A compra da Elizabeth Louças Sanitárias (em João Pessoa) há pouco menos de um mês pela Deca marca a terceira aquisição da companhia em três anos. Mais do que ampliar a participação no mercado nordestino, representa um novo ciclo para a companhia. A fabricante de metais e louças do grupo Duratex , que tem entre seus acionistas o grupo Itaúsa, está em plena digestão dessas aquisições e se prepara para dar um salto de mais de 50% no volume de produção. Precisa atender a demanda latente, que vem do varejo e das construtoras.
E, enquanto incrementa investimentos fabris, na ponta, o desafio está em manter a marca reconhecida na classe A e enfrentar a acirrada concorrência na venda de produtos mais populares.
As marcas adquiridas foram extintas: Ideal Standard, Cerâmica Monte Carlo e Elizabeth transformaram-se em plataformas fabris importantes para produzir uma única marca: Deca. Ao contrário de outras empresas e de outros segmentos, a empresa optou por não criar marcas de combate. Raul Penteado, diretor-geral da Deca, não acredita na fórmula. Quer se apoiar no prestígio da Deca para conquistar todo o mercado. "Numa casa de luxo, temos produtos para todos os ambientes, do jardim à suíte master", afirma.
Ser objeto de desejo para todas as classes sociais não é exatamente simples - há o sério risco de passar a imagem errada para uma das pontas. "Temos tido sucesso com a estratégia", garante. A fórmula está na tecnologia de processos e na escala, segundo o executivo. "Para fazer commoditie com qualidade e design e ter preço competitivo é preciso tecnologia." Daí os investimentos maciços do grupo Duratex nas fábricas.
Os R$ 80 milhões gastos na compra da Elizabeth fazem parte de um montante maior, de R$ 400 milhões previstos até 2012. A Deca irá expandir a unidade de louças de Cabo Santo Agostinho (PE) -antiga fábrica da Cerâmica Monte Carlo - e reativar a operação de Queimados (RJ), que pertencia à Ideal Standard. Nos últimos dois anos, a capacidade de produção de louças estava praticamente estagnada, na casa de 7 milhões. Quando as novas unidades estiverem operando, a capacidade produtiva de louças sanitárias atingirá 11,7 milhões de peças por ano, um crescimento de 63%. Esse novo patamar alça a companhia ao ranking dos cinco maiores produtores mundiais de louças sanitárias. Incluindo louças e metais, as fábricas podem chegar a produzir 26,8 milhões em 2011 e 29,9 milhões em 2012. No ano passado, foram 23 milhões.
"A Deca está acompanhando o crescimento da construção civil", afirma Flávio Donatelli, diretor executivo financeiro de relações com investidores da Duratex. "Vamos investir onde tem mercado, hoje estamos operando a quase 100% da capacidade."
A Deca responde por cerca de um terço do faturamento da Duratex, os outros dois terços são da divisão de madeira, que produz MDF, MDP e chapa de fibra, matéria-prima para produção de móveis, entre outros. Em 2010, a receita líquida da divisão de louças e metais foi de R$ 911,5 milhões para uma receita do grupo de R$ 2,74 bilhões. No ano passado, a receita da Deca cresceu 20% para uma expansão de 42% na receita do grupo. "É que o mercado de madeira cresceu muito no ano passado depois de um 2009 fraco, enquanto Deca tem tido uma expansão constante", diz Donatelli. Já a margem bruta de Deca foi de 44,6% no ano, enquanto a divisão de madeiras foi de 36,8%.
Depois de consolidar a marca na alta renda e conseguir levá-la para um padrão mais baixo, o que permitiu ganho de escala e volume, a companhia agora procura se posicionar em nichos de mercado. Vai entrar no mercado de acessibilidade, com barras fixas para banheiros para quem tem dificuldades de locomoção e até pia para cachorro beber água - o produto é fixo com fita adesiva no chão e tem um orifício para a água descer direto para o ralo. Continua a produzir novos modelos de filtros e chuveiros, com forte apelo ecológico e redução no consumo de água e segue com novidades para o público de alta renda: entre as novidades está um assento sanitário eletrônico, com controle digital e jato d'água, que custa R$ 3,5 mil.
O varejo ainda é o grande canal de vendas da companhia, mas a expansão da construção civil impacta diretamente o negócio e as construtoras já representam 23% das vendas da Deca. "As construtoras têm nome e garantia a zelar e estão usando produtos de mais qualidade", diz "Estão se tornando clientes importantes do nosso portfólio."
Veículo: Valor Econômico