Em 12 meses, preços dos computadores caíram mais de 13%, reduzindo as margens de lucro
Comprar um computador tem pesado cada vez menos no bolso do consumidor brasileiro. Hoje é possível levar para casa, por menos de R$ 1 mil, um notebook que custava o dobro disso, pelo menos, há apenas um ano. Os equipamento de mesa custam ainda menos: no varejo, existem modelos a R$ 730.
A tendência de queda nos preços não é nova, mas vem se acelerando rapidamente. Em doze meses, até abril deste ano, o recuo nos preços foi de 13,52%, com base no IPCA. O valor é mais de duas vezes a média registrada pelo índice em toda a categoria de aparelhos eletrônicos: 5,95%.
Resultado do câmbio forte e da competição crescente entre os fabricantes, a redução dos preços tem impulsionado as vendas. De acordo com a consultoria IDC, no primeiro trimestre foram vendidos 3,6 milhões de computadores no Brasil, um crescimento de 22% em um período de 12 meses.
Mas o que beneficia o consumidor tem afetado fortemente os resultados dos fabricantes. O setor de computadores tem margens históricas baixíssimas, devido em parte à constante pressão do varejo. É por isso que guerras de preço costumam ter efeitos devastadores nesse mercado. A disputa atual está levando as empresas de menor porte a fechar as portas, além de provocar mudanças estratégias nos grandes fabricantes. A Positivo Informática, maior companhia nacional do setor, iniciou um extenso processo de reestruturação para manter-se competitiva.
Para muitos fabricantes, a diminuição dos preços atingiu seu limite. "Baixar mais [os preços] seria loucura. Mais reduções só aconteceriam com novos incentivos fiscais", diz Marcel Campos, gerente de produtos da Asus.
A opinião é compartilhada por outros executivos do setor. Paulo Renato Fernandes, diretor de operações da Lenovo, afirma que os preços chegaram ao mais baixo patamar possível, considerando os custos de fabricação local. A disputa, diz Hélio Rotenberg, presidente da Positivo, foi longe demais. "Acho que meus concorrentes querem ganhar dinheiro também, não só participação de mercado", afirma.
A competição entre os fabricantes tem sido impulsionada, em grande parte, pela demanda aquecida pelos notebooks. Segundo o IDC, os equipamentos portáteis, que no ano passado representaram 45% dos 13,7 milhões de computadores vendidos no país, atingiram a marca de 50,5% das vendas no primeiro trimestre.
Na briga pela preferência dos consumidores, os fabricantes estrangeiros têm se saído melhor que os competidores nacionais, avaliam analistas do setor. A questão básica é escala.
Há diferenças significativas nos processos de fabricação de notebooks e micros de mesa. Enquanto esses últimos são montados com componentes fornecidos por diversas empresas - muitas delas instaladas no Brasil - os notebooks são elaborados a partir de kits prontos, que são importados.
Usando seu poder de compra em escala global, marcas como Hewlett-Packard (HP), Dell, Samsung, LG e Lenovo conseguem kits mais baratos que os fabricantes brasileiros. Com a matéria-prima mais barata e uma taxa de câmbio favorável, essas companhias conseguem baixar os preços de forma mais acentuada.
"Fabricar notebooks é mais complicado, requer escala", diz Cláudio Raupp, vice-presidente da área de computadores pessoais da HP. De acordo com o executivo, o mercado brasileiro é um dos mais atraentes para investir no momento, por isso o interesse das marcas internacionais. "Em um ou dois anos o Brasil será o terceiro maior vendedor de computadores do mundo", afirma. Atualmente, o país oscila hoje entre a quarta e a quinta posição, segundo o IDC.
No primeiro trimestre, a HP assumiu a liderança do mercado brasileiro de PCs, com 13,1% de participação, também de acordo com o IDC. A Positivo ficou em segundo, com 10,8%. Raupp atribui o desempenho da HP ao número de modelos disponíveis e à estratégia de ampliação da cobertura geográfica da HP, mas não dá detalhes da estratégia da empresa.
Na avaliação de Germano Couy, presidente da Megaware, os pequenos fabricantes também contribuíram para a queda de preços que, agora, pode vitimar parte delas. Com menos recursos para oferecer micros de mesa mais sofisticados ou migrar para a produção de notebooks, essas companhias viram na diminuição dos preços a única maneira de competir. "Essa guerra vai ter que terminar nos próximos 60 dias, porque os estoques antigos estão se esgotando. As empresas terão que repor e isso vai custar caro", afirma. Na avaliação de Couy, os preços médios dos equipamentos deveriam estar 8% mais altos.
Expectativa parecida tem o novo presidente da MSI Computer no Brasil, Steven Lee. Segundo o executivo, já há sinais de que os preços vão subir no segundo semestre.
Há, porém, quem duvide. "Se o dólar contribuir, ao longo de 2011 ainda existe espaço para uma queda maior e aumento da competitividade", diz Willen Pucinelli, gerente de produto Vaio da Sony.
Veículo: Valor Econômico