Mesmo com verba, obra da Ceagesp está parada

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Com R$ 11 milhões de verba federal em caixa, a reforma no pavilhão principal da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), prometida para dezembro, está atrasada - e sem previsão para começar. Lá, os problemas são as infiltrações, a fiação exposta e o piso esburacado, que já causou acidentes. Ainda mais crítico, o setor de melancias não tem nem obra prevista - e os vendedores que armazenam as frutas no chão é que têm de arcar com o prejuízo de ter suas mercadorias estragadas a cada enchente.

 

A Ceagesp afirma que aguarda um laudo técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para avaliar os riscos e condições da obra no chamado pavilhão do Mercado Livre do Produtor (MLP), que abriga a feira das flores, verduras e o "varejão" do fim de semana. O IPT afirma que já entregou o laudo à companhia, e aguarda deles uma avaliação para possíveis alterações no projeto de reforma.

 

O Ministério Público Estadual também acompanha a situação do entreposto - questionado sobre o atraso nas obras, o MPE afirmou que até agora "as diligências estão sendo cumpridas", e que o "procedimento de reforma está em andamento". Ainda assim, a promotoria deve fazer nas próximas semanas nova análise da situação do pavilhão e emitir mais um parecer.

 

Para dar início à reforma, a Ceagesp aguardava um aporte de R$ 11 milhões do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, verba liberada em outubro. Desse dinheiro, R$ 7 milhões devem ser usados para reforma e o restante para regularizar a situação dos galpões de armazenamento, hoje sem certificação.

 

Dúvidas. Incrédulos, os vendedores desconfiam da reforma. "Prometeram obra, mas ninguém sabe se vai ter mesmo. Eles estão esperando o quê? O teto cair?", questiona Antônio Araújo, um dos comerciantes da feira de verduras. Na verdade, isso até já aconteceu: no ano passado, os comerciantes contam que uma placa de cimento do teto chegou a cair em cima de um caminhão de verduras. Por sorte, ninguém ficou ferido.

 

Quem trabalha diariamente no pavilhão conta que a situação vem piorando não só para os comerciantes, mas para os compradores. "Um senhor de 80 anos que trabalha com a gente já caiu duas vezes com o carrinho de mercadorias por causa do chão esburacado. Outro dia, uma compradora tropeçou e quebrou a perna", diz Francisco Sérvolo, feirante há 27 anos.

 

Na Ceagesp, cada um paga cerca de R$ 600 por "pedra", espaço onde se comercializam os produtos. A pintura no chão que delimita cada módulo já quase não existe. "Adoro comprar aqui, é tudo barato e fresquinho. Mas não custava tornar o lugar mais agradável para o consumidor", afirma o administrador de empresas Luiz Fernando Santos, frequentador.

 

A demora para começar as obras preocupa os produtores do setor das flores. "Dia das Mães e Dia dos Namorados estão chegando, é a época que a gente mais vende. Se as obras vierem justo nesse período, vai atrapalhar o trabalho de todo mundo", afirma o presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Flores e Plantas do Estado de São Paulo (Sincomflores), Paulo Murad.

 

Comerciantes bancam reformas no setor de melancias

 

Área é a mais prejudicada durante as enchentes; vendedores recuperaram asfalto e agora investem em iluminação

 

Com as laterais vazadas, o pavilhão MLP não é protegido contra chuvas. Mas nada que se compare à área onde ficam as frutas, especialmente o setor de melancias. Em uma parte mais baixa e bem mais perto da confluência dos Rios Tietê e Pinheiros, o alagamento todo verão é certo - a cena das melancias estragadas no chão também. "Quem menos tem prejuízo aqui perde R$ 20 mil, R$ 30 mil a cada chuva. Molhou, já era, não pode mais vender", diz o comerciante Moacyr Fernandes da Silva, que, como os outros, só tem o chão para empilhar suas melancias.

 


Para os vendedores, o ideal seria um "primeiro andar". "Tem de construir uma plataforma de pelo menos um metro para a gente, igual ao resto das frutas", sugere José João de Souza, o Jatobá, também das melancias. A comparação com o resto da feira de frutas é inevitável: todos, exceto os da melancia, têm lojinhas em um piso elevado.

 

Enquanto uma grande reforma no armazém das melancias não entra na pauta da Ceagesp, os próprios locatários tocam projetos de melhoria que consideram urgentes. "Nós tomamos a iniciativa de, paulatinamente, reformar isso aqui. Começamos recapeando as ruas ao redor e agora vamos para a iluminação", conta o comerciante Maurício Frasca. Eles formaram uma comissão e, com o dinheiro conseguido via rateio, estão substituindo os fios de alta tensão antigos por cabos de alumínio, mais resistentes.

 

A proposta antiga de mudar o entreposto para o Trecho Oeste do Rodoanel, hoje descartada pela administração, ainda é lembrada como solução definitiva para o problema de enchentes. "A mudança prestaria o grande serviço de tirar os caminhões de São Paulo", afirma Maurício Frasca. "Isso aqui (a localização atual) daria um excelente piscinão. O maior da cidade."

 

PONTOS-CHAVE

 

Mudança
Desde que passou para a União que a Ceagesp está "de mudança". Nos últimos anos, a ida para o Rodoanel foi deixada de lado e a localização atual considerada "privilegiada".

 

Flores
Em 2007, a SPTuris anunciou a construção de um mercado exclusivo de flores em uma área de 70 mil metros na frente da Ceagesp. A CPTM, dona do terreno, desistiu do negócio.

 

Inquérito
Em outubro, o Ministério Público Estadual exigiu reforma imediata ou interdição do pavilhão das flores. A Ceagesp afirmou que não havia risco iminente de queda.

 

Chuvas
A chuva do dia 10 de janeiro inundou o setor de melancias. Vendedores relataram prejuízos de até R$ 30 mil, mas a companhia afirmou que "apenas 20%" das melancias foram perdidas.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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