Encomendas adiam efeitos da crise para têxteis e calçadistas

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Os fabricantes de bens de consumo semiduráveis, como confecções e calçados, avaliam que a crise terá um efeito "tardio" nos seus setores e esperam que parte da renda que iria para prestações de longo prazo migre para a compra dos bens que eles produzem. Alguns registraram, em outubro, vendas maiores que as de setembro, outros reduziram o ritmo em relação ao acumulado no ano, mas poucos falam em queda nas encomendas. 

 

O presidente da Altenburg, Rui Altenburg, informa que no mês de outubro registrou vendas maiores do que em setembro deste ano e também maiores em relação a outubro do ano passado. "A crise terá um efeito mais tardio no Brasil. Ainda não se sente a crise, como ela está ocorrendo na Europa ou nos Estados Unidos", afirmou ele, que acredita que os reflexos mais complicados serão vistos no país apenas no segundo semestre de 2009. "Acredito que o fim do ano também vai ser bom, a não ser que haja um fenômeno maior até lá". 

 

Embora a crise não esteja ainda refletindo nas encomendas da Altenburg, o empresário diz que sente dificuldades em repassar aumento de custos (matérias-primas em dólar e mão-de-obra), para os preços, principalmente entre os grandes varejistas. A empresa estimava, no início deste ano, um crescimento de 20% no faturamento - a meta, diz, será "pouco afetada". 

 

Para o diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, o desempenho dos setores têxtil e de de vestuário e acessórios não refletiu a "agudização" da crise financeira internacional. Segundo os dados do IBGE, o setor têxtil cresceu 2,14% em setembro e o setor de vestuário e acessórios, 12,48%. 

 

Pimentel observa que no mesmo período, as vendas no varejo cresceram de 10% a 12% e as importações desses itens aumentaram 25%. "A produção das indústrias melhorou, mas o câmbio ainda favoreceu as importações", disse Pimentel. A produção de outubro, diz ele, deve apresentar estabilidade em relação a setembro. No mercado interno, segundo Pimentel, algumas redes de varejo já começaram a postergar os pedidos feitos às indústrias. 

 

O presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do Vale do Itajaí (Sintex), Ulrich Kuhn, disse que as vendas da indústria em outubro ficaram estáveis em relação a setembro. "O mês de outubro ainda foi um período normal para a maior parte das empresas. Não houve ainda uma queda de atividade", disse. Kuhn afirma que neste início de novembro já existe uma discussão maior sobre os pedidos do varejo, com algumas postergações, mas ainda não é um movimento muito forte. "O grande termômetro vai ser o fim do mês, quando verificaremos como estará o humor do consumidor diante da crise para as compras de fim de ano". 

 

A presidente da Dudalina, Sonia Hess de Souza, considerou que a empresa teve em outubro um bom desempenho. As vendas subiram 15% em relação a setembro e 10% em relação a outubro de 2007, dentro da meta planejada pela companhia cujo carro-chefe são camisas masculinas. "Esse faturamento de outubro ainda reflete vendas acertadas entre junho e agosto", explicou. 

 

Segundo ela, existe atualmente receio "em alguns setores do comércio", que estão revisando as encomendas à indústria. "Mas estamos tentando fazer com que isso não contamine os demais setores", afirmou, acrescentando que a empresa tem negociado prazos maiores com seus clientes para um melhor "ajuste da entrega em relação às necessidades das lojas". 

 

O presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindifranca), José Carlos Brigagão do Couto, afirma que as indústrias calçadistas da região não devem registrar queda na produção entre outubro e dezembro. A produção agora é de encomendas contratadas em meses anteriores, tanto para mercado interno como para o externo. Internamente, diz, as encomendas devem ser entregues até a primeira quinzena de dezembro, para as vendas de Natal e, a partir dessa data, as indústrias concedem férias coletivas até janeiro. 

 

Para a fabricante de lingerie Dilady, de Fortaleza, o mês de outubro destoou do resto do ano. Até setembro, a empresa vendeu um volume de peças 8% maior em relação a igual período do ano anterior. Em outubro, as vendas ficaram iguais às de 2007. E isso, segundo o diretor Márcio Pereira, ocorreu depois que a companhia concedeu descontos de até 15% e estendeu o prazo de pagamento. "Inicialmente, nossa intenção era conseguir antecipar os pedidos de fim de ano, mas a nova política acabou servindo bem para o momento de crise", explica Pereira. 

 

A Ballina, que fabrica cerca de 15 milhões de pares de sandálias por ano em Juazeiro do Norte (CE), vem mantendo o ritmo de vendas igual ao do ano passado desde o início do ano. "Acredito que possamos até vender mais porque o crédito para a compra de bens duráveis está restrito. Assim, as pessoas vão gastar o dinheiro com itens mais baratos", afirma Marco Aurélio Tavares, diretor comercial da Ballina. Em outubro, segundo Tavares, alguns varejistas encolheram suas compras em 5%, mas o volume foi compensado com o crescimento das exportações. 

 

O aumento dos custos preocupa os empresários nordestinos. Para o fabricante de lingerie, a elevação foi de até 20% em alguns insumos importados. Para a Ballina, ficou em 10%, que não devem ser repassados. A Dilady tentará, aos poucos, elevar seus preços, para medir a reação dos consumidores. 

 

Veículo: Valor Econômico


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