Até aspectos culturais podem complicar fusão "Carreçúcar"

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Novas ameaças rondam o plano de Abílio Diniz de fundir o Grupo Pão de Açúcar (GPA) ao Carrefour. O sócio Casino, cujo presidente, Jean-Charles Naouri, esteve ontem em Brasília, entrou com o segundo pedido de arbitragem contra a proposta de fusão. Também na capital, um grupo de políticos, composto por base aliada e oposição, convidou o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES), Luciano Coutinho, a explicar, hoje, a intenção da entidade de emprestar R$ 4,5 bilhões ao negócio.

 

Os responsáveis pelo requerimento são os senadores Ricardo Ferraço (PMDB-ES) e Álvaro Dias (PSDB-PR). Os parlamentares Acir Gurgacz (PDT-RO) e Ana Amélia (PP-RS) também se posicionaram contra o empréstimo. Enquanto o Legislativo se manifestava, ontem, por outro lado o Poder Executivo declarou, na voz do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), que não irá mais comentar o caso.

 

Se conseguir passar por cima das vozes dissonantes do governo e do próprio sócio, Casino, o empresário Abílio Diniz poderá encontrar novos problemas, lá na frente, quando tiver conquistado sua fusão. O choque entre diferentes culturas de varejo é mais um fator que dificulta e até inviabiliza a união entre as redes de supermercado Carrefour e Pão de Açúcar. Assim pensam especialistas em governança corporativa.

 

Para o sócio da Mesa Corporate Governance, Luiz Marcatti, os casamentos corporativos são sempre arriscados. "Toda vez que ocorre fusão, as partes se perguntam: qual modelo prevalecerá? Isso, internamente, gera disputa, abrindo conflitos", afirmou o especialista.

 

No caso do "Carreçúcar", Marcatti observou que há três focos de discórdia em potencial. O primeiro, na cúpula, envolve a nacionalidade das diretorias, que, se fundidas, teriam que se relacionar, numa integração de dirigentes franceses e brasileiros. "O jeito de conduzir os negócios é muito diferente", disse.

 

O segundo empecilho tem a ver com o tipo de gestão, centralizada numa companhia e descentralizada na outra. "Todo empresário que está a frente do seu negócio [como Abílio Diniz] cria laços com seus executivos. Enquanto numa multinacional [o Carrefour], a relação é diferente", explicou Marcatti.

 

Os problemas não chegam aos pontos de venda, pois "o jeito de tocar as lojas é parecido", mas afetam os cargos de média gerência e superiores. "O pessoal administrativo sentiria mudanças importantes com a fusão", afirmou o sócio da Mesa Corporate Governance, empresa especializada em due diligence, tipo de auditoria que busca compreender a cultura de uma companhia e prepará-la para fusões.

 

As divergências culturais, no caso de duas empresas que pretendem se tornar uma só, "ajudam a decretar o fim do processo de fusão", analisou Marcatti. "E um processo de fusão fracassado gera perda para os dois lados", concluiu.

 

Monopólio

 

Antes que as questões de cultura empresarial afetem a escalada de Abílio Diniz, barreiras jurídico-econômicas podem impedi-lo de construir o segundo maior império varejista do mundo. Quem acompanha o caso está atento à avaliação do Cade, que determinará se a proposta de fusão é é legal ou não.

 

"Acho muito pouco provável que o Cade aprove essa operação sem fortes restrições, que quase a inviabilizem", opinou o ex-secretário de Direito Econômico, órgão ligado ao Ministério da Justiça, José del Chiaro. O advogado observou que a concentração de caixas registradoras (levada em consideração pelo Cade) dos supermercados Carrefour e Pão de Açúcar chega a 80% em algumas cidades, como São Paulo.

 

Del Chiaro estimou que o julgamento do processo de fusão, se for levado adiante no Cade, deve demorar em média dois anos para ser concluído. "Devido ao tamanho do negócio, em qualquer lugar do mundo demoraria isso e haveria fortes restrições", disse o especialista.

 

Não faltam casos para ilustrar esta possibilidade: a Sadia e a Perdigão ainda enfrentam restrições e exigências do Cade para tornar legítima a fusão BR Foods, que ontem propôs ao órgão antitruste a venda de dez fábricas, dez centros de distribuição e todas as marcas controladas pela companhia - exceto Sadia, Perdigão e submarcas, como Chester e Nuggets. Ainda assim, o Cade pede mais concessões.

 

O advogado Valdo de Rizzo, especialista em fusões e aquisições, aponta para os problemas mais explícitos que a fusão "Carreçúcar" traria: excessivo poder econômico nas mãos de uma só empresa, perante fornecedores que perderiam poder de negociação; controle de preços, sem ameaça de perder clientes, no que diz respeito ao consumidor; e concorrência desigual.

 

No Rio Grande do Sul, o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Longo, declarou-se contra a união entre o Carrefour e o Pão de Açúcar. "Uma empresa com esse gigantismo vai impor preços", advertiu o representante, que teme consequências para o varejo, a indústria e os consumidores.

 


Veículo: DCI


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