Acabou ontem à tarde a primeira reunião entre representantes da BRF - Brasil Foods e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) realizada após o adiamento do julgamento do caso. Segundo apurou a reportagem, após o encontro de cerca de uma hora não foi apresentada uma proposta formal pela companhia.
A empresa teria questionado quais deveriam ser os próximos passos no processo. A resposta foi no sentido de que sejam lidas com atenção as considerações feitas pelo relator Carlos Ragazzo, como lição de casa. Na semana passada, Ragazzo votou pela reprovação da fusão entre Sadia e Perdigão, que resultou na criação da BRF. Em seu voto, o conselheiro mencionou que a empresa teria apresentado uma proposta de acordo muito aquém do desejado, pois não minimizaria a concentração de mercado gerada pelo negócio.
A avaliação do conselheiro foi a de que a sugestão ficou "mais leve" do que a sugestão apresentada pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda. Há um ano, a Seae divulgou parecer recomendando ao Cade que aprovasse a fusão, desde que uma das marcas (Sadia ou Perdigão) fosse licenciada por cinco anos a uma terceira companhia, sendo essa a alternativa "A". Outra possibilidade - a alternativa "B" - seria a venda de marcas de "combate" como Batavo, Doriana, Claybom, Delicata, Rezende, Confiança, Wilson, Escolha Saudável e de ativos relacionados à produção de laticínios e congelados, entre outros.
Uma nova reunião entre as partes já foi pré-agendada para a próxima semana, embora a data exata ainda não tenha sido definida. Seguindo o regimento do Cade, o caso voltará para a pauta no dia 29 de junho. Até lá, a BRF tem condições de apresentar uma proposta que atenda a expectativa do órgão antitruste. Mesmo assim, o conselheiro Ruiz ainda tem direito de adiar o julgamento por mais uma sessão, levando o caso a plenário somente em 13 de julho. Ainda assim, o regime permite que uma nova prorrogação seja dada, desde que todos os conselheiros que participam do caso aprovem a decisão.
Joint venture - Neste primeiro momento, a BRF não avalia a sugestão hipotética apresentada por Ragazzo de criar uma joint venture específica para atuar no mercado externo. Neste caso, Sadia e Perdigão continuariam separadas no Brasil. A avaliação é de que esta possibilidade não traria os ganhos de eficiência gerados a partir da fusão completa das companhias. Essa vantagem da sinergia tem sido um dos argumentos da empresa de que terá condições de manter os preços baixos no país e competitivos no mercado internacional.
O vice-presidente de Assuntos Corporativos da BRF, Wilson Mello, afirmou ontem que o adiamento do julgamento da fusão foi positivo, porque a empresa terá mais tempo para tentar demonstrar aos conselheiros que pode existir uma solução negociada. "O que sempre buscamos junto ao Cade foi uma solução de consenso que pacifique a questão", disse.
Mello afirmou que "o momento é de ter calma, conversar com os conselheiros que não tiveram tempo de analisar corretamente o processo, entender as preocupações e atendê-los da melhor forma possível". Questionado sobre uma eventual reprovação da operação, o executivo declarou que a BRF teve a preocupação em respeitar o Acordo de Preservação de Reversibilidade da Operação (Apro). "Do ponto de vista do que foi assinado com o Cade, temos convicção de que cumprimos todos os deveres e os itens que nos foram solicitados."
Quanto ao que entraria nesse novo acordo com o Cade, Mello afirmou ser prematuro falar sobre os itens. "O que temos de fazer é identificar os problemas para achar os remédios necessários", afirmou.
O executivo disse que pode levar em consideração algumas alternativas apresentadas pelo relatório da Secretaria de Acompanhamento Econômico, mas frisou que não é o único documento em que se pode apoiar. "Mais do que discutir o voto do relator lido na semana passada, é preciso discutir a oportunidade que ficou aberta com o adiamento do julgamento, para encontrar uma solução pacífica", acrescentou.
Mello afirmou ainda que todos os argumentos já foram colocados no processo e não há necessidade de criar outros para convencer o Cade a aprovar a operação. "A empresa está de coração aberto para achar uma solução negociada", disse.
Veículo: Diário do Comércio - MG