Concentração de lojas do mesmo ramo é estratégica

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A concentração de lojistas de determinados setores em avenidas, ruas e regiões de Belo Horizonte - como acontece no Barro Preto (Centro-Sul) e Prado (Oeste), com várias confecções, e na avenida Silviano Brandão (Leste), com revendas de móveis - é positiva para os comerciantes que atuam nesses locais e, de longe, representa uma ameaça sob a chancela de formação de cartel segundo especialistas ouvidos pela reportagem.

 

Para o professor da Faculdade de Tecnologia do Comércio (Fatec), José Luciano Silveira Furtado, um dos maiores fatores de sucesso para lojas concentradas em corredores de compras ou polos é a facilidade de acesso. Ele explica que o cliente tende a não desviar do caminho habitual para procurar um produto e que, no caso dos aglomerados, ele tem a garantia de encontrar esse item "se não em uma loja, em uma ao lado ou em frente".

 

Ele destaca, ainda, que essa "setorização" de determinada avenida ou região é uma grande vantagem para o lojista, pois atrai o cliente e ficam a cargo do empresário apenas duas outras tarefas: conquistar o consumidor e mantê-lo. "O que o lojista tem que ter é o diferencial competitivo. Ou seja, aquilo que a concorrência não tem e vai demorar a ter. Combinar preços (cartelização) está fora de cogitação."

 

Para o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte (Sindilojas-BH), Nadim Donato Filho, quem ganha mais com o comércio concentrado é o consumidor. Ele afirma que os famosos corredores de compras da Capital facilitam aos clientes encontrar os produtos, negociar preços e ainda faz com que eles ganhem tempo.

 

"Quem busca móveis, por exemplo, recorre à avenida Silviano Brandão. Esses consumidores costumam se deslocar de carro e é um tipo de compra que demanda tempo e pesquisa. Então, os lojistas localizados naquele corredor têm vantagem sob os que ficam isolados em outros pontos. Para lá, o consumidor vai disposto a gastar tempo, circular entre as lojas", diz Donato Filho.

 

Polo da Silviano Brandão reúne 104 lojas que faturam cerca de R$ 80 mil/mês
Móveis - Segundo o primeiro vice-presidente executivo da Associação dos Lojistas e Representantes de Móveis de Minas Gerais (Alormov), José Oscar Pinto, o polo da Silviano Brandão reúne 104 lojas que faturam, em média, R$ 80 mil por mês cada, totalizando um volume de negócios de R$ 8,32 milhões em 30 dias. Ele afirma que a concorrência acirrada como a desse polo, entre mais de 100 lojas, torna a disputa mais leal. "O que é bom para o consumidor", observa.

 

Ele lembra, ainda, que no setor moveleiro existe uma organização muito grande da carta de clientes e que, na Silviano Brandão, esses portfólios variam entre classes B, C e D. "Cada loja busca um tipo de público, elas são organizadas e focam seus trabalhos", avalia. Pinto informa ainda que lojas voltadas ao público de classe A também estão surgindo na avenida.

 

Confecções - O presidente da Associação Comercial do Barro Preto (Ascobap), Marco Polo Viriato Rolim, destaca que a grande oferta de produtos nos corredores de compras são vantajosas para o cliente, pois ele ganha tempo, conseguindo todo o leque de produtos em um só local. "Lojistas que querem compor seus estoques buscam o Barro Preto por saberem da grande concentração de comércio atacado de moda na região. Lá eles encontram produtos variados, são muitas as opções de fornecedores, e gastam menos tempo do que se precisarem transitar entre lojas espalhadas pela cidade", explica. Ele calcula que o polo do Barro Preto reúna mais de mil lojas do setor têxtil, entre confecções, armarinhos, oficinas de costuras, entre outras.

 

Rolim afirma que a grande concorrência é uma vantagem, inclusive para os lojistas, já que aumenta o fluxo de pessoas na região. Ele informa que circulam pelo Barro Preto cerca de 300 mil pessoas por dia.

 

O ramo de autopeças também possui um corredor de compras. A avenida Pedro II, na região Noroeste de Belo Horizonte, reúne cerca de 250 estabelecimentos do setor. Por ela passam cerca de 200 mil pessoas diariamente. De acordo com o diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Automóveis e Acessórios de Belo Horizonte (Sincopeças-BH), Cléber Coutinho, a principal vantagem da concentração de lojas do ramo é a atração de clientes.

 

"O consumidor já sai de casa com a ideia de que vai encontrar o que precisa naquele local. Se não for em uma loja será na outra. E ele ainda tem a chance de comparar preços, o que é uma grande vantagem", observa.

 

Coutinho lembra, no entanto, que o polo está ameaçado. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) irá realizar obras de ampliação na avenida Pedro II e, para isso, precisará desapropriar alguns imóveis no local. "Corremos o risco de ter esse polo desintegrado. Se é necessário fazer a obra, que ela seja feita sem afetar o desenvolvimento econômico da região. O ideal seria que o polo fosse transferido para outro local, oferecido pelo poder público", diz.

 

Veículo: Diário do Comércio - MG


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