China fecha fábricas de brinquedos

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Metade das fábricas de brinquedos do Delta do Rio das Pérolas, no sul da China, fechou desde o início de 2008 e metade das que sobraram deverá seguir o mesmo caminho nos próximos dois anos, segundo a entidade que representa o setor.

 

Apesar de alarmante, a saída da região de produtores de brinquedos, tecidos e calçados começou muito antes do agravamento da crise mundial e responde a uma política deliberada do governo de se livrar da indústria de baixo valor agregado e abrir espaço para setores de alta tecnologia, menos poluentes que consumam menos energia e matérias-primas.

 

"Nós temos a política de esvaziar a gaiola para a entrada de novos pássaros", afirmou o vice-governador da Província de Guangdong, Wan Qingliang, em um encontro com jornalistas estrangeiros no início deste mês, relatado pela agência de notícias AP. "Nosso objetivo é transformar o Delta do Rio das Pérolas na principal região para a manufatura moderna."

 

Localizada na província sulista de Guangdong, a região foi escolhida no início dos anos 80 para ser o laboratório das reformas econômicas aprovadas pelos líderes chineses em 1978, por sua proximidade com a capitalista Hong Kong. Em pouco tempo, milhares de empresas saíram da ex-colônia britânica e se instalaram no Delta do Rio das Pérolas.

 

Mas, desde o ano passado, o governo implementou uma série de mudanças para desencorajar a permanência na região de indústrias de baixo valor agregado, como brinquedos. O imposto de renda para setores de alta tecnologia é de 15%, comparado aos 25% dos demais. As empresas ainda recebem três anos de isenção fiscal e só pagam metade da alíquota (7,5%) nos três anos seguintes.

 

Além de deixar de estimular novos investimentos estrangeiros em manufatura básica, as autoridades aceleraram o processo de valorização do yuan, que ganhou 6,5% em relação ao dólar em 2007.

 

A situação para os pequenos exportadores ficou pior em 2008, com o aumento dos custos trabalhistas decorrentes da Lei de Contrato de Trabalho, alta da inflação e elevação dos juros para conter os preços. Para completar, a moeda chinesa teve nova valorização, de 6,8%, o que reduziu ainda mais as margens de lucro das empresas.

 

Desde o início do ano, 67 mil pequenas e médias fábricas foram à falência. Só no setor de brinquedos no Delta do Rio das Pérolas, 3.631 exportadores fecharam as portas no primeiro semestre, o equivalente a 52,7% do total. A maioria eram pequenas e médias empresas, com volume de exportações anual abaixo de US$ 100 mil.

 

Wang Zhiguang, vice-presidente da Associação da Indústria de Brinquedos de Guangdong, estima que metade das empresas que sobraram vão fechar nos próximos dois anos.

 

Especialista em inovação tecnológica do Instituto de Tecnologia de Dongguan, o professor Wu Yunjian afirma que o maior problema do Delta do Rio das Pérolas é o grande número de fábricas de baixo valor agregado. Segundo ele, a crise só acelerou um processo de reestruturação que já estava em vigor. "Eu não acredito que a crise internacional seja ruim para o aperfeiçoamento, transformação e realocação de fábricas. Ela vai forçar as empresas a se transformarem", disse Wu.

 

A província de Guangdong é governada desde dezembro por Wang Yang, aliado de Hu Jintao visto como reformista convicto. Wang está determinado a mudar o perfil do Delta do Rio das Pérolas e transformá-lo em um pólo de alta tecnologia e de baixo impacto ambiental. No mês passado, o governo de Guangdong criou um fundo de 40 bilhões de yuans (US$ 5,9 bilhões) para financiar a saída do Delta do Rio das Pérolas de pequenas e médias indústrias de baixo valor e sua instalação em regiões menos desenvolvidas da província ou até em outros locais da China. As que concordam com a transferência recebem subsídios para eletricidade, água e transporte.

 

Resta saber se a determinação política de manter as reformas vai continuar após o aumento do número de desempregados na região. Nos últimos dias, a crise começou a afetar grandes empresas no Delta do Rio das Pérolas e levou ao fechamento de duas fábricas de brinquedos, com a demissão de 6,5 mil operários. A Federação das Indústrias de Hong Kong prevê que 2,5 milhões de empregos deixarão de existir na região até janeiro em razão da crise.

 

A maioria desses postos de trabalho é ocupada por migrantes rurais, camponeses que deixaram suas vilas para trabalhar em Guangdong. A expectativa das autoridades regionais é que eles voltem a seus locais de origem ou sejam absorvidos pelas fábricas instaladas em áreas mais pobres da China.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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