Varejistas ameaçam adiar as compras para o Natal, enquanto fabricantes buscam estratégias para desovar produtos
A desaceleração das vendas de eletrodomésticos faz a velha queda de braço entre varejo e indústria ganhar novos capítulos. Este ano os fabricantes fizeram projeções otimistas baseadas nos grandes volumes comercializados em 2010, mas o mercado não respondeu à altura, principalmente no segmento de linha branca (geladeira, fogões e lava-roupas). Nos pedidos feitos em junho e julho a indústria chegou a conceder descontos, mas como não alcançou o patamar de vendas esperado, agora tenta aumentar o preço.
O varejo, por sua vez, reluta e ameaça adiar a programação de compras para o Natal. Enquanto isso, para evitar estoques altos, o fabricante estende prazos de pagamento e aumenta a distribuição de benefícios como, por exemplo, os tradicionais enxovais (remessa de mercadorias grátis para lojas recém-inauguradas). “Consegui boas negociações em junho e julho pois a indústria estava com estoque. Agora, eles querem aumentar o preço. Estamos fazendo alguns ajustes e esperando para ver como o mercado vai reagir à crise. Vamos adiar em 30 dias nossa programação de compras para o Natal”, afirma Eduardo Begamaschi, gerente de compras da Gazin, varejista de eletrodomésticos do Paraná.
Dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) mostram que as vendas de eletrodomésticos e eletroeletrônicos caiu 24,8% em junho, na comparação com o mesmo mês de 2010. No acumulado do primeiro semestre, a queda foi de 9,4%. “A indústria está com estoque razoavelmente no nível, a produção industrial caiu. O comércio não está muito estocado porque ainda está conseguindo vender, por conta da massa de salários e do crédito. Mas algumas áreas, como a de linha branca, onde o Banco Central já endureceu no crédito, começam a sofrer um pouco mais. O que segura é o emprego”, diz Carlos Thadeu de Freitas, economistachefe do Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Revisão
A Latina, fabricante de eletrodomésticos, registrou aumento de 2% nas vendas de janeiro a junho, mas com queda na margem de lucro. “O segmento de linha branca está há 22 meses sem aumento. Precisamos repassar os novos preços para o varejo”, afirma Valdemir Dantas, presidente da companhia. A Latina iniciou o ano com expectativa de crescimento de 8%, mas em função do ritmo de vendas no primeiro semestre, já revisou a meta para metade.
“A indústria fez projeção de crescimento acima do que o varejo estava enxergando”, diz Ubirajara Pasquotto, presidente da Cybelar, varejista do interior de São Paulo. O empresário afirma que este erro tem permitido uma negociação mais planejada. “Sabemos que há disponibilidade de produtos, portanto estamos mais tranquilos para negociar”, diz. Quem também está tirando vantagem da situação é a Mercado móveis, rede de lojas do Paraná. A companhia conseguiu enxoval da indústria para as 30 unidades que serão inauguradas este ano. “No ano passado abrimos 25 pontos de venda, mas ganhamos o benefício apenas para 15 lojas”, diz o presidente da empresa, Márcio Pauliki.
Veículo: Brasil Econômico