Logística ferroviária mantém aportes em 2009

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O transporte ferroviário de cargas vive um momento delicado por conta da turbulência econômica internacional. Diretamente ligadas ao escoamento de insumos siderúrgicos e commodities agrícolas, empresas de logística por trilhos já admitem retração na movimentação de produtos, mas garantem manter os investimentos em 2009, em equipamentos e malha, necessários para absorver a demanda, na crença de o cenário retomar a normalidade e crescer a diversificação das cargas.

 

A Vale Logística, divisão de transportes de carga da Vale, por exemplo, prosseguirá sem alterar o plano de aportes, na casa dos US$ 3 bilhões, previstos para 2009, enquanto a América Latina Logística (ALL) garante dar vazão aos R$ 700 milhões no período. Outra na tendência é a Transnordestina Logística, ao revelar que estão de pé cerca de R$ 5 bilhões.

 

André Leal, gerente comercial da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), pertencente à Vale, confirmou o cenário, durante a feira "Negócios nos Trilhos 2008". "Estamos em um momento complicado, com medidas contingenciais, porém, na área de logística, apresentam-se oportunidades. Por isso, decidimos manter nosso plano de expansão."

 

O plano de aportes anunciado pela Vale Logística soma US$ 12 bilhões até 2012, contemplando as quatro ferrovias que a empresa administra, bem como a aplicação de recursos em outros modais utilizados, como a capacidade adicional portuária. Os investimentos na área de logística representam 20% do montante de aportes da Vale. Para 2008, o valor está na casa do R$ 1,8 bilhão.

 

Leal contou para a área ferroviária estão calculados US$ 790 milhões, nos próximos cinco anos, para a Ferrovia Norte Sul (FNS), de vocação para carga geral. A concessão recentemente conquistada pela empresa está com o primeiro embarque previsto para novembro, no trecho que deve chegar à cidade de Palmas (TO), até dezembro de 2009. Outra obra prevista é da Litorânea Sul, uma variante da FCA, onde devem ser aplicados US$ 414 milhões. O executivo disse que a Vale vem ampliando a diversificação dos segmentos a que atende na malha ferroviária, sendo os mais expressivos, a agricultura e a siderurgia. Mas a empresa pretende acrescer sua atuação em outros setores, como os industrializados, a construção e florestais, e o dos combustíveis.

 

A malha ferroviária da Vale Logística já soma 10 mil quilômetros de ferrovias. São quatro estradas de ferro, FCA, FNS, Estrada de Ferro de Carajás (EFC) e a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM).

 

A MRS Logística, que deve fechar sua movimentação de cargas abaixo do esperado, não pretende cancelar a compra de vagões, locomotivas e equipamentos, orçados em aproximadamente US$ 1,3 bilhão, mas, em relação a novos aportes, tomará atitude conservadora, pondo o pé no freio.

 

Investidores

 

A América Latina Logística (ALL) , que tem a meta de atingir montantes investidos de R$ 700 milhões ao ano, atingindo uma produção de 150 bilhões de toneladas por quilometro útil (TKU), dentro de doze anos, reafirmou que deve atingir suas expectativas, tanto de aportes, como de produção, mesmo dentro do cenário de crise.

 

"A ALL vai manter os R$ 700 milhões previstos para 2009, e, como temos R$ 2 bilhões em caixa, não teremos problemas com financiamentos", falou Bernardo Hess, presidente da rede.

 

O executivo garantiu que para o projeto de concessão da ferrovia que ligará o Alto Araguaia a Rondonópolis, os recursos estão garantidos. "Fechamos com três investidores no meio do ano, e a operação está em pé", contou. Hess disse estar em conversas adiantadas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para concluir o processo de obtenção de verba, e assim, atingir o objetivo de iniciar as obras ano que vem.

 

O executivo comentou ainda que há muito mercado a ser captado pela ALL, nos segmentos de siderurgia, industrial, construção e combustíveis, com uma malha férrea que atende os Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, além das atividades na Argentina.

 

Valec

 

Antes responsável pelo desenvolvimento da Ferrovia Norte Sul (FNS), a Valec Engenharia Construções e Ferrovia, estatal do governo federal, assumiu este ano a responsabilidade de viabilizar mais 10 mil quilômetros de malha ferroviária no País.

 

Francisco Alves das Neves, conhecido no setor como Juquinha das Neves, atual presidente da Valec, vê a possibilidade de deixar tudo pronto até 2015. "Primeiro, vamos consolidar as licitações anunciadas esta semana, depois, partiremos para as próximas", comentou, em entrevista ao DCI.

 

Neves se refere às concorrências de parte da FNS, em que a União pretende recolher R$ 3,5 bilhões, o que acontece até 2009, e a licitação prevista para metade de 2009, da Ferrovia Oeste-Leste, em que estão envolvidos R$ 3 bilhões. Para estas disputas, o presidente avalia que a licitação será internacional, para 30 anos de concessão, nos moldes da primeira etapa da FNS, conquistada pela Vale. O processo deve ocorrer na Bolsa de Valores de São Paulo.

 

Na segunda parte da difícil tarefa de Juquinha está a viabilização linha férrea que ligará o litoral do Estado do Rio de Janeiro à divisa com o Peru, ainda sem data definida de licitação e a maior delas, com extensão de mais de quatro mil quilômetros.

 

A parte peruana da obra está em fase de viabilização para a concessão. A Valec está apresentando seus projetos no exterior, apesar da crise. Depois de passar nos Estados Unidos, os representantes da empresa estiveram na Europa fazendo contatos.

 

Conservadorismo

 

Como está extremamente ligada ao setor siderúrgico, responsável por 80% dos negócios, a MRS Logística viu sua meta de movimentação encolher, mas mantém a expectativa de avanços, embora moderados. A empresa deve fechar 2008, tendo movimentado 140 milhões de toneladas, mas a intenção era chegar a 160 milhões.

 

Mesmo que o fato deixe apreensivo Henrique Aché Pilar, diretor de Planejamento, Finanças e Relações com Investidores da MRS, o executivo garante que a empresa vai continuar avançando, ainda que de forma mais lenta. "O crescimento esperado para este ano será diluído entre 2008 e 2009", explicou. Pilar coloca que a MRS dará continuidade aos investimentos que estão fechados, estando a maior parte deles já aplicada, o que, para ele, dá condições a empresas de atender à demanda até pelo menos 2010.

 

O diretor explicou que, até 1999, 90% do market share do setor era siderúrgico. Fatia que, nos negócios da MRS, a empresa conseguiu diminuir para 70%, por volta de 2005. O aquecimento do minério, porém, no período anterior à crise, fez a representatividade do siderúrgico voltar à casa dos 80%, quadro que a companhia pretende mudar. O responsável pelo planejamento da empresa fez questão de salientar que outros segmentos cresceram, mas o ritmo da siderurgia foi muito superior. A MRS opera a Malha Sudeste da Rede Ferroviária Federal, passando pelos Estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.

 


Veículo: DCI


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