Segundo Gontijo, crise pode atrasar a entrada de sócio estratégico na ItambéSem perspectivas de conseguir a curto prazo um sócio estratégico para participar de seu projeto de fusão com outras cooperativas de lácteos, a mineira Itambé amplia seus investimentos para crescer ainda mais no Nordeste, região de onde já obtém cerca de 40% de sua receita estimada de R$ 2,1 bilhões.
Segundo o presidente da central de cooperativas, Jaques Gontijo, a Itambé deve abrir uma fábrica de produtos lácteos no Ceará até 2013. De acordo com ele, a instabilidade econômica internacional retarda a busca por um aporte de capital estimado entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhoes.
"Esta crise pode atrasar a entrada de um sócio, mas não necessariamente o futuro investidor será estrangeiro", disse. No início do ano, a Itambé contratou o braço internacional do Bradesco para encontrar o futuro acionista. "Ele terá 30% da nova empresa", comentou o executivo, que disse que depende desse aporte a união da Itambé com outras cooperativas, como a paranaense Confepar.
Originalmente, o plano de consolidação da Itambé era mais ambicioso. Há quase dois anos, a cooperativa começou a negociar uma fusão com as também mineiras Cemil e Minas Leite, além da goiana Centroleite e da Confepar. Apenas esta última se mantém no projeto.
A estratégia de crescer ainda mais no Nordeste já começou com a inauguração do centro de distribuição em Pará de Minas (MG) ontem, onde a Itambé já conta com uma linha de produtos frios, como achocolatados e iogurtes. Quando o investimento em Pará de Minas estiver concluído, nos próximos meses, a capacidade de processamento passara de 500 para mil toneladas de produtos por dia. "Vamos usar este crescimento da capacidade para atender o mercado nordestino, mas só vamos ganhar competitividade quando abrirmos a fábrica lá", afirmou Gontijo.
A Itambé quer abrir a fábrica no Ceará por entender que a Bahia pode ser atendida pela unidade mineira. "Vamos investir cerca de R$ 60 milhões. O governo do Ceará irá participar fomentando os produtores a melhorarem sua produtividade. Vamos precisar de uma rede de 500 fornecedores de leite para essa futura unidade", disse.
Até certo ponto, a unidade cearense será abastecida com produtos mineiros que serão transportados pelo modal rodoviário. "Certos achocolatados podem ser feitos com leite em pó que continuaremos trazendo de Minas. O Nordeste há quatro anos aumenta o consumo de leite em ritmo chinês, de dois dígitos anuais. O grande desafio em investir lá é a baixa produção rural", afirmou Gontijo.
A opção pelo Nordeste reflete também a estratégia da Itambé de não apostar em crescimento em São Paulo, onde conta com participação regional abaixo da sua fatia no mercado nacional, que é de 4%. "Em São Paulo a concentração do mercado consumidor é enorme, com as grandes redes varejistas exigindo descontos que tornam difícil a entrada no mercado", comentou o executivo.
Em 2009, Gontijo chegou a anunciar a implantação de uma unidade em Brodósqui (SP), mas desistiu do projeto quando o governo mineiro anunciou incentivos fiscais para a cadeia produtiva do leite. A Itambé é a terceira maior captadora de leite no país, com um processamento anual da ordem de 1,1 bilhão de litros.
Veículo: Valor Econômico