Novo projeto de Abilio Diniz é ensinar Carrefour a fazer varejo mundo afora

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Para realizar sonho, fundador do Pão de Açúcar terá de enfrentar sócio Casino.

 

"Sonhar grande ou sonhar pequeno custa o mesmo preço." Essa é uma das máximas levadas ao grupo Pão de Açúcar pelo fundador, Abilio Diniz. Neste momento, o empresário, que começou em 1959 com um supermercado ao lado da doceria do pai, Valentim dos Santos Diniz, sonha em mostrar à rede Carrefour como conduzir o negócio de varejo.

 

Os sonhos de Diniz não devem ser subestimados. Ele levou a loja número 1, da Avenida Brigadeiro Luis Antônio, ao posto de maior rede varejista do país, com receita bruta de R$ 36 bilhões no ano passado. Além disso, tornou-se personalidade importante no mundo empresarial e bem relacionada com o governo.

 

E que ninguém duvide da disposição de Diniz para governar e gerir. Agora, para concretizar seu próximo desejo, está colocando contra a parede o sócio francês Casino, para quem se comprometeu a transmitir o controle do Pão de Açúcar em 2012 - os valores financeiros já foram quitados, o negócio teria agora o valor simbólico de R$ 1,00.

 

Diniz interpreta diferente o acordo fechado com o Casino, e não é só sobre se poderia ou não ter negociado uma proposta de combinação com o Carrefour. "Eu não vendi o controle. Vendi o direito de consolidação. A gestão ainda é minha", afirma ele, a respeito do contrato, que prevê sua permanência à frente do conselho de administração.

 

Qualquer coisa que se pergunte a Diniz, a resposta sempre trará elementos que evidenciam sua paixão por comandar o negócio que criou. Foi por isso que, em 2005, às vésperas de assinar o acordo com o Casino, ele foi até a França dizer que tinha desistido. "Não quero por pijamas em 2012", era o seu recado. A partir daí se desenhou sua continuidade na gestão.

 

Agora, tudo isso está ameaçado depois de ter aberto fogo contra o Casino. Diniz afirma que viu um lado do sócio, Jean-Charles Naouri, que desconhecia. O francês, por sua vez, alega que foi traído e que a proposta de combinação com o Carrefour é uma "expropriação."

 

Não é difícil, portanto, prever que a convivência dos sócios ficará difícil daqui para frente, caso o Casino diga mesmo não à proposta de fusão com o Carrefour.

 

Mas agora, com a reunião que avaliará o negócio marcada para 2 de agosto (a assembleia da holding Wilkes, controladora do Pão de Açúcar que abriga os sócios), Naouri terá de parar de se queixar da forma do negócio e avaliar seu mérito.

 

Apesar de ter criticado a estratégia de ampliar a atuação em hipermercados, o Casino terá de dar uma resposta definitiva sobre o negócio no dia 2 de agosto. Até o momento, todas as mensagens deixam no ar que sua resposta será uma negativa, mas não há uma declaração clara a respeito.

 

Já Diniz não acredita em outro fim que não o negociado. "Vai ter um final feliz", disse ele, sobre toda a discussão. Aposta que em algum momento o Casino vai sentar e conversar.

 

Só não está claro sobre o que exatamente irão negociar. Até o momento, os discursos são profundamente discordantes.

 

Diniz afirma que está disposto a dialogar sobre tudo, que é flexível, menos quando o assunto é controle. "Temos que sair do mundo da guerra e entrar no mundo dos negócios." Está aguardando o momento em que surgirem os argumentos do sócio para poder fazer contrapropostas.

 

O Casino diz que não quer nada além de controle, que não há interesse em outro ativo ou "presente" que possa ser colocado na mesa.

 

Ambos querem o controle do Pão de Açúcar e nenhum se dispõe a vender o que tem. Diniz não quer sair pela ligação com o negócio. Naouri, por sua vez, porque alega já deter o controle.

 

Só há um ponto em que ambos concordam oficialmente: que a decisão se encerra em Wilkes. Porém, um não acredita no outro. Diniz afirma que se o Casino não quiser, o negócio não sai. Ao mesmo tempo, recusa-se em acreditar nesse desfecho. O Casino repete exaustivamente que é em Wilkes que as definições devem ser feitas e se recusa a admitir que possa existir um caminho diferente desse. Contudo, todo o tempo, se esforça para garantir compromissos de cumprimento do acordo.

 

Toda a estrutura montada até o momento aponta que estão preparando a artilharia para a guerra. É justamente o "dia seguinte" a 2 de agosto que os investidores temem.

 

Predomina a crença que tudo isso é apenas o começo de uma longa disputa societária. "Nunca vi empresa ganhar dinheiro ou dar dinheiro para os investidores quando os sócios estão brigando", resumiu um gestor de fundo.

 


Veículo: Valor Econômico


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