Enquanto varejistas de setores como o de eletroeletrônicos revisam para baixo expectativas de lucro e intenções de investimento, o chamado mercado pet, de venda de produtos e serviços para animais domésticos, mantém projeção de crescimento de 7% para este ano e de dois dígitos a partir do próximo, por acreditarem que o público não considera supérfluo o gasto com seus bichos de estimação. A atividade comercial do nicho movimenta R$ 5,5 bilhões no País, em mais de cem mil pontos de venda, e ganha força, historicamente, no segundo semestre do ano.
O principal produto desse mercado são as rações, cujo consumo se concentra nos Estados de São Paulo (32,1%), Rio de Janeiro (31%) e Minas Gerais (26,5%). A Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfalpet) estima que o setor tenha comercializado 1,8 milhão de toneladas de ração no passado, um recorde para a série histórica (iniciada em 1994, quando se vendia apenas 220 mil toneladas).
"A ração chega a 40% dos animais; os outros 60% se alimentam de sobras de mesa", afirmou Edson Galvão, o diretor-executivo da Anfalpet. Para o representante, é um problema social o fato de que 2,5 milhões de toneladas de comida humana sejam dadas anualmente a bichos domésticos. Num contexto econômico favorável, entretanto, isso tende a diminuir. "Os consumidores já compraram eletrodomésticos e abusaram dos restaurantes; agora eles se voltam aos seus animais de estimação", disse ele.
O mercado pet brasileiro tem a meta de fornecer o alimento industrializado a quase 60 milhões de animais, majoritariamente cães, com uma produção estimada em 2,7 milhões de toneladas (20% superior à atual, que abastece cerca de 40 milhões de bichos de estimação, num universo de 98 milhões). Para tanto, os industriais contam com uma ampla frente comercial.
Segundo Galvão, há algo entre 30 mil e 40 mil pet shops em funcionamento no País. "Estamos próximos do número certo, via Serasa e federações de comércio. Há dificuldades estatísticas no Brasil, mas dentro de um ano teremos o número preciso." Além das lojas especializadas, super e hipermercados respondem por 28% das vendas totais. "São canais fortes. Inclusive as redes pequenas começaram a pôr esses produtos nas gôndolas", afirmou o representante.
Qualidade premium
A incidência da categoria premium, de rações com alto valor agregado, chega a 10% do volume comercializado e a 30% do faturamento total, que é de R$ 5,5 bilhões no varejo do segmento. "Hoje, o animal é como um membro da família para o consumidor, portanto tem crescido a venda de ração premium", afirmou Karine Raile Rocha, a analista de marketing da rede de pet shops Cobasi.
Detentora de doze pontos comerciais no Estado de São Paulo e de uma loja inaugurada em 2010 no Rio de Janeiro, a companhia trabalha com 20 mil itens, dentro dos quais 12 mil são ração e, destas, 60% são destinados a cães. "As pessoas têm adquirido mais gatos, mas cachorros ainda lideram", afirmou Karine.
A Cobasi funciona no modelo de autosserviço e tem plano de expansão, mas não revela projeções. Há três tipos de ração classificados pela empresa: standard, premium e superpremium. A venda do segundo tipo é a que mais cresce, enquanto a terceira classificação refere-se ao alimento mais nobre do mercado.
Quem reforça a percepção de que a categoria premium vem se destacando é o gerente do Pet Hotel Dog Life, uma loja de pequeno porte na zona leste de São Paulo. Mas, para Alessandro Rogério, esse movimento acontece somente nas regiões ricas.
Setor tende ao "superpremium", dizem distribuidores de rações
Se o mercado pet está aquecido no Brasil, os tipos mais nobres de ração canina estão ainda mais. É o que estimam os dois atacadistas responsáveis por distribuir os produtos da marca francesa Royal Canin nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
"Se o Brasil continuar nessa marcha econômica, a tendência é a venda de [ração] superpremium crescer", diz o proprietário da Akron (SP), Nelo Marracine Neto, que fornece o alimento para quatro mil pontos de varejo, fechando cerca de 350 pedidos por mês que pesam 800 toneladas.
Neto compara a evolução geral do mercado pet com a de produtos extraordinários: "O mercado cresce anualmente em torno de 5% a 7%. Dentro da categoria superpremium, chega a crescer 15% ao ano". Mas também avalia que as vendas de produtos comuns devem seguir em alta, "pois ainda há muita gente que nem começou a utilizar alimentos industrializados na alimentação de seu animal de estimação".
O proprietário da All Pet (RJ), Luiz Fernando Albuquerque, distribui 262 itens que classifica como superpremium e terapêuticos. Representante oficial da Royal Canin na região metropolitana do Rio, o empresário fornece ração para dois mil estabelecimentos, com tíquete médio de R$ 600. "O mercado [varejista] está aquecido, tem aberto lojas e passa por uma profissionalização bem grande", diz Albuquerque. "Os produtos superpremium representam 3% do volume e 10% do faturamento total. Isso vem crescendo."
Com vista ao contínuo aumento na demanda, o distribuidor está investindo R$ 10 milhões na ampliação de seu armazém, em Caxias, no Rio de Janeiro. A central, que hoje comporta 350 toneladas, terá capacidade para armazenar 600 toneladas. O lucro da All Pet cresce 12% ao ano, segundo Albuquerque.
Veículo: DCI