Depois da Argentina, Atacadão vai à Indonésia

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Comércio: Rede deve estrear no mercado asiático no ano que vem

 

Loja da Argentina: país é o segundo no plano de internacionalização da rede brasileira de "atacarejo" adquirida pelo grupo Carrefour há quatro anosUm ano após o grupo Carrefour anunciar o interesse de levar a rede Atacadão para a Argentina, a empresa inaugurou a primeira unidade da bandeira naquele país este mês. E também se prepara para dar um novo passo no processo de internacionalização do negócio - a entrada no mercado asiático. O Atacadão deve abrir pontos na Indonésia em 2012, contou José Roberto Mussnich, diretor-geral do Atacadão.

 

Até então, além do Brasil a cadeia operava apenas na Colômbia. As movimentações ajudam a fortalecer o braço de atacado do grupo, que cresce de forma acelerada, tem baixos custos de operação e alta rentabilidade. A rede francesa adquiriu a atacadista brasileira há quatro anos por R$ 2,2 bilhões, num dos melhores negócios que a empresa fez no país até hoje.

 

A primeira loja na Argentina foi aberta em 15 de abril, na cidade de La Matanza, a 20 quilômetros de Buenos Aires, com 6,5 mil m2 de área de vendas e investimento de R$ 22 milhões. O projeto de abertura de uma segunda unidade na Argentina (todas sem o acento til no nome) já foi aprovado e a inauguração deve acontecer provavelmente no segundo semestre. O terreno já foi comprado, mas Mussnich não informa o local.

 

"O plano é buscarmos espaço em regiões metropolitanas e também no interior desses países", diz. O responsável pela condução dos negócios na Argentina, há um ano e meio no cargo, é o brasileiro Danilo Alves.

 

No caso da Indonésia, a escolha se deve a certas características, como o fato de o país ser um dos mais populosos do mundo, com classe média em crescimento, e pela falta de rivais no mesmo formato de "atacarejo" - que mistura atacado com venda também em quantidades menores para pessoa física.

 

"O Carrefour vai conseguir crescer investindo menos, pois as lojas do Atacadão têm custos mais baixos de abertura e manutenção", diz Claudio Felisone, coordenador do Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA). No Brasil, a bandeira soma 72 lojas - eram 34 há quatro anos.

 

O movimento pode ser ainda uma forma de reagir à possibilidade de aumento da rivalidade no varejo de hipermercados na Indonésia. Há informações no mercado de que o rival Walmart estaria próximo de se tornar parceiro da rede Matahari Putra Primaque, a segunda maior varejista de hipermercados na Indonésia, atrás apenas do Carrefour. E o formato do Atacadão pode reforçar a presença da cadeia francesa na Indonésia.

 

Em relação ao projetos de internacionalização em outros países latinos e asiáticos, a rede tem analisado as possibilidades dentro de um contexto que considera a estratégia da bandeira Carrefour.

 

É o caso, por exemplo, da China. Mussnich conta que a abertura de Atacadão naquele país tem que considerar os planos de crescimento da bandeira Carrefour. "O hipermercado vai muito bem na China e já há planos para aumentar essa operação lá", afirma. "Então, a hipótese de abrir unidades de 'atacarejo' na China só deve acontecer a longo prazo". Em março, o comando do Carrefour informou que pretende abrir 22 pontos do Carrefour no mercado chinês (são mais de 140 lojas hoje).

 

"A prioridade agora é consolidar os negócios nas novas praças onde entramos antes de irmos abrindo lojas pelo mundo", completa. Com alta de 20,6% na receita no Brasil de janeiro a março, o Atacadão tem puxado o avanço da rede francesa no país - dado que ganha importância ao se lembrar que China e Brasil têm sido os destaques na expansão da rede no mundo. No primeiro trimestre, o grupo Carrefour se expandiu 13% no país. No mundo, apurou alta de 2,1%.

 

Na Colômbia, modelo é prioridade

 

O foco do Carrefour na Colômbia agora está voltado para os comerciantes das pequenas vendas de bairro. Esse grupo tem sido convidado a entrar nos três estabelecimentos onde as cores laranja, verde e creme destoam dos tradicionais tons associados ao grupo francês. O Atacadão, nome estranho e desprovido de sentido para quem fala espanhol, se converteu na aposta do presidente do Carrefour na Colômbia, Franck Pierre. O modelo importado do Brasil é o eixo principal de expansão do grupo no país nos próximos 10 anos. Até o fim de 2011, serão inauguradas mais quatro lojas.

 

"Copiamos tudo", afirma Pierre. "Quando alguém está fazendo uma réplica de um modelo deve fazê-la bem e não tentar inventar a roda." A única diferença entre o Atacadão brasileiro e as lojas do pais vizinho é a supressão do til no nome, assim foi feito na Argentina, onde a rede acaba de estrear.

 

A primeira loja do Atacadão na Colômbia foi aberta há um ano - marcando o início da expansão internacional do formato brasileiro -, e a segunda, há seis meses. Uma está em Bogotá e a outra, na região metropolitana. A terceira loja foi inaugurada há poucas semanas em Medelín, território "sagrado" da Éxito, controlada pelo também francês Casino.

 

Líder de mercado, o grupo Éxito vendeu no ano passado duas vezes mais que a filial do Carrefour, que figura em segundo no ranking supermercadista colombiano. A rivalidade entre as duas varejistas repete a disputa travada no mercado brasileiro, onde o Grupo Pão de Açúcar, cujo sócio é o francês Casino, está à frente, seguido pelo Carrefour.

 

Com o Atacadão, a filial colombiana do Carrefour quer reduzir a distância que a separa de sua principal rival. Após ocupar três diretorias do grupo no Brasil, o francês Pierre foi designado para a presidência da subsidiária vizinha com a missão de ganhar mercado. A expansão na Colômbia com base no modelo tradicional de hipermercados ocorreu em ritmo intenso desde que a rede chegou, no fim dos anos 90, até alcançar as atuais 70 lojas. As próximas inaugurações, no entanto, vão priorizar a bandeira de "atacarejo".

 

O plano prevê a abertura de pelo menos 25 lojas desse formato - número que poderá chegar a 30 - até 2015. Uma equipe do Carrefour está visitando os pequenos comércios de secos e molhados dos bairros, que fazem parte da tradição do país, para apresentar a bandeira. Trabalha-se com 200 mil potenciais clientes em Bogotá. A ambição do principal executivo da rede é reduzir a frequência dos comerciantes aos pontos clássicos de abastecimento. Para isso, faz uso da política de preços baixos do grupo, tratando de reduzi-los de 5% a 15% em relação à concorrência, ou no mínimo, igualando os valores. "Para deslocar um comerciante do lugar onde ele está acostumado a comprar é necessário provocar sua curiosidade e fomentar o interesse de compra dentro dos limites da nossa loja", diz Pierre.

 

Os esforços para que a experiência decole não impedem que o Carrefour busque também o público de maior poder aquisitivo. Por isso, está experimentando, bem mais timidamente que seu concorrente, o formato de conveniência com duas lojas instaladas na capital.

 

Cencosud prepara-se para aquisições

 

A Cencosud, terceira maior varejista da América Latina, gastará neste ano cerca de US$ 1 bilhão para ampliar suas operações existentes e poderá vender novas ações para ajudar a financiar aquisições, num momento em que crescem as vendas do varejo na região.

 

Na sexta-feira, os acionistas da companhia controlada por Horst Paulmann, empresário nascido na Alemanha, aprovaram uma proposta para venda de até US$ 2 bilhões em novas ações nos próximos três anos.

 

Paulmann retomou a expansão regional da companhia no fim de 2009, quando a economia chilena se recuperou de sua mais forte retração em uma década. Este ano, as vendas da varejista provavelmente ultrapassarão US$ 14 bilhões, em comparação com US$ 12,2 bilhões registrados em 2010, ao passo que a rentabilidade está "melhorando", disse ontem o executivo-chefe da varejista Daniel Rodriguez.

 

"Os mercados onde temos maiores oportunidades de crescimento são Peru e Brasil", afirmou Rodriguez. "Queremos ter flexibilidade financeira para comprar empresas, se surgirem oportunidades", acrescentou. As ações da companhia subiram 0,94% na sexta-feira na bolsa de valores de Santiago.

 

Em outubro do ano passado, a Cencosud pagou R$ 1,35 bilhão pela rede supermercadista brasileira Bretas (de Minas Gerais), em sua maior aquisição desde a compra, em 2005, de ações da Empresas Almacenes Paris, segundo dados compilados pela Bloomberg.

 

No Brasil, a empresa chilena é dona também da rede nordestina GBarbosa, adquirida em novembro de 2007.

 

A chilena possui uma opção para recomprar do UBS, em um prazo de dois anos, uma participação de 39% em sua subsidiária de supermercados argentinos.

 

A Cencosud é a terceira maior varejista em vendas na América Latina, segundo dados compilados pela Bloomberg. Em primeiro lugar está o Walmart do México, que teve faturamento de US$ 26,6 bilhões no ano passado, seguido pelo brasileiro Grupo Pão de Açúcar, com US$ 18,3 bilhões.

 

Neste ano, as despesas de capital das operações do Cencosud incluem US$ 400 milhões no Chile, US$ 220 milhões no Peru, US$ 210 milhões no Brasil, US$ 120 milhões na Argentina e US$ 40 milhões na Colômbia, segundo o relatório anual da varejista.

 

Veículo: Valor Econômico


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