Sem clima de festa na Faber-Castell

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Em meio à comemoração de 250 anos da empresa, sócios brigam no Brasil

 

O conde Anton Wolfgang von Faber-Castell, controlador da maior fabricante de lápis do mundo, chega ao Brasil amanhã para uma festa privada, no Jockey Clube de São Paulo, para celebrar os 250 anos da companhia alemã. Mas, na subsidiária local, o clima não é só de festa. Quatro famílias brasileiras, donas de 30,95% do capital da Faber-Castell Brasil, foram à Justiça acusar o controlador de violar o direito dos minoritários e de administrar a companhia de forma pouco transparente.

 

Em novembro de 2010, o conde von Faber-Castell enviou notificação aos sócios brasileiros informando que não iria renovar o acordo de acionistas

 

Os acionistas brasileiros procuraram os tribunais depois de saber que ficariam fora do Conselho Fiscal da empresa, que acabara de ser criado. Reunidos na Maracaju Administradora de Bens, eles exigem na Justiça a eleição de um representante nesse conselho, para acompanhar de perto os números da companhia. Pela Lei das S/A, o acionista com mais de 10% de participação tem direito de eleger um membro para o conselho. Na visão do controlador, a Maracaju não pode ser tratada como minoritária porque faz parte do bloco de controle. A Maracaju contesta: o acordo de acionistas não trata da questão do controle.

 

Com a negativa do controlador, os brasileiros decidiram partir para a briga. Procurado, o advogado da Maracaju não quis dar entrevista. Fontes ligadas à Faber-Castell, no entanto, enxergam nessa animosidade a intenção de pressionar o conde Castell a comprar as ações dos minoritários brasileiros. Motivo: o acordo de acionistas celebrado em 1992, do qual a Maracaju faz parte, diz que, se houver conflito entre os sócios, um pode vender sua parte ao outro por valores acima do mercado.

 

Esse contrato ainda está em vigor. Mas deixa de valer a partir de janeiro de 2012. Em novembro do ano passado, o conde enviou uma notificação aos sócios informando que não iria renovar o acordo de acionistas. Foi a partir daí, segundo essas fontes, que houve uma mudança de postura dos acionistas brasileiros.

 

Na ação, os minoritários relatam que ao longo deste ano vêm pedindo esclarecimentos sobre operações realizadas entre a companhia brasileira e aquelas controladas exclusivamente pelo grupo Faber-Castell. Segundo o Estado apurou, eles querem ter, por exemplo, mais detalhes dos empréstimos feitos da controlada (Brasil) para a controladora. Em nota à reportagem, o controlador afirma que as dívidas foram liquidadas em 2009.

 

Não satisfeitos com as respostas "evasivas" da direção, há dois meses, na última Assembleia Geral Ordinária da companhia, os brasileiros decidiram não aprovar as contas e as demonstrações financeiras do exercício encerrado em 31/03/2011.

 

Na assembleia, a diretoria da Faber-Castell se comprometeu a prestar esclarecimentos até o fim de agosto. Na mesma ocasião, por pressão dos sócios, foi criado o Conselho Fiscal. Procurada, a A. W. Faber-Castell S/A esclareceu que "a gestão da companhia sempre foi e é exercida na mais absoluta transparência, tendo todos os acionistas acesso amplo e irrestrito a todas as informações e documentos, que foram, são e serão sempre fornecidos devidamente".

 

Estratégico. O Brasil é a subsidiária mais importante da companhia alemã, que cresce mais do que outras. No ano passado, produziu quase 2 bilhões de lápis, que saem de duas das 14 fábricas que a Faber-Castell tem hoje no mundo. Só o Brasil emprega quase 40% da força de trabalho global. São 2,8 mil funcionários. A unidade brasileira produz mais de mil itens que abastecem o mercado interno e são exportados para mais de 70 países.

 

A Faber-Castell é uma empresa fechada. No Brasil, é uma S/A, obrigada a divulgar balanço. No ano passado, seu faturamento líquido foi de R$ 350 milhões. A empresa lucrou R$ 33 milhões - 25% desse valor foram distribuídos em dividendos para os acionistas, fatia considerada baixa pelos minoritários, segundo o Estado apurou.

 

A sociedade com os brasileiros é longa e com algumas reviravoltas. Em 1930, a Lápis H. Fehr, fundada por Germano Fehr, em São Carlos (SP), se juntou à alemã Johann Faber Ltda. Sete anos depois, a empresa resultante dessa fusão se uniu à L. Faber, de Campinas - fundada por um membro da família Penteado e seu sócio Luiz Faber. Ocorre que, na mesma época, a Johann Faber Ltda foi adquirida pela A.W. Faber Castell.

 

A história, no entanto, quase separou os sócios. Durante a Segunda Guerra Mundial, por decisão do governo brasileiro, os alemães perderam a participação na Lápis Johann Faber. Na época, a família Penteado (hoje na Maracaju) assumiu a gestão da companhia. Com o fim da guerra, a participação foi devolvida. Nos anos 50, a família Fehr saiu do negócio e a Faber-Castell passou a deter o controle. Desde então, os brasileiros têm cerca de 30% do capital. Há anos eles deixaram de participar diretamente da gestão, embora façam parte de alguns comitês e do conselho consultivo.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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