A concorrência no mercado internacional deverá tornar-se ainda mais acirrada com a provável redução da demanda nos Estados Unidos e Europa no próximo ano, fazendo com que países, como a China, direcionem as exportações para os emergentes. A avaliação foi feita por especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO.
No caso do país asiático, o comércio representa aproximadamente 70% da economia, com destaque para a venda de manufaturados baratos para os Estados Unidos e Europa, dois dos principais mercados consumidores mundiais.
Além da disputa internacional, a concorrência com os produtos chineses também pode aumentar no mercado nacional, segundo a professora de Economia da Fundação João Pinheiro (FJP), Elisa Maria Pinto da Rocha, em razão da retração de consumo de mercados expressivos. "Se a China vende menos para os Estados Unidos e a Europa, o país tem que procurar vender para outros destinos", disse.
Hoje, a China é o terceiro maior mercado consumidor de produtos brasileiros, como o minério de ferro, aço e soja, com 9,09% dos embarques no acumulado do ano até setembro, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A primeira posição é ocupada pelos Estados Unidos com 14,14%, em seguida está a Argentina, respondendo por 9,14%.
Já nas vendas internacionais mineiras, o país asiático é o parceiro mais importante, consumindo 17,04% do total vendido pelo Estado, em um total de cerca de US$ 3,245 bilhões no intervalo. Os Estados Unidos são responsáveis por 10,17% dos embarques, percentual próximo ao da Alemanha (10,01%).
Para Elisa Maria Pinto da Rocha, a China terá papel relevante no cenário de desaceleração da economia mundial, porém, sozinha, não será suficiente para conter os impactos. " claro que o mundo não tem a mesma predominância de antigamente dos Estados Unidos, mas também é fato que há um certo exagero sobre a China como amortecedor do mundo", salientou.
Ela afirmou que, além da China, outros países emergentes, como Índia, México e o Brasil, podem ter destaque nesse contexto, desde que consigam manter o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em patamares razoáveis para o próximo exercício. No caso do Brasil, de 3% a 3,5%. "Mais do que o mercado externo, tais países devem ter os resultados apoiados no mercado doméstico", disse.
Volatilidade - O coordenador do curso de Relações Internacionais da Trevisan Escola de Negócios, Olavo Henrique Furtado, ressaltou que os impactos da crise são diferentes para os países e para os setores da atividade produtiva. "Vale destacar que o momento ainda é de volatilidade, o que dificulta análises mais precisas", frisou.
Para ele, com a redução da demanda mundial é possível que os preços de alguns produtos apresentem retração. Outro impacto se refere ao aumento da disputa de mercado, tanto interno quanto externo, dos produtos brasileiros com os chineses.
Furtado salientou que os artigos têxteis, os calçados, os brinquedos e os eletroeletrônicos do país asiático podem ganhar mais espaço na economia nacional. "Para alguns setores é complicado concorrer com a China, que tem, por exemplo, custo de produção mais baixo", analisou.
A invasão dos produtos chineses é uma das preocupações do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), já que as barreiras protecionistas do Brasil foram derrubadas.
Veículo: Diário do Comércio - MG