Produtor já aguarda feijão transgênico

Leia em 3min 40s

Esperança é retomar o plantio da seca, inviável por causa do mosaico dourado - doença à qual nova variedade resiste



A aprovação do primeiro feijão transgênico 100% nacional gerou grande expectativa entre agricultores do sudoeste paulista, principal região produtora do Estado de São Paulo. A região, responsável por 90% da produção estadual, praticamente deixou de plantar uma das duas safras anuais do grão por causa de uma praga conhecida como mosca branca.

O feijão transgênico desenvolvido pela Embrapa tem como principal característica a resistência ao vírus do mosaico dourado, doença transmitida pelos ataques do inseto. "Não vejo a hora de plantar esse feijão", diz o agricultor Luis Domingues Ramos, produtor em Itapeva, sudoeste paulista.

As variedades geneticamente modificadas, batizadas de Embrapa 5.1, foram desenvolvidas em parceria pelas unidades de Recursos Genéticos e Tecnologia, de Brasília, e Arroz e Feijão, de Goiânia, e são as primeiras plantas transgênicas totalmente produzidas por instituições públicas de pesquisa brasileiras. O problema é que ainda há um caminho a percorrer para que esse feijão chegue à mesa do brasileiro. A Secretaria de Agricultura de São Paulo prevê de dois a três anos para que a semente esteja à disposição do produtor.

"O que foi aprovado foi apenas o primeiro ciclo de produção. Há que se fazer uma ampla pesquisa, pois o cultivar transgênico pode não ter qualidade de grão ou alta produtividade. E há o teste de panela, já que o consumidor de feijão tem uma predileção específica e precisa gostar do novo produto", adverte o pesquisador José Sidnei Gonçalves, do Instituto de Economia Agrícola (IEA).

Otimismo. Nada que reduza a expectativa otimista dos produtores. Agricultor desde pequeno, Ramos conta que a região tinha como tradição plantar duas safras anuais de feijão, conhecidas como a das águas e a da seca. Esta última era semeada entre o fim de dezembro e o início de fevereiro e, no passado, chegou a ocupar área maior do que a das águas.

"Até o fim da década de 1990, a mosca branca não incomodava, mas quando o pessoal começou a plantar soja por aqui, ficou ruim para o feijão da seca. A última safra que fizemos foi em 2000. De lá para cá, só plantamos o feijão das águas."

Mosaico. Segundo ele, a mosca se hospeda nas lavouras de soja e depois migra para os feijoeiros. "O inseto suga a seiva e transmite o vírus do mosaico. Logo as folhas começam a amarelar e deixam de fazer a fotossíntese e a planta não produz." Não há pulverização que dê conta. Ramos deixou de plantar feijão e agora se dedica a cuidar dos 435 hectares plantados pelo patrão, na Fazenda Água Limpa, em Itapeva.

O produtor Ariovaldo Fellet, que tem 726 hectares de feijão irrigado na Fazenda Lagoa Bonita, em Itaberá, também deixou de fazer o plantio da seca, há cinco anos, vencido pela praga. "As moscas faziam revoada sobre os feijoeiros e até pareciam resistentes ao inseticida. As perdas chegaram a 100%." Produtor de sementes, ele espera que a Embrapa instale, em parceria com a secretaria paulista, campos de reprodução do feijão transgênico na região.

O agricultor José Carlos Fogaça, com 500 hectares de feijão das águas no campo, em Itapeva, está na expectativa da variedade transgênica. "Poder plantar a segunda safra do feijão será um alívio, pois ajuda na rotação com a lavoura de milho", diz.

O mosaico dourado está presente em todas as regiões produtoras e pode ser responsável pelo fato de o Brasil não ter autossuficiência na produção de feijão. Mesmo sendo o maior consumidor do mundo, o País não consegue abastecer todo o mercado interno, segundo o pesquisador Francisco Aragão, da Embrapa/Brasília. "Quando falta feijão, o preço sobe e a população mais carente se vê privada de um dos alimentos mais ricos em proteína vegetal, ferro e vitaminas."

Segundo Aragão, a nova tecnologia protege as plantações e garante que os produtores alcancem a produtividade necessária. "O vírus do mosaico dourado é o maior problema para a cultura. Se a doença atacar as lavouras precocemente, as perdas podem chegar até 100%.

Com a semente transgênica, serão abertas novas áreas de produção, onde antes não era possível alcançar bons resultados", acredita o pesquisador. Segundo Aragão, a lógica é a de que, com mais sementes de feijão transgênico disponíveis, mais o mercado interno estará abastecido. Assim, os preços ficam estabilizados e maior quantidade de pessoas pode consumir o alimento.


Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Importação de calçados está sob investigação

Ministério do Desenvolvimento verifica se os exportadores chineses estão usando outros países para ...

Veja mais
Cenário está favorável às exportações de algodão

Com o dólar valorizado, cotações em torno de US$ 1 por libra-peso em Nova York e baixa liquidez no ...

Veja mais
Produção de manga deve crescer em MG

Agricultores mineiros apostam em aumento nas vendas durante a entressafra em São Paulo.A produção m...

Veja mais
Dia das Crianças: Tíquete médio será mantido

Como em 2010, presentes deverão custar entre R$ 51 e R$ 100, aponta a CDL-BH.O tíquete médio dos pr...

Veja mais
Doces Joaninha em franca expansão

A Doces Caseiros Joaninha possui 41 anos de tradição em adoçar a vida dos mineiro. Nasceu em 1970 n...

Veja mais
Restrições a calçados chineses

As importações de calçados entraram em licença não automática, ou seja, depend...

Veja mais
Mapa fará aportes de R$ 50 mi para adequar norma sanitária

Com isso, o Ministério da Agricultura do País espera não somente acabar com o embargo imposto pela ...

Veja mais
Região Sul atrai capital para centros logísticos

A Região Sul está recebendo novos investimentos em galpões logísticos. Os estados sulistas, ...

Veja mais
Savegnago deseja comprar unidades do Carrefour

Uma fonte ligada à diretoria da rede Savegnago Supermercados confirmou ao DCI que a companhia está interes...

Veja mais