Abilio Diniz deu sinal verde para Estáter conduzir negociações
A insatisfação de dois dos maiores acionistas do Carrefour com os resultados mundiais tem feito a rede buscar alternativas. Há cerca de um mês começaram as conversas para uma fusão das operações do Grupo Pão de Açúcar e do Carrefour na área de supermercados e hipermercados no Brasil. Segundo informações apuradas pelo Valor, as negociações acontecem por meio de representantes das duas empresas. A Estáter Gestão e Finanças está assessorando o Grupo Pão de Açúcar, enquanto o banco de investimentos Lazard representa o Carrefour na França. Procuradas, as varejistas não comentam o assunto.
O empresário Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, deu sinal verde para a aproximação e, segundo um executivo próximo "ele gostou da ideia, achou um caminho interessante". A rede francesa procurou o grupo Pão de Açúcar com a proposta. O também francês Casino, acionista majoritária do Pão de Açúcar com 66% do capital total, já tem conhecimento do interesse do parceiro brasileiro e autorizou o início das negociações, segundo apurou a reportagem. Procurado, o porta-voz do Casino na França negou as conversas.
Há uma série de possibilidades abertas para que se acomodem os interesses de Carrefour, Casino e da família Diniz nesse projeto. Inclusive, uma troca de ações entre Abilio Diniz e o Carrefour na França não está descartada, mas o desenho dessa engenharia financeira ainda não está pronto.
A edição de domingo o jornal francês Le Journal du Dimanche informou sobre as negociações entre as empresas. O Grupo Pão de Açúcar chegou a sondar o rival francês há cerca de um ano e meio, apurou o Valor, quando começaram a pipocar as primeiras informações no mercado de que dois investidores principais do Carrefour, Colony Blue Investor e Grupo Arnault (de Bernard Arnault, dono da LVMH), apoiavam a ideia de se desfazer de alguns negócios em países emergentes. "Na época, o Carrefour disse para todo mundo que bateu à porta deles que não queriam nem ouvir falar em vender o negócio no Brasil, apesar das pressões dos acionistas", conta uma fonte próxima a uma das companhias. "Então, passou-se a pensar num outro formato para juntar [as operações]. O assunto voltou mesmo no mês passado, mas está tudo no começo".
De acordo com um executivo de um banco de investimento, a persistente insatisfação dos dois maiores grupos de acionistas da cadeia com o desempenho do Carrefour no mundo tem levado a rede a pensar em formas de buscar um novo caminho para a operação local. Está marcada uma reunião de investidores do Carrefour, no dia 21 de junho na França, para tratar da abertura de capital de sua rede Dia.
O interesse do Carrefour numa sociedade não estaria fundamentada em eventuais dificuldades financeiras vividas pela empresa no país. "O Carrefour passou por fases de ajustes contábeis no Brasil, que levaram a perdas altas, e a operação ainda gera uma margem Ebitda inferior ao do Pão de Açúcar, que ganha muito dinheiro com os supermercados", conta um executivo ligado a cadeia. "Mas a rede está bem longe de viver uma crise. O Atacadão [adquirido em 2008] vende muito e puxa os indicadores do grupo para cima", conta um executivo ligado à cadeia.
O fato é que, desde 2009, o Colony Blue Investor e Grupo Arnault têm pressionado o Conselho de Administração do Carrefour para que a rede se desfaça da operação na China ou no Brasil e, dessa forma, rentabilizem o investimento feito pelos dois grupos quatro anos atrás. A pendenga se tornou pública e, na prática, nunca deixou a mesa. Os investidores, com 14,06% do Carrefour, entraram no negócio em 2007 e pagaram cerca de € 50 pelo papel da rede, que terminou ontem cotado em € 30,2. Desde 2007, o papel não voltou ao patamar de € 50.
"É uma lógica inquestionável", responde um executivo de banco de investimentos, quando perguntado sobre os ganhos dos acionistas com essa fusão. "Eles seriam maiores num país em que o varejo só cresce. Os dividendos engordariam". Para um analista que acompanha o Pão de Açúcar, uma união de ativos "seria uma ousadia desnecessária", lembrando que o Pão de Açúcar teve pouco tempo para "digerir" a sua fusão com Casas Bahia, cujos resultados passaram a ser consolidados no balanço do Pão de Açúcar em novembro.
Veículo: Valor Econômico