A expansão dos países emergentes e de sua clientela ávida por produtos de alto luxo abriu espaço para o surgimento de empresas nesse setor, que vêm se desenvolvendo rapidamente graças aos consumidores desses mercados, sobretudo chineses, mas também brasileiros e russos. Prova de que a forte demanda garante espaço para todos, a grife francesa Pinel & Pinel, de acessórios de couro e malas sob medida - que custam dezenas de milhares de euros - não hesitou em se lançar no segmento dominado pelas centenárias e também francesas Louis Vuitton e Goyard.
Fred Pinel, 42 anos, proprietário e designer da marca, entrou no mundo do luxo por acaso, ao restaurar uma antiga mala encontrada no sótão de seus avós. Ele deixou a carreira de publicidade e passou a criar, no início dos anos 2000, pequenos acessórios em couros luxuosos, como crocodilo, raia e avestruz, vendidos na badalada Colette, em Paris, e na Harrod's, em Londres.
Desde então, a empresa não parou de crescer: no início deste ano, a Pinel abriu sua primeira butique na elegante rua Royale, a poucos metros da Praça da Concórdia. Até então, a grife estava "escondida" em um showroom no bairro de Montmartre. Entre os clientes da época, já havia brasileiros, como o ex-jogador de futebol Ronaldo.
Em pouco tempo, a Pinel construiu uma reputação no segmento de artigos de couro de altíssimo luxo, que já chegou ao Brasil. A Havaianas fez uma parceria com a grife, que substituiu as tiras de borracha da sandália por couro de crocodilo em várias cores. Apesar do preço, € 450, Fred Pinel garante que os modelos fizeram sucesso neste verão europeu.
A empresa continua produzindo pequenos acessórios, como bolsas e carteiras, mas o forte de suas criações são as malas sob medida para carregar os mais variados - e insólitos - pertences, que vão de bicicletas a plantas bonsai. Na "mala piquenique", realizada em parceria com o champagne Krug e que custa € 35 mil, há espaço para garrafas, louça em porcelana, banquinhos dobráveis em couro e uma parafernália de acessórios luxuosos, como ralador de trufas, cortador de charutos e talheres para caviar.
O modelo que deu notoriedade internacional à marca foi uma encomenda do jogador de basquete americano Michael Jordan, para guardar 23 pares de tênis Air Jordan. Foi vendido em leilão por € 57 mil. Há ainda baús com dezenas de jogos (bingo, xadrez, pôquer), "malas-escritório", modelos com equipamentos de som e gavetas para centenas de CDs (€ 40 mil) ou ainda com TV para assistir a filmes (€ 50 mil), entre outras criações.
A empresa já exporta para o mundo todo, mas os principais compradores são os chineses. "No caso dos baús, os maiores clientes são asiáticos e europeus, mas também vendemos bastante para países da América Latina, como o Chile, a Argentina e a Venezuela", disse Pinel ao Valor. Segundo ele, a marca está se tornando cada vez mais conhecida no Brasil. "Os brasileiros são a sexta principal nacionalidade que visita nosso site", afirma.
Após a primeira loja parisiense, uma segunda butique deve ser inaugurada no próximo ano em Saint-Tropez, no sul da França. A marca, com faturamento de cerca de € 1,5 milhão, tem planos de expansão internacional, por meio de lojas próprias ou de parcerias. "Para ter maior visibilidade, é preciso abrir várias butiques. A ideia é ter entre 30 e 50 lojas nos próximos dez anos", diz. A China, claro, é o primeiro mercado visado, mas Pinel também tem projetos de entrar no mercado brasileiro e russo.
As "rivais" Louis Vuitton e Goyard produzem baús sob medida e com os chamados couros exóticos há mais de 150 anos. Mas o estilo da Pinel é diferente: ultracontemporâneo, onde prevalecem as cores fortes, como verde abacate, e também "high tech", com a utilização de materiais como titânio e fibra de carbono. O método de produção é o mesmo das concorrentes, totalmente artesanal e realizado em um ateliê em Montmarte, onde trabalham 12 artesãos. "Há espaço para todos nesse mercado", garante o dono da nova marca.
Veículo: Valor Econômico