As nossas exportações de têxteis aumentaram nos últimos doze meses em mais de US$ 200 milhões
Industrial do ramo têxtil, iniciei minha vida empresarial muito jovem, quando estudava engenharia e trabalhava na fabrica de linhas que fora fundada por meu pai em 1934. Minha experiência, portanto não é recente.
Vivi os bons e os maus momentos das manufaturas. Acompanhei as decisões políticas. Com o mercado interno oferecendo oportunidades limitadas, a exportação era o caminho para aumentar as vendas e reduzir os custos. Na nossa empresa, chegamos a vender para mais de 30 países por alguns anos. As forças da produção conseguiam melhorar a balança de pagamentos do Brasil.
Houve modificação nas medidas governamentais e pouco a pouco criou-se uma situação em que exportar produtos brasileiros significava vender com lucro zero – não somente devido a taxa de câmbio e outros fatores mas principalmente pela incerteza da manutenção de regras e leis.
Os Estados Unidos e Europa comerciam para entrega futura por preços fixados no ato da venda. Não temos condição de assumir este risco. Restam-nos mercados não tradicionais, e também a América do Sul e Central, mas aí também encontramos produtos do Sudeste Asiático a preços muito baixos.
Nossa salvação são os produtos agrícolas e minerais, nos quais mantemos condição de competitividade por que a natureza generosa nos dá amplas possibilidades.Cabe esclarecer que ao Brasil interessa também, e muito a exportação de produtos secundários e terciários, nos quais são agregados insumos e salários visando o grande objetivo: combater o desemprego. Nós estamos exportando artigos primários que congregam mão de obra muito menor do que os que importamos já industrializados.
Na verdade, as nossas exportações de têxteis aumentaram nos últimos doze meses em mais de US$ 200 milhões – mas as importações cresceram muito mais, batendo em US$ 1500 milhões.
Somente da China nós compramos, em 2009, US$ 1365 milhões e em 2010 US$2148 milhões. Portanto, houve um aumento de 56%.Da Índia, passamos de US$ 313 milhões para US$ 584 milhões , com um acréscimo de 86%.
É um caminho perigoso para nós. O consumo desses produtos aumenta em nosso país mas a maior parte deles é fabricado no exterior. Os dados da ABIT sobre a evolução da balança comercial mostram que em 2005 a importação atingiu US$ 1476 milhões FOB, passando a US$ 3776 milhões FOB em 2008 e saltando para US$ 4.968 milhões FOB e 2010. Enquanto isso, a exportação foi de US$ 232 milhões FOB em 2005, de US$ 1724 milhões FOB em 2008 e US$ 1443 milhões FOB em 2010.
A importação também é ascendente em tecidos e vestuário e é trágica a estimativa das importações sobre o nosso consumo. È evidente que num cenário assim é o Brasil quem fica em situação difícil, pois tanto é prejudicado com aumento de desemprego como na balança de pagamentos. Esta posição é muito desfavorável.
Todos os países procuram contornar estes problemas e cabe ao nosso governo estudar a macroeconomia e criar situações para que a produção no Brasil possa aumentar, os custos possam diminuir e haja demanda maior para os trabalhadores brasileiros.
Não deixamos de salientar que os produtos primários que exportamos têm maior procura e menor oferta no mundo. O comercio é uma via de duas mãos e, portanto, não é tão difícil negociar a venda de produtos industrializados a quem quiser comprar produtos agrícolas e minerais.
Nosso objetivo aqui foi apresentar o problema. A solução é bastante complexa. Entre as muitas medidas possíveis está a eliminação das despesas sociais sobre a folha de pagamento, o que nos colocaria em condições melhores no mercado. A taxa cambial, os juros, o transporte e muitos outros fatores exigem providencias e estudos urgentes.
Diário do Comércio - SP