Funcionais e orgânicos conquistam prateleiras

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Há pouco mais de uma década pensar em abastecer prateleiras inteiras com produtos orgânicos ou naturais sequer passava pela cabeça dos varejistas. Os chamados alimentos saudáveis ficavam restritos a empórios especializados e a restaurantes rotulados de 'naturebas'. Hoje, o cenário é bem diferente e o que antes era visto como desejo de poucos, agora é encarado como um excelente nicho de mercado, capaz de alavancar as vendas e fidelizar a clientela.

 

As estatísticas estão aí para comprovar. Levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (Abia) revela que o setor de alimentos funcionais - consumidos na forma de alimento comum, mas que trazem benefícios à saúde, como prevenção de doenças e melhora do bem-estar - crescem ao redor do mundo a uma taxa de 14% ao ano, enquanto as vendas de alimentos convencionais registram índices entre 3% e 4%. Dados da Health and Wellness Food Beverages in Brazil (Alimentos e Bebidas para a Saúde e o Bem-Estar no Brasil) mostram um crescimento de 81% desse segmento entre 2004 e 2009 no país, período em que o faturamento do setor passou de R$ 15 bilhões para R$ 27,2 bilhões. Mas talvez seja o universo dos produtos orgânicos o que revele os números mais expressivos, com uma receita em 2010 de R$ 350 milhões, 40% superior a 2009, segundo o Projeto Organics Brasil.

 

"Não se trata de um modismo, mas de uma tendência que veio para ficar e que tende a crescer a passos largos", afirma Lívia Barbosa, diretora de pesquisa do Centro de Altos Estudos da ESPM. "Trata-se de um movimento mundial."

 

Por aqui, apesar de os especialistas afirmarem que ainda estamos engatinhando, o cenário é bastante animador. Estudos do Euromonitor preveem que até 2014 o movimento do mercado brasileiro de alimentos saudáveis chegará a R$ 38 bilhões, com expansão de 39% em relação ao volume atual.

 

Criada em 1987, em Petrópolis (RJ), a Mundo Verde foi a primeira loja de produtos naturais a virar rede de franquias e a abrir unidades até no exterior. No início, atendia apenas a um nicho de consumidores, com oferta reduzida de produtos. Hoje, são mais de 150 lojas, 5 mil itens nas prateleiras, 100 mil pessoas atendidas por dia, um faturamento de R$ 180 milhões no ano passado e nada menos do que 800 fornecedores, entre eles, a catarinense Vitalin.

 

Nascida como exportadora, a pequena empresa de Jaraguá do Sul (SC), não titubeou em mudar literalmente de ramo em 2006, ao enxergar que havia uma carência de fornecedores de produtos naturais de qualidade. Deixou para trás 12 anos de experiência na área de exportação de cogumelos medicinais. "Fomos pioneiros na difusão dos atributos naturais de alimentos como quinoa, linhaça dourada e amaranto", revela Rogério Mariske, sócio da Vitalin. Hoje, são 27 produtos, entre eles, farinha e semente de linhaça dourada e marrom; quinoa, nas variações farinha, flocos e mista com grãos brancos e vermelhos, além de fibra de maracujá e aveia em flocos enriquecida com quinoa e amaranto em três sabores. "A grande novidade é o shake orgânico de quinoa e os achocolatados orgânicos com açúcar mascavo", diz o empreendedor. Com um crescimento de 30% ao ano, a Vitalin deve encerrar 2011 com um faturamento de R$ 6 milhões. Para driblar a concorrência no ponto de venda, a marca investe em degustações, distribuição de panfletos educativos além da presença de promotores nas lojas. "Nada bate a visita aos nutricionistas, porque são eles os grandes propagadores da alimentação natural", garante Mariske.

 

Para Enzo Donna, da ECD Consultoria de Food Service, tanto a Vitalin como a Mundo Verde conseguiram mostrar ao consumidor que produto natural tem sabor e pode ser atraente, ajudando a mudar o hábito alimentar dos brasileiros. "Foi seguindo essa filosofia que produtos como o iogurte funcional Activia ganharam a preferência dos consumidores e as dietas dos povos do Mediterrâneo se tornaram populares", afirma.

 

De olho no novo comportamento do consumidor diante das gôndolas dos supermercados, o empresário Edson Mazeto Júnior, 37 anos, decidiu ajustar a fórmula do único suco de cranberry - pequena fruta vermelha cultivada nos EUA, Canadá e Chile - produzido no Brasil, pela pequena empresa paulista Juxx. "Deixamos a mistura menos ácida, ideal para o paladar do brasileiro", explica Mazeto.

 

Preparado com o concentrado da fruta importada da região da Patagônia chilena, o suco da Juxx preserva, segundo o empresário, todas as propriedades antioxidantes, que retarda o envelhecimento, melhora os anticorpos do organismo e ajuda a combater infecções urinárias naturais. No preparo, a Juxx não usa conservantes ou aromatizantes artificiais. "Trata-se de um alimento funcional, que também é gostoso", afirma Mazeto. "Não é à toa que em quatro anos a empresa cresceu em torno de 160%, está presente em 5 mil pontos de venda e deve fechar 2011 com um faturamento de R$ 15 milhões".

 

Na esteira do suco de cranberry, eles desenvolveram mais dois sabores funcionais: ameixa, enriquecido com fibras naturais, e romã. Os próximos lançamentos vão focar em sucos à base de soja.

 

Na visão de Enzo Donna, a Juxx soube alinhavar bem a sua comunicação apresentando o produto como um suco de frutas vermelhas que agrada ao paladar e faz bem à saúde. "Aí está o segredo", declara. "Quem conseguir associar os dois fatores com qualidade e preço competitivo tende a explodir nesse mercado." A professora Livia, da ESPM, vai além. "Cada vez mais a pressão será maior para que as indústrias respeitem os animais, o ambiente e a saúde das pessoas", afirma. "Quem não seguir esse movimento tende a perder reputação e o poder de sua marca no mercado." E esta é a palavra de quem entende do assunto.

 


Veículo: Valor Econômico


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