A fábrica da multinacional PepsiCo em Guarulhos, na Grande São Paulo, que enviou ao Rio Grande do Sul um lote do achocolatado Toddynho com detergente, teve uma segunda chance para corrigir o erro, mas não o fez. As 80 unidades do produto envasadas de maneira errada ficaram de "quarentena" dez dias na fábrica. Ironicamente, a medida faz parte do controle de qualidade da PepsiCo.
No dia 23 de agosto, a máquina que produzia o achocolatado parou de funcionar para ser submetida a um processo de esterilização, com uma solução de detergente e água. O procedimento acontece, em média, a cada dez horas e dura mais de uma hora. Por uma "falha sistêmica", a máquina voltou a funcionar sozinha, envazando detergente no lugar do chocolate.
"Isso durou alguns minutos e, assim que nossa equipe percebeu o erro, interrompeu o processo e descartou os produtos com detergente", disse ao Valor o diretor da unidade de negócios de Toddynho da PepsiCo, Vladmir Maganhoto.
Segundo ele, os produtos ficaram 10 dias na fábrica, como parte do controle de qualidade da empresa, que avalia amostras de cada uma das suas marcas. A PepsiCo só descobriu que não tinha jogado fora todas as unidades de Toddynho com detergente quando passou a receber, por volta do dia 25 de setembro, reclamações de consumidores pelo seu serviço de 0800. A PepsiCo contou, então, quantas unidades tinha descartado e quantas unidades daquele lote tinham sido enviadas ao Rio Grande do Sul e chegou ao número de 80 caixas de Toddynho.
A empresa não informa quantas caixinhas ao todo foram envasadas com detergente. A fábrica de Toddynho produz 1,1 milhão de unidades por dia. Isso equivale a uma produção que vai de 763 a 1.145 caixinhas por minuto, dependendo da quantidade de turnos diários (dois ou três).
Das 80 caixas de Toddynho, pelo menos a metade já foi consumida, na sua maioria por crianças, uma vez que o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul recebeu até sexta-feira 39 notificações de suspeita de intoxicação provocada pelo consumo do produto em 15 cidades. A maioria dos casos é de Porto Alegre. As notificações indicam "sensação de ardência e irritação da boca" após a ingestão do produto. Segundo Maganhoto, a empresa já recolheu "a grande maioria" das demais 41 unidades. "Mas algumas podem estar na casa de consumidores ou com a Vigilância Sanitária, que analisa amostras", diz.
Até agora, a empresa só entrou em contato com cinco consumidores que tomaram Toddynho com detergente. Eles foram atendidos pelo número 0800 703 2222 da PepsiCo e encaminhados a especialistas. A fabricante destacou um pediatra e um serviço de assistência social em Porto Alegre para atendê-los. "A Vigilância orienta os consumidores a nos procurar", diz o executivo, que garante que a PepsiCo já corrigiu todos os procedimentos que provocaram o erro na fábrica de Guarulhos. "Este problema nunca mais vai acontecer".
Entre 30 de setembro e 7 de outubro, a PepsiCo recebeu 30 reclamações e 500 pedidos de esclarecimento sobre Toddynho no Rio Grande do Sul. O Procon-RS abriu processo administrativo contra a empresa, enquanto a Vigilância Sanitária Estadual de São Paulo autuou a fabricante em R$ 175 mil. A PepsiCo está recorrendo.
Veículo: Valor Econômico