comercial da loja de móveis e decoração Tok & Stok, não ficará mais concentrado nas construtoras, mas se espalhará nas lojas de móveis e materiais de acabamento. "Isso ficou claro nesses primeiros dois meses do ano, quando as vendas aumentaram muito", diz Signorini, que, no entanto, não informou números.

 

Devido ao resultado acima do esperado verificado em janeiro e fevereiro, a Tok & Stok terminou, na sexta-feira, a revisão do orçamento para o ano com uma expectativa positiva. "O faturamento deve aumentar 18%, contra alta de 15% em 2010. Além disso, confirmamos o plano de construir mais cinco lojas", diz Signorini. Ao todo, a companhia espera fechar o ano com 35 lojas e contratação de pelo menos 250 novos funcionários.

 

Everton Muffato, diretor comercial da rede de supermercados do Paraná que leva seu sobrenome, diz que "o bimestre foi muito bom". A meta inicial era faturar 13% mais que em igual período do ano passado, mas o crescimento atingiu 15%. Ele credita parte do desempenho ao aumento no poder de consumo da população e também à redução no prazo de financiamento de veículos.

 

A rede Super Muffato possui 33 lojas e a previsão de alta na receita para 2011 é de 15%. De acordo com o empresário, a cesta de produtos aumentou e o consumidor está mais exigente, escolhendo mais as marcas que leva para casa.

 

Veículo: Valor Econômico


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