A Gallo, dona do azeite de mesmo nome, quer se preservar das críticas de consumidores, principalmente dos que estão além-mar. A empresa está investindo R$ 12 milhões para divulgar uma nova apresentação do produto, que é fabricado e envasado em Portugal. Por ser mais escura, a nova embalagem de vidro impede a oxidação do azeite quando exposto à luz. A iniciativa é uma reação a algumas reclamações de clientes quanto a um "sabor estranho" do produto.
"Queremos assegurar que o azeite chegue à casa do consumidor com a mesma qualidade que saiu de Portugal", disse ao Valor Pedro Cruz, presidente da Gallo, multinacional portuguesa que é resultado de uma associação entre a Unilever (55%) e o grupo varejista Jerónimo Martins (45%). A preocupação se justifica: sozinho, o Brasil representa 40% das vendas da Gallo, que faturou mais de € 120 milhões no mundo em 2010. O montante supera até mesmo o consumo na "terrinha": Portugal responde por 30% do faturamento da marca, presente em 47 países.
"A partir das reclamações que tivemos no Brasil, observamos que o produto havia sido mantido no supermercado à exposição constante de luz por uma ou duas semanas, o que comprometeu o seu sabor", afirma Cruz.
O crescimento no Brasil é fundamental para que a múlti portuguesa saia do quinto para o terceiro lugar no ranking mundial dos azeites até 2013 (hoje, as primeiras são a italiana Bertolli, a espanhola Carbonell e as também italianas Carabelli e Filippo Berio). O investimento de R$ 12 milhões envolve a campanha de marketing que estreia em novembro, capitaneada pela Almap BBDO. No desenvolvimento da embalagem, adotada globalmente, na adaptação da produção e no novo logotipo da marca - um galo cantando - foram aplicados € 5 milhões.
No Brasil, onde já são vendidos vinagre balsâmico e azeitonas da marca, a Gallo testa produtos, como a pasta de azeitona. "Nos últimos quatro anos, procuramos diversificar nossa atuação", diz Cruz. Segundo ele, a nova embalagem não trouxe aumento de custos. "Compensamos o investimento com o processo produtivo, já que a nova garrafa permite até 60% do uso de vidro reciclado", afirma.
O mercado de azeite movimentou R$ 830 milhões no país em 2010, com aumento de 12,5% das vendas em volume e 5% em valor, segundo a Nielsen. Além da preocupação com o bem-estar - o azeite é rico em ácidos graxos, que ajudam a manter a saúde do coração -, as vendas foram puxadas pelo câmbio favorável, já que a grande maioria dos azeites é importada.
"Uma série de novas marcas invadiu o mercado nos últimos meses, e o aumento da concorrência tem feito a categoria crescer mais em volume do que em valor", diz o analista da Nielsen, Lucenildo Barros. No Brasil, existem cerca de 200 marcas de azeite. Entre as principais rivais da Gallo estão a também portuguesa Andorinha e as espanholas Borges e Carbonell.
O país está longe de ser um dos maiores consumidores de azeite do mundo. Segundo Pedro Cruz, o consumo per capita nacional está em 250 miligramas de azeite por ano. Em Portugal e na Espanha, são sete e 11 quilos ao ano, respectivamente. Na Itália, são 14 quilos ao ano e, na Grécia, 21 quilos per capita. Até os americanos consomem mais do que os brasileiros: um quilo ao ano por pessoa. "Sinal que existe muito espaço para crescer por aqui", aposta Cruz.
Veículo: Valor Econômico