Carrefour aposta na soja brasileira não transgênica

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Varejista levará carne livre de ração modificada para novos mercados; Brasil é o único fornecedor do grão convencional

 

Baseado na garantia de oferta brasileira de soja não transgênica, o grupo Carrefour estuda expandir para vários países o seu selo de “carne livre de transgênicos”. Toda a carne de frango e de porco da marca própria Carrefour vendida na França leva o selo desde o ano passado, o que gera uma demanda anual de cerca de 200 mil toneladas de soja não transgênica para alimentar os animais dos fornecedores. “Toda essa soja vem do Brasil, porque praticamente não há outro fornecedor de grande volume”, diz a gerente de assuntos sociais e ambientais do grupo, Stéphanie Mathey.

 

O potencial de mercado para os grãos brasileiros não transgênicos pode se expandir com a nova iniciativa do Carrefour, mas já é relevante. “O produto não-transgênico não é mais um nicho: 70% do porco que vendemos na França é livre de transgênicos”, diz a executiva.

 

Considerado a principal fonte de soja não-transgênica do mundo, o Brasil exportou no ano passado cerca de 5 milhões de toneladas de soja convencional em grão, e outros 6,5 milhões de toneladas de farelo de soja não transgênico, segundo a Associação Brasileira de Grãos Não Transgênicos (Abrange). Esses volumes equivalem a 18% da soja em grão e a 48% de todo o farelo exportados pelo país.

 

Embora garanta que nenhum produto de marca própria na França contenha ingredientes transgênicos desde 2001, o Carrefour ainda não consegue certificar toda essa produção. Por isso, apenas as carnes de aves e suínos passaram a levar o selo de livre de transgênicos no ano passado, após a França liberar a rotulagem de produtos não transgênicos. A carne bovina vendida pelo grupo na França, por exemplo, é fornecida por 22 mil pecuaristas e não leva o selo. “Seria impossível certificar todos esses produtores”, justifica Stéphanie.

 

O curioso é que o Carrefour escolheu começar o programa pelas carnes, produtos nos quais é impossível identificar traços de transgenia, uma vez que a proteína do DNA da soja não entra no organismo dos animais. Os alimentos processados, que poderiam indicar a presença de transgênicos, não levam o selo.

 

Ainda assim, o Carrefour faz estudos para expandir a política de marca própria livre de transgênicos para outros países, inclusive o Brasil. “Essa política deve ser do grupo, e vamos levá- la para outros mercados”, garante Stéphanie. Por conta da oferta de soja não transgênica, o Brasil pode entrar logo na lista.

 

Apelo comercial

 

A experiência com a venda de carnes livres de transgênicos na França dá o embasamento comercial para essa expansão. Sem detalhar números, Stéphanie garante que as vendas das linhas que ganharam o selo no segundo semestre de 2010 têm subido desde então. “Pesquisas já mostravam que 63% dos europeus deixariam de comer uma carne se soubessem que a ração utilizada em sua produção continha transgênicos”, diz ela.

 

Mas em mercados como o Brasil, produtos como o óleo de soja rotulados como transgênicos não apresentaram queda nas vendas, segundo os fabricantes. Isso pode indicar que o potencial para produtos como a carne sem transgênicos seja pouco atrativo no país.

 

Expandir a linha de não transgênicos para outros países também incorrerá em custos adicionais para o Carrefour. No caso da França, os custos da nova linha não aumentaram, porque os produtos já eram livres de transgênicos antesmesmo da criação do selo. “Existe um custo de segregar os grãos da fazenda até o prato, mas esses custos são divididos ao longo da cadeia e não chegam ao consumidor”, garante Stéphanie.

 

A decisão do Carrefour, no entanto, não está só ligada a questões comerciais, diz Stéphanie. O grupo não quer arcar com os riscos dos transgênicos. “Decidimos tirar os transgênicos de todos os produtos de marca própria na França em 1998 pelo princípio da precaução, mas hoje mantemos essa política pelo princípio da prevenção.” Ou seja: para o grupo, os riscos sociais, éticos e ambientais dos transgênicos são uma certeza e a empresa pode ser responsabilizada por eles no futuro. Se esses riscos realmente existem, a questão para o Carrefour agora é deixar de proteger apenas os clientes e as filiais europeias contra eles.

 


Veículo: Brasil Econômico


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