A valorização do dólar frente ao real fez com que três das quatro produtoras de papel e celulose listadas no Novo Mercado da BM&F Bovespa apresentassem dificuldades em equilibrar a relação patrimônio líquido e dívida líquida. A alta da moeda, verificada durante o terceiro trimestre, em torno de 20%, fez com que as empresas com exposição na moeda diretamente, por meio de endividamento, sentissem os impactos contábeis imediatamente, como por exemplo Klabin e da Suzano Papel e Celulose. A Aracruz, por outro lado, viu sua dívida duplicar após encerrar suas posições em derivativos. A Votorantim Papel e Celulose é a que apresenta situação mais confortável no setor.
Anteontem a Aracruz informou ter firmado um acordo com bancos para, praticamente, finalizar suas posições alavancadas em derivativos cambiais. Dessa forma, sua dívida líquida superará em R$ 3 bilhões o patrimônio líquido obtido no terceiro trimestre. Para se ter uma idéia, as perdas totais abocanharão cerca de US$ 2,13 bilhões - ou aproximadamente R$ 4,5 bilhões, com o dólar cotado a R$ 2,15. A SLW Corretora lembrou que somada a essa cifra está a dívida líquida da companhia, contabilizada em R$ 3,2 bilhões no terceiro trimestre, o que gera um custo total de R$ 7,7 bilhões. Em 30 de setembro, o PL da empresa estava em R$ 3,998 bilhões, já prejudicado pela operação com derivativos de câmbio. "Esse alto índice de endividamento deve ser bem observado. Ficará muito complicado para a empresa, em termos de obtenção de crédito e classificação de rating", considerou Pedro Galdi, analista da corretora.
As negociações com as instituições financeiras serão encerradas no próximo dia 30. Até aquela data, a empresa não se pronuncia sobre prazos para o pagamento do montante bilionário. Vale lembrar que a cifra total encerra 97% do volume total de suas operações. Mais uma vez, a Aracruz não se manifestou sobre qual o destino dos 3% restantes. "Se a empresa conseguir um acordo para pagamento em no mínimo cinco anos, ela deve conseguir compensar o gasto com geração de caixa. Se for para pagar de uma vez, não tem como aguentar", previu a analista para o setor da Ativa, Mônica Araújo.
A VCP, por sua vez, informou que durante o terceiro trimestre, suas despesas totais com derivativos cambiais apresentaram efeito contábil de R$ 145 milhões, ante um resultado de caixa positivo em R$ 8,3 milhões. O endividamento bruto da companhia em dólares passou de R$ 2,5 bilhões para R$ 3,2 bilhões entre o segundo e o terceiro trimestres. Contudo, sua dívida líquida total ficou em R$ 2,7 bilhões, ou cerca da metade de seu PL: R$ 5,1 bilhões.
Alavancagem e solvência
De acordo com Mônica, empresas podem operar alavancadas, desde que o comprometimento com gastos e sua possibilidade de geração de caixa não gerem problemas de solvência. Em sua avaliação, nenhuma companhia brasileira do setor de papel e celulose - exceto Aracruz, que ainda não formalizou como será o pagamento de sua exposição cambial - está prestes a quebrar por conta dessa paridade.
A Klabin, por exemplo, viu seu PL cair de R$ 2,993 bilhões em 30 de junho para R$ 2,6 bilhões no mesmo dia de setembro. Já o endividamento líquido avançou de R$ 2,272 bilhões para R$ 2,771 bilhões. Ocorre que sua dívida de curto prazo responde por apenas 6% do total do gasto, enquanto que o prazo médio de vencimento em moeda estrangeira é de 57 meses. A companhia foi procurada, mas não se manifestou.
A Suzano passou por problema parecido. No fechamento do terceiro trimestre, a empresa apresentou dívida líquida consolidada de R$ 4,7 bilhões, correspondendo a uma elevação de R$ 581 milhões frente aos R$ 4,1 bilhões verificados no período imediatamente anterior. A relação dívida líquida/Ebitda da companhia aumentou de 3,19 vezes para 3,38 vezes, no mesmo intervalo de tempo. O patrimônio líquido da empresa, por outro lado, saiu de um total R$ 4,5 bilhões em 30 de junho para R$ 4,3 bilhões em setembro. Em teleconferência reaalizada com acionistas, os executivos da empresa lembraram que o pagamento da dívida será feito ao longo dos próximos quatro anos, o que resulta em um impacto pulverizado em seu caixa ao longo do tempo. Foi lembrado, contudo, que, pelo fato de 70% de sua receita ser contabilizada em dólar, o benefício apresentado com a valorização da divisa norte-americana é maior do que o reflexo negativo em termos de endividamento. "O cenário de câmbio é muito favorável para as nossas margens operacionais", comentaram s executivos.
Recomendação
De qualquer maneira, a Ativa não recomenda a compra de ações ligadas ao segmento, uma vez que a expectativa de recessão mundial leva para baixo o consumo e o preço das commodities no mundo. A corretora Planner, recentemente, recomentou a venda de papéis da Klabin pelo mesmo motivo citado pela Ativa.
Veículo: DCI