Acordo entre Casino e família Diniz tem cláusula de não concorrência

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Varejo: Sócios não podem ter outro negócio no setor.

 

O acordo de acionistas entre Casino e a família Diniz, que regula o controle do Pão de Açúcar, possui uma severa cláusula de não concorrência. Pelo acordo, todas as oportunidades de negócio devem ser aproveitadas pelo próprio Pão de Açúcar.

 

Nem o Casino e nem a família Diniz, enquanto detiverem até 10% da holding controladora Wilkes, poderão participar de outro negócio no segmento de varejo, prestar assistência ou mesmo deter participação financeira ou atuar no conselho.

 

Até o momento, o Casino sequer sabe se o interesse de Diniz seria para ele próprio ou para o Pão de Açúcar, pois não foi informado sobre as discussões. Apenas tem provas de que as conversas de fato existiram.

 

Ao que tudo indica a administração do Pão de Açúcar de fato desconhecia a existência do diálogo com o Carrefour.

 

O Casino se nega a fornecer maiores detalhes a respeito de seu pedido de arbitragem, alegando obrigação de confidencialidade. Diniz afirmou ao Pão de Açúcar que não descumpriu nenhuma cláusula do acordo.

 

Os analistas de mercado temem que a relação entre o grupo Pão de Açúcar e o francês Casino, possa sofrer um baque severo.

 

"Mesmo que não saia negócio nenhum com o Carrefour, o desentendimento entre Casino e Pão de Açúcar pode afetar a relação entre as duas empresas e isso pode atingir a agilidade na tomada de decisões", disse Cauê Pinheiro, da SLW Corretora de São Paulo. "A gente não sabe se vai ter um desdobramento maior", disse à Bloomberg o analista da SLW Corretora.

 

"Isso pode piorar o desempenho do ritmo de crescimento da empresa, se começarem a se desentender em outros aspectos", disse ele, em referência à companhia brasileira.

 

Outro analista, que preferiu comentar o assunto em sigilo, disse que era claro para o grupo ou para Abílio Diniz, presidente do conselho do Pão de Açúcar, que "conversar com o Carrefour geraria problemas". "O Carrefour é o maior rival do Casino na França. Dizer 'bom dia' para eles bastaria para pegar mal com o Casino. Negociar uma possível fusão, mesmo em sigilo, é chamar problema."

 

Alguns especialistas no mercado acreditam que a negociação com o Carrefour seria uma caminho para Diniz se manter no topo do poder do grupo em 2012, quando - conforme o acordo firmado entre as duas companhias - o controle administrativo passaria a ser do Casino.

 

De acordo com pessoas próximas ao empresário, a hipótese de buscar alguma parceria com o Carrefour - foco da irritação do Casino em relação ao sócio - era algo que estava sendo tratado de forma sigilosa e, portanto, não poderia ter "vazado" ao mercado, conta essa fonte. As primeiras informações foram publicadas há cerca de duas semanas por um jornal francês.

 

Uma solução para se manter no controle do grupo era algo que Diniz estaria analisando já algum tempo, mas sem um caminho visível, a princípio. Em relação ao Carrefour, era preciso avançar mais nas conversas para, com base em um desenho mais claro de como poderia ser feita essa sociedade - que envolveria a troca de ações com o Carrefour -, apresentar uma possível proposta ao Casino.

 

A partir de agora, o Pão de Açúcar e o Casino devem seguir um cronograma obrigatório em processos na Câmara de Comércio Internacional (CCI), o mais tradicional órgão de arbitragem do mundo. Dentro de alguns dias, o grupo Pão de Açúcar será informado, por meio de notificação, sobre a existência do processo arbitral. Nesse mesmo documento, a CCI já deve pedir que o grupo se posicione em relação às cláusulas que o Casino acredita que o sócio violou.

 

Então, o Pão de Açúcar terá 30 dias para responder a esse pedido de esclarecimento - o que será na primeira semana de julho, portanto. O Pão de Açúcar indicará um árbitro para o júri, e o casino, um outro árbitro. Um terceiro é indicado pela CCI. Após recebido a resposta do Pão de Açúcar, as partes começam a enviar provas e perícias são solicitadas pelas partes para que se possa montar o processo. "É algo que deve levar entre um ano e meio e dois anos e meio de julgamento", conta um representante da CCI no Brasil. A câmara possui uma operação em São Paulo.

 

Apesar da irritação do Casino em relação ao sócio Abilio Diniz, o Casino notificou o grupo e não o sócio a respeito do processo arbitral. As duas empresas podem solicitar a interrupção do processo da câmara de arbitragem, caso consigam entrar em acordo de forma paralela à movimentação na CCI. Isso só será possível, no entanto, se as partes concordarem juntas em interromper o julgamento na câmara.

 

A aproximação entre o comando Carrefour e Abilio Diniz ganhou força neste ano, depois que o Carrefour teria sinalizado que aceitaria uma negociação com o rival. Fontes próximas do Carrefour contam que o interesse da rede numa sociedade não estaria fundamentada em eventuais dificuldades financeiras vividas pela empresa no país. O Carrefour precisou fazer ajustes contábeis na operação local que levaram perdas de €550 milhões.

 

No entanto, o fato é que, desde 2009, os maiores acionistas do Carrefour - Blue Capital e grupo Arnault - têm pressionado o conselho de administração da rede francesa para que a companhia se desfaça da operação na China ou no Brasil e, dessa forma, rentabilizem o investimento feito pelos dois grupos quatro anos atrás.

 

Acionista do Carrefour opõe-se a negócio

 

A Knight Vinke Asset Management, acionista do Carrefour, é contrária à venda isolada de ativos fora da Europa pela segunda maior rede varejista do mundo e defende que a diretoria se concentre em aperfeiçoar as operações no continente.

 

"A venda de atividades não europeias do Carrefour, uma por uma, de maneira isolada, não nos pareceria ser uma boa solução", escreveu o acionista em carta ao Carrefour, datada de 25 de maio, mas que divulgou apenas ontem. A varejista francesa, cuja sede fica em Bolougne-Billancourt, deveria "permanecer focada em aperfeiçoar o desempenho de suas operações principais na Europa, que são essenciais para o restabelecimento da avaliação do grupo."

 

A Knight Vinke, dona de cerca de 1,5% do Carrefour, enviou a carta ao conselho de administração da empresa, após a imprensa noticiar que a varejista negociava fusão com o Pão de Açúcar no Brasil. O Carrefour não quis comentar o assunto e o Pão de Açúcar negou que houve contatos. Florence Baranes-Cohen, porta-voz da Carrefour, não quis comentar a carta da Knight Vinke.

 

"Os termos do projeto de fusão do Carrefour Brasil com o Pão de Açúcar ainda não são conhecidos pelo mercado, mas essa transação já levanta certo número de questões que são de preocupação dos acionistas", escreveu a Knight Vinke, na carta. O acionista acrescentou que deseja manter um "diálogo construtivo" com o conselho de administração do Carrefour.

 

O Carrefour contratou o Lazard para estudar a fusão entre sua unidade brasileira e o Pão de Açúcar, segundo noticiou o "Journal du Dimanche" neste mês.

 

O Carrefour adiou neste mês o plano para desmembrar 25% de sua unidade de propriedades imobiliárias na França, Itália e Espanha, depois de enfrentar a oposição de acionistas encabeçados pela Knight Vinke. Desmembrar essa unidade dificultaria adotar estratégias alternativas, caso o plano de remodelar as operações francesas da varejista não tenha sucesso, escreveu a Knight Vinke, em carta de 11 de abril enviada ao conselho do Carrefour.

 

A rede varejista informou que continuará os preparativos para desmembrar e listar ações da unidade imobiliária. O Carrefour também prossegue com o plano para ofertar 100% de sua rede de descontos Dia, em operação prevista para julho, em Madri. A Knight Vinke apoia o desmembramento do Dia, afirmou o executivo-chefe da acionista, Eric Knight, ontem.

 

O executivo-chefe do Carrefour, Lars Olofsson, perdeu credibilidade no mercado, após emitir dois alertas sobre os lucros em 2010 e ver a saída de dois altos executivos neste ano, segundo Eric Knight.

 

A Knight Vinke quer certificar-se de que "as tensões não destruam a companhia", disse Knight.

 

Olofsson, de 59 anos, chegou ao Carrefour em 2009, após a rede francesa ter passado dez anos em que as vendas mal cresceram na França, seu maior mercado. Ele aposta a recuperação em um plano de 1,5 bilhão para remodelar 500 hipermercados na Europa Ocidental, na expectativa de que o novo formato, chamado de Carrefour Planet, com preços mais baixos e mais produtos de marca própria, impulsione as vendas e lucros até 2015. Neste mês, ele tirou o chefe das operações na França e assumiu o controle direto no país, depois de um primeiro trimestre apagado.

 

"A prioridade deveria ser fazer o Carrefour Planet funcionar", disse Knight. "Qualquer outra coisa é distração." Caso o Carrefour queira vender seus ativos internacionais, deveria estudar agrupá-los em uma unidade separada e listar suas ações, diz Knight. Ainda assim, Olofsson e sua equipe deveriam concentrar-se em recuperar as operações da varejista na Europa, afirmou.

 

Veículo: Valor Econômico

 

 

 


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