O varejo de eletrodomésticos está com as negociações paralisadas com a indústria devido às possibilidades de aumento dos preços dos produtos com presença de componentes importados, com a variação cambial, e cujo aumento pode não ser absorvido pelos consumidores, mais cautelosos neste final de ano. Por isso, players como Casas Bahia, Ponto Frio, Magazine Luiza, Lojas Colombo, Ricardo Eletro e Lojas Cem ameaçam suspender a compra dos fornecedores que estiverem reajustando os preços em função da volatilidade aguçada do dólar.
A Lojas Colombo, formada por 371 lojas nas Regiões Sul e Sudeste, disse ao DCI que, apesar de não ter recebido nova tabela da indústria, "os fabricantes, principalmente os de itens de informática, suspenderam as vendas ao varejo em função das oscilações do dólar, pois os preços ficariam impraticáveis". Segundo Adelino Colombo, presidente da companhia, a alternativa encontrada pelos fornecedores é esperar a situação se estabilizar e só depois ir à mesa de negociações com redes varejistas. A última compra da rede gaúcha foi feita sem reajustes.
Apesar disso, a Colombo afirma ter produtos de informática em estoque e esperar que as vendas da indústria de informática sejam retomadas a fim de que a rede esteja abastecida para as vendas de fim de ano. Em relação aos demais itens eletroeletrônicos, o dirigente disse que, por enquanto, não falta nada. "Hoje, a situação econômica é mais preocupante, em virtude da valorização do dólar frente ao real. Isso pode ter repercussão no varejo pelo fato de a indústria de eletroeletrônicos depender de produtos e de insumos importados", avaliou Colombo.
A projeção de vendas para o Natal deste ano, por outro lado, não será afetada pela turbulência financeira internacional, na opinião do executivo, para quem ainda é aguardada alta real de 12% nas vendas em relação a 2007, quando a varejista obteve R$ 1,2 bilhão de faturamento. "O movimento dos mercados ainda não influenciou os negócios da empresa, mas estamos cautelosos e atentos", analisou o empresário. Em 2009, o presidente espera alcançar receita de R$ 1,5 bilhão. Na próxima segunda-feira, a Lojas Colombo começará a operar a rede Bernasconi, de São José dos Campos (SP). A compra foi concluída em setembro, o valor não foi revelado, e as 31 lojas continuarão a funcionar sob a mesma marca.
Declínio
Alguns empresários do setor, como Luiza Helena Trajano, superintendente do Magazine Luiza, acreditam que as vendas do setor poderão ser atrapalhadas pelo do cenário mundial. Recentemente, em Fortaleza (CE), a comandante da terceira maior rede de eletroeletrônicos e móveis do País declarou que "o setor deve diminuir suas previsões de faturamento em até 12%".
Caso ocorra queda nas vendas e parte dos produtos fique estocada, a expectativa é de que o mês de janeiro seja repleto de liquidações. Caso contrário, se o Natal for aquecido, como esperam os varejistas, poderá faltar itens nas prateleiras no início do próximo ano.
Por hora, a rede de Franca (SP) mantém a perspectiva de aumento no faturamento em 2008 e a continuação do plano de inaugurar mais 30 lojas na Grande São Paulo até o final de 2009.
De acordo com Luiza Helena Trajano, o sucesso da varejista deve-se à rigidez no fluxo de caixa, tanto que está otimista para o Natal, com previsão de acrescer em 30% as vendas, se comparadas com o resultado do mesmo período do ano passado. Pelo menos, este é o clima sentido em várias unidades do Magazine em São Paulo, onde os funcionários estão empolgados com as metas.
Entretanto, segundo apurou o DCI, a rede tem enfrentado alguns problemas logísticos devido a uma falha no sistema de informática do centro de distribuição de Louveira (SP), que ocasionou atraso na entrega de mercadorias a uma parte dos clientes que fizeram compras na semana da inauguração das lojas na capital paulista. Questionado pela reportagem, o Magazine Luiza disse que não falaria sobre o assunto, pois o executivo da área está há pouco tempo no cargo.
Alerta
Também nesta semana, Michael Klein, diretor executivo da Casas Bahia, afirmou que a empresa está tomando providências para não ser surpreendida pela crise. Uma delas é interromper temporariamente as compras dos fornecedores que reajustarem os valores das mercadorias em função da alta do dólar.
"Deixamos de comprar dos fornecedores que estão subindo os preços. A minha preocupação é com o poder aquisitivo da população", revelou o empresário da maior varejista do setor no País, que prevê faturar R$ 14 bilhões este ano. O executivo apontou de que os reajustes propostos por algumas empresas são de 10% a 30%, dependendo do peso do componente importado.
Veículo: DCI