Alguns indicadores do trimestre ficaram abaixo do esperado por analistas e grupo busca novas formas de reduzir custo e ampliar sinergias
Uma série de medidas já tomadas e de futuras ações foram anunciadas ontem pela Hypermarcas em paralelo à publicação dos resultados do segundo trimestre do ano. Ao mesmo tempo em que divulgava os indicadores, alguns abaixo das estimativas de analistas, a companhia fornecia dados detalhados sobre decisões tomadas para voltar a colocar a companhia num ritmo de crescimento mais acelerado.
Foi uma forma de se posicionar num momento delicado para o grupo, com perda de participação de mercado e necessidade de rever projeções de desempenho.
Maior indústria nacional de consumo, a Hypermarcas sentiu a desaceleração da demanda interna em 2011. Em maio a empresa já comentava sinais de desaquecimento, mas agora eles se aprofundaram. Nas últimas semanas, depois que a Natura admitiu piora do ambiente econômico, a atenção se voltou para a Hypermarcas, e passou-se a colocar no valor dos papéis ON essa expectativa de crescimento menor. No acumulado do ano, o papel do grupo perdeu 49,6% do valor e as ONs fecharam ontem em R$ 11,68 - alta de 3,64% em decorrência do programa de recompra de ações anunciado.
Segundo balanço publicado pela empresa, a receita líquida alcançou 936,6 milhões de abril a junho, alta de 25,4 % (valor 7% abaixo da estimativa do Raymond James e 3% menor do que previu o Goldman Sachs). O lucro líquido de R$ 53,3 milhões no mesmo intervalo cresceu 19,4% - que representa um lucro por ação quase sem crescimento sobre igual período de 2010, segundo a Planner. No acumulado do primeiro semestre, o lucro líquido da empresa, de R$ 86,2 milhões, caiu 13,6% em relação a 2010. A Planner revisou o preço-alvo do papel para o final de 2012 de R$ 25,15 para R$ 16,50, mas manteve recomendação de compra do papel.
Ao comentar o desempenho, a companhia fez uma análise baseada em indicadores macroeconômicos. "Os sinais que a gente percebe, e embalagens é um bom indicador, é uma desaceleração importante do mercado. Clientes e companhias abertas já vem publicando resultados e comentando sobre isso. O que acontece é que as estatísticas ainda não pegaram isso, porque essa onda, esse tsunami, pega as empresas e os setores de forma diferente", disse Claudio Bergamo, presidente do grupo.
A unidade de negócios Farma obteve uma receita líquida de R$ 484,7 milhões, crescimento orgânico de 5,3% em relação ao segundo trimestre de 2010. Em termos de participação de mercado, a empresa manteve-se na faixa de 8%. Já a unidade de beleza e higiene pessoal apurou receita líquida de R$ 377,2 milhões, organicamente 3,4% menor do que de abril a junho de 2010.
Dados da consultoria Nielsen mostram perda de participação em vendas nos segmentos de adoçantes, hidratantes, desodorantes spray, esmaltes, cuidados faciais e fraldas infantis nos seis meses até junho. "São casos isolados, sem uma explicação única e a perda maior foi apenas em esmaltes."
De acordo com relatório do Raymond James, "as despesas com vendas, gerais e administrativas cresceram duas vezes mais que as vendas" de abril a junho. "Foi o ganho de margem bruta que permitiu que o Ebitda crescesse a uma velocidade maior que as vendas", relata o material do Raymond James assinado por Daniela Bretthauer e Marina Braga. O lucro antes de impostos, depreciações e amortizações subiu 38,6% e foi a R$ 220 milhões. A Hypermarcas informou a revisão do valor do Ebitda estimado para 2011 de R$ 1 bilhão para R$ 900 milhões.
Na busca de uma reversão desses indicadores, e principalmente de crescimento a longo prazo, o grupo anunciou várias ações.
Criou dois projetos (batizados de Matrix e Magnum) para consolidar a integração dos negócios de consumo e farmacêutico. O projeto Matrix, por exemplo, trata da concentração do braço de cosméticos na unidade da empresa em Senador Canedo (GO). Dessa forma, a Hypermarcas tenta ficar mais "compacta", como diz Bergamo. A companhia ainda informou ontem que decidiu implantar o projeto Orçamento Base Zero a partir de 2012, que aumenta as economias e melhora a produtividades. Também informou que tem ampliado a venda direta ao varejo, que reduz custos. E deu detalhes de ganhos de sinergia com as aquisições. "Projetos implantados para obtenção de sinergias somaram R$ 217 milhões de janeiro a junho. A maior parte do que estava para ser feito, foi feito", disse Martim Mattos, diretor financeiro.
Veículo: Valor Econômico