Sucesso de campanha da Nissan provoca reclamação no conselho de publicidade
A tática de marketing da montadora japonesa Nissan, que bate na concorrência nas mensagens publicitárias para chamar a atenção, funciona. As suas vendas cresceram 85,7%, de janeiro a julho, em um mercado que cresceu 8,2% no mesmo período, segundo o levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Esses números podem justificar a cascata de reclamações, cerca de 30, feitas no Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e que deram origem ao processo que será julgado na próxima reunião da entidade, marcada para 1.º de setembro, como informou ontem a coluna de Sonia Racy.
Os consumidores protestam contra o comercial da picape Frontier. Intitulado "Pôneis malditos", e marcado por uma musiquinha que "gruda" na cabeça, a peça criada pela agência de propaganda Lew, Lara TBWA virou sucesso nas redes sociais. A estratégia de provocar a concorrência já levou outros comerciais da Nissan à suspensão pelo Conar.
Desta vez, os insatisfeitos reclamam do uso do adjetivo "maldito" aliado à doce figura de um pônei de animação, tido como referência do universo infantil. No comercial, um motorista fica furioso diante da caminhonete atolada e pragueja contra a potência do motor movido a "pôneis". O modelo da Nissan, com 172 cavalos não daria tal dissabor: "Você quer uma picape que tenha cavalos ou pôneis?", diz a campanha.
Fato. "Faremos nossa defesa no Conar embasados em argumentos", diz Márcio Oliveira, vice-presidente de operações da agência. "E, nesse caso, um fato incontestável é que o comercial já chegou a 5,7 milhões de acessos no portal YouTube com 90% de aprovação, não só por clicarem espontaneamente o símbolo Like, como pelos ótimos comentários. Isso demonstra que a grande maioria não se sente afetada ou ofendida."
Oliveira está bem acompanhado. Ontem, no final da tarde, o ranking do Trending Topics do Twitter, em São Paulo, apontava o protesto contra a ação no Conar contra os "Pôneis Malditos" entre as cinco assuntos mais comentados. Há manifestações divertidas, afinal, nessa toada, dizem, vão querer dar fim no "Lobo Mau", ou acabar de vez com a cantiga "atirei o pau no gato".
"Tenho duas gêmeas de quatro anos que adoram o filme da Branca de Neve, da Disney", conta o diretor da Lew, Lara. "Nele a rainha não só manda matar Branca de Neve, como pede que o seu coração seja trazido como prova da morte. Fora que a Cinderela é vítima de uma maldição."
Na avaliação pela origem e forma como as queixas foram lavradas, não dá para o Conar deduzir que houve orquestração de alguma ordem. Seja da concorrência divisando enfraquecer a comunicação da Nissan, seja da empresa interessado em bombar a campanha. Como de praxe, o Conar abriu processo diante do volume de solicitações negativas.
Veículo: O Estado de S.Paulo