Calçados: Governo promete investigar denúncia de triangulação

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O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, anunciou ontem que o governo federal pretende abrir processo ainda esta semana para investigar as exportações chinesas no setor calçadista. Em visita à 43ª Feira Internacional de Moda em Calçados e Acessórios (Francal 2011), em São Paulo, foi cobrada do ministro, da parte de produtores de calçados, uma prática que vem sendo comum entre os chineses, que é o uso de outros países para burlar as regras comerciais e exportar produtos conhecida como triangulação.

 

De acordo com o ministro, o processo será uma investigação em âmbito nacional e que pode resultar em um processo na Organização Mundial do Comércio (OMC). "O governo tem usado todas as medidas de defesa comercial previstas na OMC, mas não podemos ir além disso, porque o Brasil respeita os tratados internacionais", disse ele.

 

Em um rápido encontro com os calçadistas, o ministro ouviu as queixas do setor sobre essa prática chinesa, que tem resultado em demissões nas fábricas nacionais. No mês de maio, por exemplo, foram demitidos 3,5 mil trabalhadores, ainda que o varejo venha registrando aumentos consecutivos. Em 2010 o crescimento foi de 8%, e em 2011 a perspectiva de alta é de 5%.

 

Segundo o presidente da Associação Brasileiras de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, o governo precisa olhar para o setor, que hoje é responsável por 4,5 % dos empregos da indústria de transformação brasileira. "Somente nos cinco meses deste ano as importações chegaram a US$ 203 milhões, o que representa 40% a mais que igual período de 2010", comenta Cardoso.

 

Em sua opinião é inaceitável que as autoridades chinesas divulguem exportações da ordem de 13 mil toneladas (38 milhões de pares) para o Brasil em 2010, enquanto dados da Receita Federal brasileira mencionam a importação de pouco mais de 3 mil toneladas (9 milhões de pares).

 

Vale ressaltar que em 2010 o setor produziu 894 milhões de pares, correspondente a um valor de US$ 12,3 bilhões (R$ 21,7 bilhões), por meio dos cerca de 7,9 mil produtores em atividade.

 

Destes, 98% são micro e pequenas empresas, com menos de 250 funcionários em geral, e 2% são médias e grandes, que respondem por 735 do volume produzido. O setor calçadista encerrou o mês de maio deste ano com aproximadamente 365 mil trabalhadores na ativa.

 

Brasil é o terceiro maior produtor do mundo e o oitavo maior exportador de calçados, além de oscilar entre o quarto e quinto maior consumidor. Em 2010 o País exportou 143 milhões de pares a mais de 150 países, movimentando US$ 1,5 bilhão.

 

De janeiro a maio de 2011 as vendas chegam a 49,2 milhões de pares (queda de 29% em relação ao mesmo período de 2010), faturando US$ 551,8 milhões (queda de 12% em relação a 2010).

 

No Grupo Ramarim, as exportações representam de 5% a 7% da produção, com foco na Europa, Mercosul e nos Emirados Árabes. "Essa parcela é pequena, devido ao câmbio e ao momento positivo do mercado interno", acrescentou o diretor Administrativo da empresa, Jakson Wirth. Fator confirmado pela Rafarillo, indústria de calçados masculinos que deve produzir e manter 700 a 800 mil pares em 2011 no País.

 

Conforto

 

Como saída para enfrentar a concorrência dos importados, muitos fabricantes apostam na elevação da qualidade e do conforto, aumentando o valor agregado de seus produtos. É o caso da marca Comfortflex, que pertence ao Grupo Ramarim. Para o diretor Jakson Wirth, o segmento de calçados percebeu o anseio do consumidor brasileiro por um produto melhor, que combine conforto e design acompanhando as tendências da moda.

 

"Hoje o nível de tecnologia que atingimos permite a fabricação de produtos com estas características", explica Wirth. Conforme o executivo, isso permitiu à Ramarim desenvolver inovações como um polímero que permite a absorção de até 70% do impacto ao caminhar. A empresa mantém hoje três plantas distribuídas nas cidades de Nova Hartz e Sapiranga, no Rio Grande do Sul, e Jequié, na Bahia, onde trabalham cerca de 6,5 mil funcionários diretos. E para Jakson Wirth está na dificuldade de encontrar mão de obra qualificada o principal fator limitador do crescimento da produção, que este ano deve ficar em torno de 20%, assim como faturamento, com média de 60 mil pares por dia.

 

Já para o diretor Comercial da Pegada, Astor Rant, especializada em calçados masculinos, o foco no conforto sempre esteve presente na produção da empresa, que possui duas plantas, uma no Município de Dois Irmãos (RS) e uma em Rui Barbosa (BA).

 

Segundo Rant, a empresa deve manter sua média de crescimento anual de 22% empregando quase 2 mil funcionários diretos, e totalizando uma produção de 2,7 milhão de pares de calçados em 2011. "Nossa combinação de design e conforto nos permite vender para todo o Brasil e para outros 40 países", diz Rant.

 


Veículo: DCI


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