A coreana Samsung já começou a afiar suas garras para entrar no estreito mercado nacional de linha branca. A empresa - que anunciou recentemente uma nova fábrica de geladeiras e lavadoras no Brasil, orçada em US$ 300 milhões -, apresentou cerca de 25 produtos que devem chegar às lojas até o final do ano numa prévia do que será a produção local.
A nova fábrica, que será instalada em Limeira, no interior de São Paulo, é fundamental na estratégia da empresa para dobrar seu faturamento no País dos atuais US$ 5,1 bilhões para US$ 10 bilhões, segundo o vice-presidente da divisão de eletrônicos de consumo da Samsung, José Fuentes. Com uma linha branca sofisticada, a empresa aposta também na ampliação das margens, que podem representar quase o dobro da obtida com a linha marrom, em torno de 3%, e se consolidar como uma das empresas de eletroeletrônicos com maior portfólio no País.
E tanto empenho tem um bom motivo. O Brasil já se tornou o terceiro maior mercado para a companhia em todo o mundo, atrás de China e EUA, respondendo por 3,7% do faturamento da área de eletrônicos do grupo coreano, que chegou a US$ 135 bilhões em 2010, conforme Fuentes. "Isso sem a linha branca."
"A Samsung vem fazendo investimentos consistentes nos últimos anos, que agora estão sendo acelerados", explica o executivo. Mas ele admite que o trabalho na linha branca não será fácil, diferente do que o feito em linha marrom. Isso porque o mercado hoje é praticamente dominado por duas empresas. A norte-americana Whirlpool, com as marcas Brastemp e Consul, e a sueca Electrolux, que detêm, se somadas, quase 70% do mercado.
Correndo por fora ainda há a mexicana Mabe, que não conseguiu se manter na briga com a própria marca, dada a dificuldade do setor, e acabou abocanhando nomes consagrados no mercado brasileiro como GE, Dako e Continental.
Para furar o bloqueio, a estratégia da Samsung é justamente trabalhar em um nicho mais elevado, onde a competição é menor. Com produtos altamente digitais e tecnologia de ponta, a empresa quer, num primeiro momento, mostrar seus diferenciais. "Nossa proposta de valor é sempre estar ligado à tecnologia, como fizemos na linha marrom, celular e notebooks, onde conquistamos a liderança", explica Fuentes. Mas depois, quando começar a produzir localmente, a partir de 2013, será, então, lançada oficialmente a competição, com produtos mais baratos e que atendam a todas as classes. "Iremos revolucionar a linha branca", disse o executivo.
A briga promete ser boa, especialmente com outra coreana, a LG, que também quer uma fatia desse bolo, e já anunciou o investimento de US$ 115 milhões em uma nova fábrica de refrigeradores e lavadoras na cidade de Paulínia, também no interior de São Paulo.
A nova unidade da Samsung (a empresa já tem uma em Manaus para linha marrom e outra em Campinas para informática e telecomunicações) demonstra o tamanho da ambição da empresa. Com 420 metros quadrados de área, a unidade contará com 72 mil metros quadrados de construção. "Só para comparar, Manaus já é a maior fábrica de TV da Samsung, com 18 mil metros quadrados de área construída", compara Fuentes.
A guerra entre as coreanas pelo mercado de linha branca tem explicação. Só no primeiro semestre, as vendas cresceram 7% em valor e 5,6% em volume. No mesmo período, a venda de TVs de LCD e LED, dominadas por Samsung e LG, disparou, com alta de 41,5% em unidades e 12,9% em valor, conforme pesquisa realizada pela consultoria GFK.
Produtos
Enquanto a LG aposta em conexão, telas digitais na porta de geladeiras e outras parafernálias eletrônicas, a Samsung pega pesado em recursos que efetivamente ajudam as donas de casa. Por isso, trouxe geladeiras que possuem sistemas que ampliam a conservação de alimentos e máquinas de lavar com tambor diferenciado, que evita os fios puxados.
Outra aposta da empresa são as máquinas de lavar que incluem também a secagem no mesmo produto, um dos segmentos que mais cresce hoje em dia, devendo subir em torno de 40% no ano. Os equipamentos de ar condicionado do tipo split também são apostas fortes da companhia, que apresentou lançamentos que incluem um sistema adicional de ionização, que limpa efetivamente o ar respirado, segundo a empresa.
Mesmo com as travas naturais do mercado, todo esse movimento das coreanas deve colocar os concorrentes tradicionais em posição de alerta para o novo futuro que se desenha.
Veículo: DCI