Setor privado nacional deve rejeitar proposta de limitação feita pelos exportadores argentinos.
Representantes do setor leiteiro nacional se reúnem nos próximos dias para avaliar a proposta apresentada pelos exportadores argentinos para limitação voluntária dos volumes de leite em pó vendidos ao Brasil. O acordo bilateral entre o setor privado dos dois países, com aval dos governos, venceu em abril deste ano e até agora não foi renovado devido ao impasse que surgiu após os argentinos terem proposto aumentar a cota de 3.300 toneladas mensais para 4.400 toneladas mensais.
O coordenador da Câmara do Leite da Organização das Cooperativas Brasileira (OCB), Vicente Nogueira, disse que a proposta enviada por escrito pelos argentinos na semana passada, após a quarta tentativa frustrada de acordo na reunião realizada no final de setembro em Buenos Aires, não é tão "indecorosa" como a inicial, mas ainda assim não será aceita pelo setor privado brasileiro.
Nogueira afirmou que o setor não abre mão do limite em 3.300 toneladas mensais. Segundo ele, a proposta do setor privado argentino é confusa, pois faz referência a volumes remanescentes, mas no final o objetivo é fixar a cota mensal de 4 mil toneladas de leite em pó para o Brasil.
A intenção dos argentinos é consolidar o espaço ganho no mercado brasileiro, pois, sem a renovação do acordo bilateral, as vendas ao longo dos primeiros nove meses deste ano atingiram a média mensal de 4 143 toneladas, volume 60% acima da média de 2.590 toneladas/mês registrada de janeiro a setembro do ano passado.
Os números da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Secex/Mdic) mostram que no acumulado até setembro deste ano as importações brasileiras de leite em pó cresceram 88% em volume (para 65.673 toneladas) e 124% em valor (para US$ 254,8 milhões). As vendas argentinas para o mercado brasileiro aumentaram 60% em volume (para 37.288 toneladas) e 88% em valor (para US$ 145,8 milhões).
O Uruguai, cujos produtores se recusam a discutir qualquer acordo com o Brasil, ampliou em 210% (para 23.642 toneladas) o volume de suas exportações para o mercado nacional. A receita cresceu 265% (para US$ 90,4 milhões). O Chile também avançou e ampliou suas vendas para o mercado brasileiro em 63% (4.714 toneladas) e obteve aumento de 110% na receita (para US$ 18,4 milhões)
Centralização - O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, Estado que tem a terceira maior bacia leiteira do país, defende a centralização das licenças de importação de leite em Brasília, pois hoje podem ser concedidas pelos estados.
Schreiner também é a favor de estender o acordo de cotas para o Uruguai e reivindica a abertura de sindicância sobre as exportações do Chile, para averiguar as denúncias de importações de leite em pó provenientes de países que devem respeitar o direito antidumping aplicado pelo Brasil.
Segundo a Faeg, em pleno período de entressafra o preço ao produtor está em queda. "Na primeira quinzena de outubro, as empresas aviltaram conjuntamente em R$ 0,09 por litro o preço do leite no mercado de leite resfriado comercializado entre as empresas. O valor médio passou de R$ 0,94 para R$ 0,85 por litro, redução de 9,6%. Queda não registrada na mesma proporção ao consumidor", observou.
O dirigente da Faeg argumenta que os preços estão em queda mesmo sem excesso de leite no mercado. A Faeg apurou que de janeiro a agosto deste ano houve redução de 9% na captação de leite das 22 cooperativas que operam no mercado de leite resfriado no Estado, em relação ao mesmo período do ano passado. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG