Casino recorre à arbitragem contra Abilio Diniz

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Sócio francês acionou Câmara Internacional de Comércio por prevenção a possível negociação do Pão de Açúcar com Carrefour

 

O Casino está se previnindo quanto a possíveis movimentações de seu sócio no grupo Pão de Açúcar, o empresário Abilio Diniz. A companhia francesa entrou com um pedido de arbitragem na Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês) contra o sócio brasileiro pedindo cumprimento do acordo de acionistas assinado em 2006, no qual cada uma das partes ficou com 50% da varejista. Os franceses não gostaram de saber que Diniz, atual presidente do conselho do Pão de Açúcar, estaria negociando uma possível compra ou associação com as operações brasileiras do Carrefour.

 

Em resposta, o empresário afirma que não recebeu nenhum comunicado a respeito da arbitragem. “Informo, ainda, que não descumpri qualquer disposição dos acordos de acionistas arquivados na companhia, nem dos demais contratos celebrados entre os acionistas controladores”, disse Diniz por meio de comunicado.

 

O acordo entre o empresário e o Casino prevê que qualquer aquisição ou investimento acima de US$ 100 milhões ou superior a 6% do patrimônio líquido do Pão de Açúcar são funções do conselho de administração. O empresário teria iniciado as conversas com Carrefour com medo de que Walmart e a chilena Cencosud, que no Brasil é dona do GBarbosa, poderiam estar interessadas na compra do supermercadista. Porém, o Casino não autorizou que Diniz iniciasse negociaçõescomseu velho rival.

 

As relações entre os sócios do Pão de Açúcar começam a azedar às vésperas de uma possível saída de Diniz da companhia. No acordo de 2006 ficou estabelecido que de junho de 2012 a junho de 2014, o Casino poderia escolher um novo presidente do conselho de administração. Tambémestá previsto que o Casino compre mais ações de Diniz, assumindo o controle das operações.

 

Caminho ideal

 

A arbitragem é comumno mundo dos negócios e geralmente ela está prevista no contrato de acionistas. Partir para um processo no ICC significa que os envolvidos não chegaram a uma solução diante de um impasse e, portanto, as conversas deixaram de ser amigáveis. Ainda assim é a melhor alternativa para resolver conflitos entre sócios como explica o advogado Eduardo Parente, do escritório Salusse, Marangoni Advogados. “A arbitragem é o método mais rápido para se chegar a um acordo. Ela pode durar no máximo dois anos, enquanto um processo judicial leva uns 15 anos”, afirma.Também há a possibilidade da pendenga ser resolvida antes mesmo do processo ser julgado.

 

O caso mais recente envolvendo uma grande empresa brasileira no ICC levou ao fimda sociedade entre o frigorífico JBS e seu sócio italiano na Inalca JBS, o grupo Cremonini, antes mesmo de o tribunal emitir seu parecer. Os sócios solicitaram arbitragem do ICC em outubro de 2010, meses após se tornar pública uma série de acusações mútuas de fraude e desrespeito a acordos feitos em 2008, quando o JBS comproumetade da Inalca.

 

Em meio a trocas de farpas pela imprensa e a processos em diversos tribunais, JBS e Cremonini temiam uma desvalorização dos ativos da Inalca por conta da disputa e chegaram a um acordo extrajudicial para desfazer totalmente a sociedade em abril deste ano. A família Cremonini levantou empréstimos bancários e recomprou a fatia do JBS pelo mesmo valor que havia recebido três anos antes, de € 219 milhões.  Com Luiz Silveira e Reuters

 

Apesar do assédio, Carrefour Brasil resiste

 

Em meio à turbulência no comando, grupo mantém disposição para ficar no país

 

A rotina da direção do Carrefour Brasil não é das mais fáceis. Se de um lado alguns acionistas do grupo continuam a fazer pressão para a rede abandonar o Brasil, do outro o assédio por parte da concorrência cresce a cada dia. Para um executivo que atua na rede varejista, muito do que se comenta é boato plantado por gente interessada em enfraquecer a imagem da rede frente a fornecedores e o mercado e facilitar uma possível aquisição.

 

Ele admite que existem negociações, já que haveriam alguns supermercadistas interessados em fechar o negócio, mas garante que o Carrefour Brasil não está à venda. E ainda completa que empresários como Abílio Diniz teriam mais interesse no Carrefour que o contrário.

 

“Se quiséssemos ser comprados, não investiríamos na reforma de lojas, na redimensionamento de gôndolas e produtos e em publicidade agressiva. Para que gastar dinheiro, tempo e energia nesta reestruturação se temos a intenção de ser vendidos?”, questiona.

 

Ao contrário do que aconteceu em novembro do ano passado, quando o adversário francês Casino arrematou as 42 lojas do Carrefour na Tailândia por US$ 1,2 bilhão, as chances de algo parecido acontecer no Brasil parece remota. Pelo menos no que depender da direção da rede francesa no Brasil.

 

Embora a assessoria de imprensa do Carrefour Brasil não confirme nem negue, o conselho de administração do grupo Carrefour se reuniu ontem em Paris para uma reunião extraordinária. A pauta foi o assédio que a operação brasileira vem vivendo neste momento e seu breve futuro. De acordo com uma fonte da companhia, nenhuma séria decisão foi tomada durante o encontro. A não ser a decisão de continuar resistindo a uma possível compra.

 

Le Clerc

 

O Casino, ao contrário do que se comenta, não é a principal preocupação do Carrefour na França. Lá, seu maior concorrente é uma rede chamada Le Clerc. Entre os dois, a rivalidade por preço é agressiva.

 

Já no Brasil, o Carrefour ocupa a segunda posição segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), perdendo a liderança apenas para o Grupo Pão de Açúcar. Este, segundo a fonte, seria o grande adversário não só na atração dos consumidores, mas também neste momento de resistência à compra.

 


Veículo: Brasil Econômico


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