Esperança é retomar o plantio da seca, inviável por causa do mosaico dourado - doença à qual nova variedade resiste
A aprovação do primeiro feijão transgênico 100% nacional gerou grande expectativa entre agricultores do sudoeste paulista, principal região produtora do Estado de São Paulo. A região, responsável por 90% da produção estadual, praticamente deixou de plantar uma das duas safras anuais do grão por causa de uma praga conhecida como mosca branca.
O feijão transgênico desenvolvido pela Embrapa tem como principal característica a resistência ao vírus do mosaico dourado, doença transmitida pelos ataques do inseto. "Não vejo a hora de plantar esse feijão", diz o agricultor Luis Domingues Ramos, produtor em Itapeva, sudoeste paulista.
As variedades geneticamente modificadas, batizadas de Embrapa 5.1, foram desenvolvidas em parceria pelas unidades de Recursos Genéticos e Tecnologia, de Brasília, e Arroz e Feijão, de Goiânia, e são as primeiras plantas transgênicas totalmente produzidas por instituições públicas de pesquisa brasileiras. O problema é que ainda há um caminho a percorrer para que esse feijão chegue à mesa do brasileiro. A Secretaria de Agricultura de São Paulo prevê de dois a três anos para que a semente esteja à disposição do produtor.
"O que foi aprovado foi apenas o primeiro ciclo de produção. Há que se fazer uma ampla pesquisa, pois o cultivar transgênico pode não ter qualidade de grão ou alta produtividade. E há o teste de panela, já que o consumidor de feijão tem uma predileção específica e precisa gostar do novo produto", adverte o pesquisador José Sidnei Gonçalves, do Instituto de Economia Agrícola (IEA).
Otimismo. Nada que reduza a expectativa otimista dos produtores. Agricultor desde pequeno, Ramos conta que a região tinha como tradição plantar duas safras anuais de feijão, conhecidas como a das águas e a da seca. Esta última era semeada entre o fim de dezembro e o início de fevereiro e, no passado, chegou a ocupar área maior do que a das águas.
"Até o fim da década de 1990, a mosca branca não incomodava, mas quando o pessoal começou a plantar soja por aqui, ficou ruim para o feijão da seca. A última safra que fizemos foi em 2000. De lá para cá, só plantamos o feijão das águas."
Mosaico. Segundo ele, a mosca se hospeda nas lavouras de soja e depois migra para os feijoeiros. "O inseto suga a seiva e transmite o vírus do mosaico. Logo as folhas começam a amarelar e deixam de fazer a fotossíntese e a planta não produz." Não há pulverização que dê conta. Ramos deixou de plantar feijão e agora se dedica a cuidar dos 435 hectares plantados pelo patrão, na Fazenda Água Limpa, em Itapeva.
O produtor Ariovaldo Fellet, que tem 726 hectares de feijão irrigado na Fazenda Lagoa Bonita, em Itaberá, também deixou de fazer o plantio da seca, há cinco anos, vencido pela praga. "As moscas faziam revoada sobre os feijoeiros e até pareciam resistentes ao inseticida. As perdas chegaram a 100%." Produtor de sementes, ele espera que a Embrapa instale, em parceria com a secretaria paulista, campos de reprodução do feijão transgênico na região.
O agricultor José Carlos Fogaça, com 500 hectares de feijão das águas no campo, em Itapeva, está na expectativa da variedade transgênica. "Poder plantar a segunda safra do feijão será um alívio, pois ajuda na rotação com a lavoura de milho", diz.
O mosaico dourado está presente em todas as regiões produtoras e pode ser responsável pelo fato de o Brasil não ter autossuficiência na produção de feijão. Mesmo sendo o maior consumidor do mundo, o País não consegue abastecer todo o mercado interno, segundo o pesquisador Francisco Aragão, da Embrapa/Brasília. "Quando falta feijão, o preço sobe e a população mais carente se vê privada de um dos alimentos mais ricos em proteína vegetal, ferro e vitaminas."
Segundo Aragão, a nova tecnologia protege as plantações e garante que os produtores alcancem a produtividade necessária. "O vírus do mosaico dourado é o maior problema para a cultura. Se a doença atacar as lavouras precocemente, as perdas podem chegar até 100%.
Com a semente transgênica, serão abertas novas áreas de produção, onde antes não era possível alcançar bons resultados", acredita o pesquisador. Segundo Aragão, a lógica é a de que, com mais sementes de feijão transgênico disponíveis, mais o mercado interno estará abastecido. Assim, os preços ficam estabilizados e maior quantidade de pessoas pode consumir o alimento.
Veículo: O Estado de S.Paulo