Um projeto de lei que institui pedágio urbano tramita na Câmara de Vereadores de São Paulo. De autoria do vereador Carlos Apolinário (DEM), a proposta institui a cobrança de R$ 4 por dia para os veículos que transitam no Centro Expandido da Capital. O valor arrecadado serviria para subsidiar integralmente o transporte público coletivo.
Durante o período eleitoral, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmou que, se reeleito, não implantaria o pedágio urbano em sua gestão. Na ocasião, Kassab afirmou que a cobrança da tarifa seria uma "injustiça social".
Carlos Apolinário, que é líder do DEM -mesmo partido de Kassab- na Câmara, tem uma opinião contrária à do prefeito. "Trata-se de uma justiça social. Quem tem mais dinheiro estará pagando para quem anda de ônibus", disse o vereador.
O secretário de trânsito, Alexandre de Moraes, informou ao DCI, por meio de sua assessoria de imprensa, que se posiciona contra o projeto.
Especialistas
Especialistas ouvidos pela reportagem também se mostraram contrários à implantação do pedágio urbano na capital.
O professor José Almeida Sobrinho, especialista em trânsito, é contra a idéia de cobrar pelo uso das vias centrais já existentes. "Se você projeta uma via nova, com trânsito exclusivo e segurança, você pode cobrar, mas pagar pedágio numa via que já existe e que não funciona é uma incoerência, além de grande prejuízo para sociedade", explicou.
A diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie Nádia Somek alertou de que medidas isoladas não vão resolver a questão do trânsito, considerado um dos principais problemas de São Paulo. "Pedágio sozinho não é efetivo. A cidade só vai ficar mais cara", disse.
Segundo Sobrinho, a proposta é injusta, uma vez que afetaria metade da população paulistana, que usa automóvel para se locomover. "Vai beneficiar um grupo e prejudicar outro."
A diretora da Arquitetura Mackenzie criticou a transferência dos recursos para dar gratuidade ao transporte e sugeriu outras aplicações da tarifa. "Seria melhor investir o dinheiro do pedágio na qualidade do transporte em vez de deixá-lo de graça."
Sobrinho observa que o sistema não consegue durar muito tempo. "Com custos de manutenção, o pedágio vai aumentando, e menos pessoas vão usar. Com isso, a arrecadação não será mais suficiente", afirmou.
Questão política
Para entrar em vigor, o projeto precisa, além de ser votado na Câmara, receber a aprovação da maioria da sociedade, por meio de um plebiscito. Apolinário disse que o ideal seria seguir o modelo de Londres, onde, depois de 6 meses de funcionamento, o pedágio foi submetido à aprovação popular -e foi mantido.
Questionado por que não propôs o mesmo método para São Paulo, o vereador lembrou a promessa feita por Kassab. "O prefeito tem o compromisso de não criar pedágio nos próximos quatro anos, e, como só dependeria dele, não daria certo", disse.
Para Sobrinho, o resultado será equivocado. "Vai contrapor a opinião de quem usa automóvel e de quem não usa. Como a parte que não usa é maior, o resultado será distorcido." Nádia, por sua vez, acha que a sociedade não aprovará o pedágio. "Nem precisa gastar dinheiro. Quem vai querer pagar mais uma taxa?", questionou.
Veículo: DCI