De olho nos EUA, Índia lucra com cúrcuma

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O preço da cúrcuma - um tempero essencial na cozinha indiana - subiu recentemente para 17 mil rúpias indianas (US$ 375) por quintal métrico (100 quilos), alimentado pela demanda dos EUA.

 

Para S. Mahavishnu, que cultiva cúrcuma em quatro de seus 15 acres, a alta no preço trouxe ganhos inesperados. Ele vendeu 60 sacas de 70 quilos do produto, por 900 mil rúpias, que lhe renderam lucro de 700 mil rúpias e ele quer usar para comprar um trator e economizar o que gastaria com o aluguel da máquina no futuro.

 

Em um vilarejo próximo, A. Ganesan colhe seus dois acres de cúrcuma com grandes expectativas. Embora os preços tenham, desde então, recuado um pouco, para 13 mil rúpias por quintal métrico, seu rendimento dobrou depois de ter instalado irrigação por gotejamento em 2010, com o que aumentará sua produção e poderá vender a um preço lucrativo. "É uma boa chance para os agricultores melhorarem suas vidas", disse. "É uma boa chance para os agricultores melhorarem suas vidas", afirmou. "Enfim, nós estamos recebendo um preço que reflete o valor de todo o nosso esforço."

 

A melhora na qualidade de vida - e a prosperidade - dos agricultores não é algo incomum no sul e oeste da Índia, onde uma nova geração de produtores com melhor formação adota uma abordagem cada vez mais comercial em relação à agricultura: produzir culturas mais diversas e de maior valor, como frutas e especiarias; investir em novas tecnologias, adotar novos métodos de cultivo e fortalecer as ligações diretas com o mercado.

 

"O camponês comum produz o que for possível, mas quando se depara com o mercado, fica pressionado para vender o que pode - ele não presta atenção às preferências dos consumidores ou à safra", afirmou E. Vadivel, professor da Tamil Nadu Agriculture University (TNAU). "Mas os agricultores estão ficando organizados agora e estão mais orientados ao mercado."

 

No que os pesquisadores da London School of Economics chamaram de "uma segunda revolução verde indiana", os cientistas da TNAU vêm trabalhando diretamente com os agricultores para ajudá-los a adotar técnicas de irrigação por gotejamento, conservação de água e de melhora na produtividade, o que resulta em colheitas recorde e os ajuda a se capitalizar com alta nos preços.

 

"Os que têm uma boa colheita estão vendo os benefícios", disse Mahavishnu. A habilidade dos agricultores nos mercados também mudou, sustentada pelo melhor nível de formação e pela melhora nas comunicações.

 

Os mercados atacadistas de Tamil Nadu, administrados pelo governo estadual, vendem produtos comerciais - como cúrcuma, óleo de gergelim, coco, amendoim e algodão - por meio de um sistema de lances escritos e secretos. Todos os lances são, então, abertos publicamente, um método mais transparente e protetor dos interesses dos plantadores que as negociações nebulosas ou os leilões abertos manipulados, vistos nos mercados estatais no norte do país.

 

No mercado de cúrcuma de Erode, "não há corretores nem comissão e o agricultor pode desistir e retirar o lote em 10 ou 15 minutos após a abertura dos lances", disse N. Mani, superintendente do mercado. "Também pode armazenar sua cúrcuma aqui por até duas semanas, sem custo algum."

 

Os agricultores de Tamil Nadu que plantam frutas de maior valor, como mangas e bananas, cuja vida pós-colheita nas prateleiras é bastante longa, também estão criando cooperativas para driblar os intermediários e transportadores tradicionais, enviando suas colheitas diretamente a mercados urbanos distantes, como Pune e Mumbai.

 

Mesmo os produtores de itens mais perecíveis, como vegetais, criaram sua própria conexão direta com os consumidores, formando seus próprios mercados para acabar com o intermediário e ficar com uma parte maior dos lucros. "Em última análise, o agricultor precisa ser vendedor", disse o professor Vadivel.

 

Nem todos os agricultores prosperam. Jai Prakash Narain ainda planta arroz em seus cinco acres, mas busca culturas alternativas. No momento, seus únicos clientes são as empresas processadoras de arroz, que se recusam a comprar diretamente dos plantadores. Isso os obriga a depender dos intermediários, que ficam com uma boa parte dos lucros. "Os intermediários digerem o dinheiro", afirmou.

 

O agricultor S. Peryaiasamy, 43, planta açúcar, bananas e cúrcuma em seus 6,5 acres no remoto vilarejo de Gounderpalayam. Diz que a alta nos preços, aliada a seu melhor rendimento decorrente da irrigação por gotejamento, vem ajudando sua família a progredir.

 

Nos últimos anos, comprou máquina de lavar roupas e um moedor de condimentos para sua mulher, além de um computador de mesa, com conexão de internet, para os filhos. Ainda assim, sabe que poderia estar se saindo melhor. Mas tem ciência de que a situação pode mudar facilmente.

 

"Seja qual for o preço do mercado, recebemos apenas a metade", afirmou Peryaiasamy. "Os tempos, definitivamente, melhoraram. Os custos subiram, mas os preços também subiram. Mas não posso dizer nada sobre o futuro."

 


Veículo: Valor Econômico


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