A crise econômica na Europa, o consumo menor que o esperado pela China e a demora na recuperação dos Estados Unidos estão criando um momento de desconforto para o setor de papel e celulose no Brasil. Com isso a expectativa mais otimista é de que o preço da commodity seja mantido, no máximo, no atual patamar, de US$ 680 por tonelada, de acordo com o índice Foex para a China. Porém, há a expectativa de que, no curto prazo, o valor caia em função de um cenário de estocagem e redução do consumo nos países desenvolvidos, principais mercados dos fabricantes chineses de papel.
A opinião mais otimista vem justamente do maior fabricante de celulose de fibra curta no mundo, a Fibria, cuja capacidade instalada é de 5,4 milhões de toneladas. Segundo o presidente da companhia, Marcelo Castelli, o valor da commodity não deve recuar mais ainda. Porém, a empresa não está tão confiante nesse cenário. Tanto é assim que a companhia, resultante da união entre a Aracruz e a VCP, deverá tomar uma decisão quanto ao preço que pratica no mercado internacional no mês de setembro.
"Não temos uma visão de como está a tendência dos preços no curto prazo, estamos analisando o mercado ainda, não vamos anunciar nada sem ter uma clareza de como se comportará o mercado", afirmou, acrescentando que "Não notamos sinal de arrefecimento por parte dos clientes e isso deverá ser levado em consideração".
Castelli destacou ainda que a empresa possui 97% de sua produção coberta por contratos com clientes. Esse fato pode reduzir a volatilidade de preços para a empresa no mercado, que tem a cotação do mercado spot como balizador e que neste momento apresenta certa turbulência atribuída, em grande parte, à atuação de traders - comerciantes que trabalham como intermediários e que fazem lucro com a variação do preço do produto no mundo.
O presidente da Suzano Papel e Celulose, Antonio Maciel Neto, disse que a expectativa dele é de estabilidade nos preços quando se analisa os dados entre a oferta e a demanda mundial. Apesar do cenário macroeconômico mundial, o executivo disse que não espera grandes retrações nos mercados em que atua, pois a base, afirmou, é grande, resultado do crescimento dos últimos anos. A exceção fica para o período entre 2008 e 2009 por conta da crise mundial.
Aliás, ele ressaltou que a economia mundial, apesar de viver a tensão quanto a resolução da dívida dos países europeus, não está e não deverá ser afetada da mesma maneira que há três anos. "No quarto trimestre deveremos ter uma definição mais clara de como se comportará a economia europeia e o que acontecerá no mercado", resumiu Maciel.
Essa é a mesma opinião do presidente da Cenibra, empresa que destina 90% de sua produção de 1,2 milhão de toneladas de celulose ao mercado internacional. Para Paulo Brant, a crise europeia não deverá ter impacto sobre os negócios, mas vê que no curto prazo o preço da celulose deverá recuar, ele não estima quanto, mas que deverá ser mais baixo que o atual patamar, resultado da acomodação da economia.
A opinião dos executivos é unânime quando se fala em competitividade. Eles acham que será preciso repensar a formula para competir, pois não há sinais de melhora na relação cambial para exportação, principal negócio dessas empresas. Segundo eles, a celulose brasileira vem perdendo competitividade em função do câmbio, mas ainda está em um patamar importante para manter suas posições.
Para isso, todas elas estão pensando em estratégias para manter o nível, que é baseado no custo de produção. No caso da Fibria, disse Castelli, a manutenção do caixa faz parte desse plano. Por isso a companhia está mudando o perfil de suas florestas. Em Três Lagoas, a nova unidade de produção deverá ficar com uma relação de 70% de florestas arrendadas e 30% de terras próprias, que favorecerá o fluxo de caixa da companhia que não terá de desembolsar recursos para a aquisição de terras naquela região.
Já a Suzano tem um plano de expandir sua produção de celulose com os projetos do Maranhão e Piauí. A Cenibra, por sua vez também prevê uma nova fábrica, porém ainda está em estudo e sem previsão de conclusão.
O presidente a Fibria afirmou ontem, durante evento da Risi Consultoria que o mercado mundial ainda tem a capacidade de absorver uma nova fábrica por ano. Segundo suas contas, colocar entre 1 milhão e 1,2 milhão de toneladas por ano de celulose traria equilíbrio entre a demanda e oferta mundial, se não ocorrer mais novas crises. A decisão pela expansão de Três Lagoas deve se dar em um ano.
Veículo: DCI