Executivo diz que, desde a crise de 1997, a empresa só faz investimentos 'cautelosos', e espera bom desempenho em 2009
José Drummond Jr., presidente da Whirlpool S/A, que detém 70% do mercado de eletrodomésticos no País - o grupo é dono das marcas Brastemp e Consul -, continua otimista com as perspectivas do mercado de geladeiras, fogões e máquinas de lavar para o ano que vem, apesar do cenário restritivo do crédito. "Será possível crescer em 2009, porém a taxas muito mais tímidas do que as alcançadas nos último anos", diz. Ele projeta desaceleração do crescimento do setor de 15% para algo em torno de 5%. Mas, na opinião dele, essa perda de fôlego nas vendas não deve afetar os negócios da empresa. Ao contrário do que ocorreu logo após a explosão de vendas da linha branca em 1996, quando a indústria mais que duplicou a capacidade de produção, nos últimos anos a cautela predominou. "Investimos US$ 200 milhões por ano em desenvolvimento de produtos e novas tecnologias, mas fomos muito criteriosos na adição de capacidade das fábricas para não sermos pegos no contrapé, como fomos em 1997." A seguir os principais trechos da entrevista:
Há a perspectiva de que a demanda diminua no mercado interno?Não acho que a demanda vá diminuir no mercado doméstico para as nossas categorias de produtos. Foram vários os fatores que contribuíram para o mercado de eletrodomésticos nos últimos anos: salário, renda, emprego, inflação sob controle, juro. Crédito é uma delas, mas não é a única variável. A inovação da indústria é outra. Achar que todas as variáveis serão afetadas porque há uma restrição de crédito é se preparar para um desastre, e as companhias não precisam fazer isso. Nesse momento, a melhor coisa é não mudar o curso do dia-a-dia e deixar as coisas clarearem um pouco mais. É esse o caminho que estamos adotando.
Existe perspectiva de crescer quanto neste trimestre?
Projetamos de 8% a 12% e estamos mantendo. Pode ter variação? Pode. Entre crescer de 8% a 12%, crescer um pouco menos e ter um desastre, aposto muito mais na primeira possibilidade. Há uma inércia de consumo que vem ao longo deste ano e que não está sendo alterada no curto prazo.
Como está o ritmo de produção das fábricas?
Normal. Se a demanda for pior neste trimestre do que imaginamos, pode ser que façamos ajustes de estoque. Ainda não temos essa visibilidade disso. Os ajustes seriam para novembro e dezembro, mas não acredito nisso.
Como está o orçamento de 2009?
Não adiamos o orçamento. Mas, no momento atual, o orçamento para 2009 é mais um cenário do que um plano. Continuo achando que é possível crescimento para o ano que vem, mas muito mais tímido. Ninguém quer pouco crescimento ou um mercado parado. Mas tem algo importante que nós fizemos e acho que toda a indústria de linha branca fez. Quando o mercado explodiu em 1996, a indústria mais que duplicou a capacidade instalada, e as vendas ficaram andando de lado até 2003. De 2004 até hoje, o mercado cresceu a taxas médias de 15% ao ano. Com esse desempenho, nós fomos muito disciplinados na expansão da capacidade. Investimos muito todos os anos no desenvolvimento de produtos, novas tecnologias, mas fomos muito criteriosos na adição de capacidade para não sermos pegos no contrapé, como fomos em 1997. A indústria está mais bem preparada para enfrentar a crise: tenho certeza sobre a minha e acredito que os demais também.
Quanto será investido no ano que vem?
A média dos últimos anos tem sido US$ 200 milhões em eletrodomésticos e no negócio de compressores. A cifra será mantida. A maior parte é gasta em desenvolvimento de produto. Nos últimos dois anos, renovamos o portfólio inteiro da companhia. Mais de 100 produtos por ano na média, sempre buscando inovação. Acabamos de lançar um refrigerador de uma porta da marca Consul frost free, sem necessidade de descongelar. É o mais acessível do mercado brasileiro. Vamos ter mais novidades nessa linha.
Com a alta do dólar, como ficam as linhas de condicionadores de ar split e de microondas, que têm muitos componentes importados?
Existe uma expectativa clara de que haverá aumentos de preços. Posso adiantar que, no começo de novembro provavelmente, vou reajustar a tabela de produtos importados: microondas e condicionadores de ar split. Em quanto? 10%, 15% ou 20%, não sei. Mas certamente o número é acima de 10%. Prefiro esperar do que tomar uma decisão a cada semana e criar confusão no mercado.
A empresa voltou neste ano para o mercado de condicionadores split com a marca Brastemp. O dólar não atrapalha esse planos?
Atrapalha, mas sempre há uma oportunidade. Quem produz localmente tem vantagem sobre os que só importam. Há um problema, mas há também uma oportunidade. Tanto no split como na exportação existem oportunidades. Os condicionadores de ar split já venderam neste ano mais que os aparelhos de janela. A entrada no mercado de split faz parte da estratégia, teria feito absolutamente tudo igual. Esse mercado poderá crescer menos daqui para a frente, mas não há nada que vá destruir um mercado que é crescente. O mercado de condicionadores de ar split não vai acabar por causa do dólar.
A valorização do dólar abre possibilidade de a empresa recuperar exportações, mesmo com o mundo crescendo menos?
Abre. Mesmo quando a moeda ficou extremamente desfavorável, não tiramos o pé da exportação de compressores e de eletrodomésticos. Sabemos que o mundo dá voltas e podemos ter uma situação como a atual. Não dá para ficar entrando e saindo do mercado exportador aventureiramente. Temos feito a exportação de forma determinada, e isso permite que agora elas sejam ampliadas. Acredito que esta é a crise mais grave desde a depressão, mas não é a depressão. A exportação representa de 35% a 40% dos dois negócios da empresa, eletrodomésticos e compressores.
Veículo: O Estado de S.Paulo