Rei da mortadela, Ceratti desembarca no varejo francês

Leia em 6min 40s

Fabricante disputará as gôndolas com clássico presunto de frango consumido no país; mercado de food service ganha espaço no Brasil

 

Quando o imigrante italiano Giovanni Ceratti começou a produzir, na São Paulo constitucionalista de 1932, embutidos tradicionais de seu país como o codeguim, a panceta e o zampone, seu objetivo era satisfazer os paladares saudosos dos conterrâneos. Oito décadas depois, seu neto Mario Ceratti, que dirige a empresa de R$ 120 milhõesemfaturamento, prepara o embarque para a França, nos próximos meses, de alguns contêineres de presunto de peito de frango produzidos no interior do estado.

 

O objetivo é abastecer supermercadistas franceses com um clássico local, o jambón poulet, composto por 100% de peito de frango, menos de 2% de gordura, água e sal.

 

As negociações estão sendo conduzidas por um distribuidor francês que abastece supermercados de seu país e já importava o peito de frango do Brasil para produção local. Contudo, o empresário buscavaumproduto de qualidade a um preço inferior ao item processado na França. Com a fábrica de Vinhedo (SP), que é certificada para atender as normas da Comunidade Europeia, a Ceratti está habilitada a iniciar as exportações para o país.

 

Hoje a companhia é inteiramente focada no mercado interno, com exceção de uma joint venture estabelecida em 2001 com um empresário japonês que produz na terra do sol nascente a mortadela Ceratti com carne australiana e um condimento preparado em Vinhedo à base de alho, pimenta e gengibre.

 

Como o Japão não aceita carne brasileira, a produção da mortadela Ceratti feitaemHamamatsu, no sul de Tóquio, é pouco representativa para o negócio da família ítalo-brasileira. Enquanto a operação japonesa produz 150 toneladas do embutido por ano, a unidade brasileira fabrica cinco mil toneladas.

 

Já as vendas do jambón poulet poderão engatar rapidamente. A ideia é que o produto seja vendidocomomarca própria de varejistas na França. “Metade dos domicílios daquele país é individual. Na volta do trabalho, os franceses passam no supermercado de bairro e compram uma embalagem com duas fatias de jambón poulet e o consomem com pão. Este é um produto de alta saída lá”, afirma Ceratti. Por aqui ainda é uma novidade. A fabricante colocou o frio nas geladeiras de alguns varejistas no segundo semestre de 2010.

 

Este é apenas um exemplo de como a Ceratti, empresa familiar que virou sinônimo de mortadela em São Paulo, está se movimentando para ir além do tradicional embutido. Não que a empresa tenha mandadoumde seus produtosmais vendidos para a geladeira. Mas, diante do aumento do poder aquisitivo do brasileiro que passou a comer mais na rua e a torcer o nariz para a mortadela com seu estereótipo de “proteína de pobre”, a Ceratti resolveu engordar seu portfólio de produtos voltados ao varejo e também ao canal de food service.

 

Briga das mortadelas

 

O fato é que 70% de toda mortadela vendida no país hoje custam por volta de R$ 3 o quilo e é composta principalmente pelas marcas Sadilar e Searela. Já a Ceratti atua em um nicho mais premium, que responde por apenas 5% de toda mortadela consumida no país, custa a partir de R$ 20. Os 25% restantes são de embutidos que saempor volta de R$ 8 o quilo. “No passado, a mortadela respondia por 70% de nossas vendas. Hoje está em 50% e a tendência é que este percentual caia. Não porque está havendo um consumo menor de mortadela, mas porque estamos ampliando nossa linha de produtos”, avisa Ceratti.

 

O consumo brasileiro de mortadela saltou de 180 mil toneladas por ano em 2003 para 400 mil em 2010. O desafio é fazer com que o comprador migre das mortadelas baratas para as caras. Mas quando o consumidor ganha poder aquisitivo, a migração ocorreemdireção a outrosembutidos e até mesmo para a carne. “Queremos que o consumidor aspire a mortadela premium da mesma forma como ele sonha em ir da cachaça para o uísque.”

 

A Ceratti briga agressivamente com a Sadia. O dono da marca garante, contudo, que seu produto é o único premium nacional. “Em qualidade, concorrentes são só os importados. O restante veste a roupa de premium, mas entrega um produto médio.”

 

“Queremos que o consumidor brasileiro aspire a mortadela premium da mesma forma que ele sonha ir da cachaça para o uísque

 

Sabores da Itália para agradar enorme colônia mediterrânea no Brasil

 

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a ascensão do Fascismo levaram Giovanni Ceratti, filho de uma modesta família e dirigente do Sindicato dos Ferroviários, a abandonar Castelmassa, na província de Rovigo, no norte da Itália, e seguir para São Paulo, onde alguns amigos e parentes já viviam. Foi assim que, em 1921, ele desembarcou no Brasil.

 

Um de seus primeiros empregos foi no Mercado Municipal de São Paulo, onde aprendeu a desossar carne.

 

Com espírito empreendedor, Ceratti acabou abrindo um açougue no, então, distante bairro do Ipiranga, onde as famílias costumavam pegar bonde para ir fazer convescote aos domingos. Com o número crescente de italianos em São Paulo e seu respectivo enriquecimento, Ceratti percebeu que eles sentiam muita falta dos produtos embutidos italianos. Foi assim que ele percebeu que industrializar a carne era mais rentável que vendê-la in natura.

 

O açougue foi fechado e uma indústria, aberta no Ipiranga, onde itens como a mortadela passaram a ser produzidos. Desde aquele tempo, Ceratti optou por apostar na qualidade e não na relação preço versus volume. A fábrica funcionou até 2004, sendo posteriormente transferida para uma área maior em Vinhedo, no interior paulista.

 

Companhia investe em nova fábrica

 

A unidade industrial que a Ceratti mantém em Vinhedo (SP) é certificada para exportação de produtos para a Comunidade Européia, o que é bom para o negócio da família ítalo-brasileira. Contudo, pela rigidez das normas, a certificação acabou engessando os braços dos Ceratti, que para atender outras demandas do mercado interno optaram pela construção de uma segunda fábrica. Instalada nas proximidades de Jundiaí (SP), a nova unidade iniciou sua operação agora e será desenvolvida por fases.

 

“Esta fábrica combinará produtos de alto valor agregado com serviços”, explica Ceratti. Isso significa que a empresa poderá entrar em novas categorias como a de carne limpa, fracionada e etiquetada ou até mesmo queijos fatiados e sanduíches prontos.

 

Picadinho

 

Em dois anos, a promessa de Ceratti é colocar uma série de produtos novos no varejo e no canal de food service, voltado a bares, restaurantes, hotéis e lanchonetes. “Poderei ter carne temperada, moída, na forma de espetinho ou até mesmo pronta para fazer um picadinho. A gente vai manter o premium e a especialidade”, diz o empresário. A BRF Brasil Foods, garante Ceratti, não consegue chegar ao nicho que ele alcança por conta de seu tamanho. “Eu sou o cara que entrega três quilos de salsicha para um açougue na Penha, na Zona Leste de São Paulo, em 24 horas. A Brasil Foods teria que mandar vir a salsicha de Concórdia (SC) ou verificar no centro de distribuição. Ou seja, não tem a agilidade que tenho. Não conseguem atender bem o pequeno varejista.”

 

No momento, a nova fábrica de Jundiaí está desossando e porcionando um pouco de carne bovina e suína. O foco é crescer no canal de food service, que hoje responde por 5% do faturamento de R$ 120 milhões atingido em 2010. Entre os clientes atendidos hoje pela Ceratti estão a Domino’s Pizza e o Habib’s.

 


Veículo: Brasil Econômico


Veja também

Carrefour demite 800 funcionários no país

O Carrefour, varejista francesa e uma das maiores redes de supermercados no Brasil, dispensou 800 funcionários de...

Veja mais
Estoques altos de eletrodomésticos preocupam setor

Varejistas ameaçam adiar as compras para o Natal, enquanto fabricantes buscam estratégias para desovar pro...

Veja mais
Alimento orgânico mais barato

Alimentação saudável está mais acessível ao bolso dos brasileiros. Há cinco an...

Veja mais
Bauducco e Unilever irão juntas aos supermercados

Em outubro a Bauducco e Unilever (Ades) estarão juntas nas gôndolas dos supermercados. Maricy Gattai, geren...

Veja mais
Dânica marca sua presença na Tecnocarne 2011

Presente há 36 anos no mercado, líder no segmento de câmaras frigoríficas, salas limpas, cons...

Veja mais
Site amigo do consumidor

Analistas lançam o Mais Preço, ferramenta de busca de preços de medicamentos.   Com o objetiv...

Veja mais
Colheita da safra reduz cotação do café em Minas

O ingresso da nova safra de café no mercado provocou queda nas cotações do grão. Na compara&...

Veja mais
Empresas terão ônus de até R$ 2,7 bi por ano com novo aviso prévio, diz estudo

A mudança na regulamentação do aviso prévio pode aumentar os custos das empresas nacionais e...

Veja mais
Coca-Cola treina jovens e vendas sobem dois dígitos

Projeto inédito da múlti alia programa social a metas comerciais   A jovem Tainara Maria de Jesus, ...

Veja mais