Trajetória digna das histórias das mil e uma noites

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Abdo Al Makul era apenas um imigrante em busca de novos horizontes quando, em 1917, abandonou a Síria para se aventurar em terras brasileiras. Estava com 17 anos. No início, o sustento vinha do trabalho como mascate. Mas o tino empresarial e o gosto pelo comércio típico o levou, em 1936, a montar na Rua 25 de Março, em São Paulo, a Casa Fortaleza. Hoje, 75 anos depois, a empresa familiar encontra-se sob o comando da terceira geração e se tornou referência na venda de tecidos, tapetes, cortinas, pisos e carpetes premium.

 

A loja de artigos para decoração sobreviveu a diversos planos econômicos, a mudanças no comportamento do consumidor e a transformações na maneira de fazer negócios. Nem por isso perdeu fôlego. Nos últimos quatro anos, o empreendimento cresceu, em média, 17% ao ano. A rede tem 450 funcionários e 12 unidades próprias espalhadas por São Paulo, Santo André, Campinas e Rio de Janeiro. Até 2015, a meta é estar nas capitais mais importantes do país.

 

A inovação, planejamento estratégico rigoroso, compromisso com o consumidor e equilíbrio entre tradição e modernidade são alguns dos responsáveis pelo sucesso. Ao relembrar a história da empresa, Daniel Al Makul, 41 anos, diretor de marketing e de vendas e neto de Al Makul, afirma que desde o início seu avô se preocupou com a eficiência dos serviços prestados. "A entrega tinha de ser cumprida no prazo, o padrão de qualidade dos produtos era rigoroso e já havia um cuidado com o pós-venda, em voga nos dias de hoje. Construímos uma imagem sólida e positiva, baseada no bom serviço", diz.

 

Logo nos primeiros anos, teve início o processo de construção de um bom relacionamento com os fornecedores. "Nunca tivemos vocação para produzir e era primordial ter parcerias sólidas com as indústrias. Elas não se sentiram ameaçadas porque deixávamos claro que o propósito não era sermos concorrentes, mas aliados. Isso trouxe muitos benefícios em termos de descontos, exclusividade e negociações mais justas."

 

A Casa Fortaleza trabalha com fornecedores de renome internacional como as europeias Beaulieu, produtora de carpetes, e a Hunter Douglas, fabricante das persianas Luxaflex. Marcelo Siviero, presidente da Hunter Douglas no Brasil, afirma que a parceria é bastante positiva. "É uma empresa séria, com muita credibilidade no mercado. Comprometida com a excelência e fidelização de parceiros e clientes, o que se reflete nas vendas. Temos 850 revendedores no Brasil e a Casa Fortaleza está entre os dez maiores", afirma Siviero.

 

Nos anos 1960 e 70, Jorge Al Makul, pai de Daniel, foi o responsável pela expansão por meio da abertura de 15 unidades e criação de mostruários de tecidos. O catálogo era distribuído via correio a tapeceiros e cortineiros de diversas regiões e estes não precisavam se deslocar até São Paulo para efetuar a compra. A iniciativa, implementada em 1969, fez a Casa Fortaleza atender 3 mil novos pontos de venda em cinco anos. Para aproveitar os retalhos que sobravam dos pedidos, a empresa começou a fabricar cortinas customizadas.

 

Em 1988, anos após a morte de Abdo, Daniel entrou para o negócio. "Sempre gostei de decoração e tinha o sonho de homenagear meu avó. Queria contribuir para que continuássemos no caminho certo rumo ao centenário", diz. Além de Daniel, a terceira geração é formada por seu irmão Fabiano Al Makul, 38 anos, responsável pelo setor financeiro. O patriarca Jorge cuida da parte contábil-fiscal e do conselho administrativo, junto com o economista Danilo Saicali, sócio da Scripta Consultores.

 

Daniel e o irmão estreitaram o relacionamento com o consumidor final, arquitetos e decoradores de renome e com o setor corporativo, responsável por 50% do negócio. "Temos produtos para academias, escritórios e hospitais. Além disso, nos especializamos em desenvolver soluções para arquitetos. O mais gratificante é ser reconhecido como sinônimo de qualidade ao longo de gerações. Já atendi bisnetas de clientes antigas."

 

Dentre as medidas mais importantes da terceira geração, pode-se citar o investimento em programas de retenção de funcionários e capacitação. Além de bônus e aumento salarial, os empregados passam por treinamentos periódicos sobre vendas, decoração, cores e produtos. O crescimento dentro da empresa é outro ponto valorizado. "Ajudamos na formação profissional, aceitamos novas ideias e damos oportunidades para quem é bom. Temos diretores que começaram no nada", afirma Daniel.

 

Para conquistar maiores fatias do setor, há três anos os empresários apostaram na revitalização da marca por meio da reformulação do portfólio. Neste mesmo período, foram investidos R$ 2 milhões na abertura em São Paulo da Casa Fortaleza Vitrine, que tem como diferencial o desenvolvimento de peças de alto padrão para projetos personalizados. A estratégia aumentou em 83% a participação da marca no mercado de alto padrão. Está nos planos inaugurar, até 2016, novas unidades da Vitrine nas principais capitais do país.

 

O arquiteto Fernando Vidal, sócio da Rocco Arquitetos Associados, trabalha com a empresa desde meados da década de 1990. "Eles não deixaram de lado as origens e investiram em uma gestão moderna, com soluções integradas junto aos arquitetos e parceiros. Estão afinados com o desejo do cliente, se preocupam com o resultado final e com construção em conjunto. Isso faz toda a diferença no relacionamento duradouro", afirma.

 

A Casa Fortaleza passou por algumas crises. A maior e mais séria delas ocorreu no início dos anos 1990, durante o Plano Collor. Na época, a empresa tinha 32 filiais e optou por manter apenas as lojas de São Paulo e do Rio de Janeiro para não correr o risco de quebrar. A 25 anos do centenário, Daniel é otimista. Se tudo correr como o planejado, o objetivo até lá é dominar o mercado nacional e abrir o capital na Bolsa de Valores.

 

Veículo: Valor Econômico


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