IAC produz feijão com maior resistência ao calor e a praga

Leia em 5min 30s

Pesquisas feitas nos últimos 5 anos também garantem aumento na produtividade

 

Frutos de pesquisas desenvolvidas nos últimos cinco anos no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), duas variedades de feijão chegam às mãos dos agricultores no próximo ano. As principais novidades são maior produtividade, resistência a pragas e ao calor — atendendo à demanda gerada pela perspectiva cada vez mais forte de aquecimento global.

 

As duas novas variedades foram apresentadas ao setor durante o 9º Congresso Nacional de Pesquisa de Feijão, realizado em Campinas, no final do mês de outubro. Elas podem agüentar pelo menos 1°C a mais de temperatura no planeta sem prejuízo à produção. Além disso, também possibilitam maior produtividade — até 3,5 mil quilos de feijão por hectare.

 

O IAC é um dos principais institutos de pesquisa do feijão no Brasil. Foi pioneiro no desenvolvimento de estudos para obter novas versões e melhoramento do produto. Desde 1930, trabalha com essa cultura. O resultado é traduzido em números: já lançou 37 variedades para o mercado mundial. A principal e mais famosa, de 1971, é o feijão carioquinha, que revolucionou o setor no Brasil por ter melhor qualidade e produtividade.

 

O Brasil cultiva 3,5 milhão de toneladas de feijão por ano, numa área de 4 milhões de hectares. Toda a safra é destinada ao mercado interno pelo produto integrar a base da alimentação do brasileiro. “Temos um potencial de produção para essas novas variedades que pode chegar a 3,5 mil quilos por hectare”, diz Alisson Chioratto, pesquisador com atuação em melhoramento genético no IAC. “Hoje, a média é de 824 quilos por hectare. Por isso, é importante o desenvolvimento de versões mais produtivas e resistentes.”

 

As duas novas variedades chegam ao mercado em 2009 e ainda não possuem nome. São do tipo “bolinha”. “A idéia é que o produto esteja na mão do consumidor em setembro do próximo ano”, afirma Chioratto.

 

No projeto dessas variedades, o IAC disponibilizou 10 pesquisadores de diferentes áreas, como genética aplicada, biologia molecular, fitopatologia, entomologia (estudo dos insetos que podem atacar o feijão) e qualidade tecnológica. Antes da produção mercadológica, por exemplo, é preciso calcular a porcentagem de proteínas e o tempo de cozimento do produto, entre outros itens.

 

Chioratto explica que o feijão é sensível à variação climática e deve ser cultivado em regiões onde a temperatura não ultrapassa 34°C. Porém, não se adapta onde ela fica abaixo de 20°C. “Também não deve ser plantado onde chove muito, pois na época da colheita, se estiver chovendo, os grãos apodrecem e ficam suscetíveis a pragas”, diz o pesquisador. “Com este melhoramento que fazemos, a planta tende a ficar com maior tolerância a pragas e ao calor. Estamos pensando já no futuro do planeta, devido ao aquecimento global.”

 

A expectativa dos pesquisadores agora é de ampliar a produtividade do feijão. Uma das tentativas é fazer com que os agricultores consigam desenvolver a planta em três ciclos anuais. O feijão demora de 90 a 100 dias entre a plantação e a colheita. Se a cultura for mais resistente, pode ser plantada em janeiro e fevereiro; em abril e maio; e em setembro e outubro. “Se o produtor tiver tecnologia, planta nos três ciclos”, afirma Chioratto. “Por isso, a pesquisa é contínua, pois se trata de uma cultura altamente rentável. Ainda mais agora que os preços atuais estão melhores que os da soja e do milho.”

 

Os maiores produtores de feijão no Brasil são os estados do Paraná, Minas Gerais e Bahia. Juntos, concentram 60% da safra nacional. O Estado de São Paulo ocupa a quarta posição no ranking brasileiro.

 

Carioquinha ajuda a matar fome na África

 

A Organização das Nações Unidas (ONU) para Agricultura e Alimentação (FAO) está tentando levar o feijão carioquinha, desenvolvido pelo IAC, para o continente africano, num programa de combate à fome. A variedade, que passou a abastecer o mercado consumidor há quase 40 anos, representa hoje 84% de todo o feijão produzido e consumido no Brasil. O carioquinha é uma variedade de cor beje, rajada com listas mais escuras. É diferente das anteriores, que eram coloridas, como o mulatinho, o rosinha e o roxinho. Também tem mais resistência e maior produtividade. Na história do desenvolvimento do carioquinha consta que ele foi descoberto quase que por acaso. No começo de 1967, representantes do posto de sementes do Estado no Pontal do Paranapanema trouxeram para o IAC meio quilo de um feijão esquisito, que brotou em canteiros na região de Palmital. Desde a década de 70, do século passado, o carioquinha faz parte dos experimentos laboratoriais também do Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), na Colômbia. O Ciat é a entidade responsável pelo melhoramento genético do feijão e faz parte de um sistema que reúne 15 centros mundiais para pesquisa de alimentos. O Centro já catalogou 36 mil espécies do mundo inteiro, que representa todos os tipos de feijão de que se tem notícia do mundo. Da Colômbia, as sementes melhoradas ganham o mundo. A variedade brasileira é considerada pelos cientistas uma das mais importantes descobertas do século 20, um alimento básico do programa contra a fome mundial. Das estufas do Ciat, devem sair grãos com maior resistência à seca e com maior teor de ferro. (VG/AAN)

 

SAIBA MAIS - Variedades de feijão desenvolvidas pelo IAC

Variedade - Ano de lançamento
Feijão Preto G1 - 1963
Feijão Rosinha G2 - 1963
Feijão Pintado - 1965
Feijão goiano Precoce - 1966
Feijão Aeté 1 - 1968
Feijão Aeté 2 - 1968
Feijão Iuba 1 - 1968
Feijão Iuba 2 - 1968
Feijão Iuba 3 - 1968
Feijão Carioca/Carioquinha - 1970
Feijão Piratã 11971
Feijão Aroana - 1978
Feijão Moruna - 1978
Feijão Aeté 3 - 1980
Feijão Aroana 80 - 1980
Feijão Aysó - 1980
Feijão Carioca 80 - 1980
Feijão Catú - 1980
Feijão Maruna 80 - 1980
Feijão Carioca 80SH - 1988
Feijão IAC Maravilha - 1993
Feijão IAC Una - 1993
Feijão IAC Bico-de-ouro - 1993
Feijão IAC Carioca Pyatã - 1994
Feijão IAC Carioca Akytã - 1996
Feijão IAC Carioca Aruã - 1996
Feijão IAC Carioca Eté - 1999
Feijão IAC Carioca Tybatã - 2001
Feijão IAC-Apuã - 2005
Feijão IAC - Tunã - 2005
Feijão IAC - Votuporanga - 2005
Feijão IAC - Ybaté - 2005
Feijão IAC Alvorada - 2007
Feijão IAC Harmonia e IAC Colorido - 2007
Feijão IAC Jaraguá - 2007
Feijão IAC Galante - 2007
Feijão IAC Diplomata - 2007

 

Veículo: Correio Popular - Campinas


Veja também

Companhias restringem o uso de e-mail entre gestores

Em 2003, quando os e-mails já ocupavam boa parte da rotina dos profissionais, mas ainda não haviam transbo...

Veja mais
Encomendas adiam efeitos da crise para têxteis e calçadistas

Os fabricantes de bens de consumo semiduráveis, como confecções e calçados, avaliam que a cr...

Veja mais
Custo do frete marítimo caiu 92,4% desde maio

O custo do transporte marítimo de commodities já declinou 92,4% desde maio, refletindo o impacto da crise ...

Veja mais
Em caixinha, AB Brasil vai do ovo à sobremesa

O velho adágio de não colocar todos os ovos na mesma cesta está valendo como lei para a AB Brasil. ...

Veja mais
Fuji começa a montar câmeras digitais no Brasil

Yasutomo Maeda chegou ao Brasil em março e já conseguiu uma vitória importante para a subsidi&aacut...

Veja mais
Mais de 25 mil vagas para o Natal

Nesta época do ano, há boas oportunidades para jovens que querem entrar no mercado de trabalho   Qu...

Veja mais
Dívida da Aracruz cresce R$ 2,55 bilhões em um mês

Valor equivale a dois anos de geração de caixa da empresa, estimada em R$ 1,2 bi/ano   A demora em ...

Veja mais
Pão de Açúcar registra lucro recorde no 3º tri

O Grupo Pão de Açúcar registrou, no terceiro trimestre, os maiores lucro e geração de...

Veja mais
Pão de Açúcar registra lucro recorde no 3ºtri

O terceiro trimestre coroou o plano de reestruturação implementado pelo consultor Claudio Galeazzi no Grup...

Veja mais