Crédito do Befiex compensa vendas fracas na Whirlpool

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A melhor arma da Whirlpool Corp. contra a anemia do consumo nos Estados Unidos não é um fogão ou geladeira ultramoderna. É o Befiex, um programa incentivo fiscal brasileiro para exportadores que têm equilibrado o lucro da empresa há cerca de cinco anos.

 

Uma pilha de deduções de impostos acumulada pela empresa nos anos 90 foi reforçada recentemente pela valorização do real, bem como pelos altos juros que a empresa acaba ganhando com os créditos. Este ano, os incentivos devem responder por cerca de um terço do lucro da fabricante dos eletrodomésticos Brastemp e Consul. Mas os créditos - que atualmente totalizam US$ 474 milhões, podem acabar já no ano que vem, levando embora um importante pilar para o lucro.

 

Desde 2005, a Whirlpool já usou cerca de US$ 800 milhões dos créditos fiscais para compensar os impostos de valor agregado que a empresa teria de pagar sobre os produtos vendidos no Brasil, o segundo maior mercado em vendas do grupo, atrás apenas dos Estados Unidos, onde tem sua sede.

 

"A Whirlpool conseguiu obter tantos créditos assim porque a popularidade de nossos eletrodomésticos e componentes é muito grande no mercado de exportações da América Latina", disse Jeff Noel, vice-presidente de comunicação corporativa.

 

As marcas Brastemp e Consul há muito vendem bem em toda a América do Sul. A Whirlpool também tem sido uma grande exportadora de compressores feitos no país, que são usados por fabricantes de eletrodomésticos em todo o mundo. A base forte de vendas no Brasil fez com que a companhia pudesse aplicar créditos de exportação contra o imposto a pagar, o que dá à Whirpool um benefício maior do programa do que outras empresas que têm uma combinação menos favorável de exportações e vendas domésticas no Brasil. A rapidez com que a empresa usa os créditos fiscais depende das vendas de eletrodomésticos no Brasil, assim como dos tipos de aparelhos vendidos.

 

A empresa sediada em Benton Harbor, no Estado de Michigan, passou vários anos defendendo seus créditos nos tribunais contra as acusações do governo brasileiro de que alguns deles eram inválidos.

 

Os lucros elevados no Brasil compensaram os fracos resultados da América do Norte, onde as vendas da Whirlpool no ano passado ficaram 17% abaixo do pico atingido em 2007, e o número de unidades vendidas ficou quase 20% abaixo do pico de 2006.

 

A Whirlpool, líder mundial do setor em faturamento, usou US$ 145 milhões em créditos fiscais do Brasil este ano e espera usar pelo menos US$ 250 milhões até o fim de 2011, o que representa cerca de US$ 3,50 por ação em lucro, ou 30% da projeção da empresa de US$ 12 a US$ 13 para o lucro total por ação este ano. Os créditos responderam por 40% do ganho anual por ação da Whirlpool em 2008 e representaram pelo menos 20% do lucro desde então, de acordo com o KeyBanc Capital Markets.

 

"Quando analisado em detalhes, é um ativo fascinante, mas finito", disse Kenneth Zener, analista do KeyBanc.

 

Os créditos de impostos nos EUA para eletrodomésticos que economizam energia devem acrescentar outros US$ 4 por ação ao lucro da Whirlpool este ano. A valorização do real e o avanço da inflação, no entanto, diferenciaram os créditos brasileiros de outros incentivos e créditos fiscais comuns.

 

Embora a Whirlpool tenha consumido muito de seus créditos do Befiex nos últimos anos, o câmbio favorável e os juros altos obtidos com os créditos que restaram foram suficientes para garantir o estoque de créditos fiscais da Whirlpool.

 

"Apesar de eles terem usado os créditos, o volume disponível cresceu", disse Laura Champine, analista da Cowen & Co. "É um pouco contra-intuitivo."

 

A alta do real em relação ao dólar aumentou o valor dos créditos a uma média de US$ 57,3 milhões por ano entre 2005 e 2010. O crescimento das exportações de produtos fabricados no Brasil, assim como de commodities como o minério de ferro, atraiu uma grande reserva de dólares, impulsionando o real na comparação com a moeda americana. Entre 2003 e o fim de 2010, o dólar acumula queda de cerca de 54% em relação ao real.

 

Os altos juros que corrigem os créditos não usados aumentaram em cerca de US$ 84 milhões por ano os créditos remanescentes.

 

A empresa informa que o Brasil respondeu por cerca de 70% de seu faturamento de US$ 4,2 bilhões na América Latina ano passado.

 

Com o ritmo atual, a Whirlpool vai exaurir os créditos restantes até o fim de 2012 ou começo de 2013. Além disso, a renovação dos incentivos nos EUA para as vendas de eletrodomésticos que economizam energia enfrenta uma forte oposição do Congresso.

 

"Há uma grande chance de que os lucros nos próximos dois anos venham a cair por causa do vencimento desses créditos", diz Sam Darkatsh, um analista da Raymond James.

 

À medida em que os incentivos acabam, os executivos da Whirlpool esperam reduzir as perdas com a melhora das margens operacionais, novos modelos de eletrodomésticos e a tão esperada retomada da demanda por esses aparelhos nos EUA.

 

A Whirlpool já reajustou os preços dos eletrodomésticos duas vezes este ano para compensar a estabilidade no volume de vendas de eletrodomésticos e os custos mais altos de matérias-primas, como o aço. Analistas esperam que a demanda do mercado melhore quando os créditos vencerem.

 

Veículo: Valor Econômico


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