A venda da rede de supermercados Prezunic, do Rio de Janeiro, para a varejista chilena Cencosud por R$ 685,7 milhões anunciada ontem deve levar a rede estrangeira a faturar R$ 8,3 bilhões no país em 2011. O valor refere-se à soma das operações da rede no país, consideradas as recentes aquisições. Com o Prezunic, a companhia torna-se a cadeia de varejo que mais cresceu no ranking do setor neste ano no Brasil, com 280 lojas.
Com o negócio anunciado ontem, o Brasil passa a ser o segundo país em termos de participação por região nas vendas do grupo no segmento de varejo alimentar, perdendo apenas para o Chile, com base nos resultados apresentados trimestralmente.
Uma das mais tradicionais redes do Rio, a Prezunic opera com 31 lojas, um centro de distribuição no Estado e 7,3 mil empregados. O valor total da operação atingiu R$ 875 milhões, mas desse valor foi retirada a soma das dívidas da rede. Criada por Joaquim Cunha em 2001, a companhia era administrada pelos filhos do fundador, Andrea e Marcio, que são donos de 50% da empresa, cada um. A venda da operação aconteceu porque os filhos decidiram sair do negócio.
"A empresa ficou grande demais, crescemos muito nos últimos anos e começou a ficar desgastante demais", disse Andrea. "Não preciso de algo tão grande para ser feliz. Surgiu essa oportunidade e achamos que era a hora", conta Andrea.
De acordo com pessoas próximas à negociação, há cerca de dois anos a rede Walmart chegou a sondar a cadeia a respeito da possibilidade de a rede vender o negócio. "Se pensarmos nos valores propostos, já tivemos valores maiores da mesa [do que o pago pela Cencosud], mas não achamos que era a hora de nos desfazermos da empresa naquela época", afirmou ela.
Os irmãos devem se manter no comando do negócio até o dia 31 de dezembro. A partir de janeiro, a companhia passa a ser gerida pela direção da Cencosud no Brasil. Não foi informado, no entanto, como será feita a administração do negócio - se haverá a definição de um novo presidente. A rede chilena tem um gerente geral no Brasil, o executivo Daniel Rodriguez.
Ao se somar as vendas da Prezunic neste ano a serem embolsadas pelos chilenos ao valor da receita a ser atingida pela Cencosud no Brasil, a companhia passa a faturar mais do que a Argentina na área de supermercados e hipermercados - o segundo colocado no ranking geral em 2010.
Em pouco mais de um ano, a companhia somou ao seu faturamento cerca de R$ 4,7 bilhões em vendas, com base nos resultados das companhias adquiridas. Em outubro, a Cencosud comprou por R$ 1,35 bilhão a cadeia mineira Bretas que faturou R$ 2,3 bilhões em 2010. Ao se somar nessa conta os cerca de R$ 2,4 bilhões faturados pela Prezunic também em 2010, são R$ 4,7 bilhões a mais em receita bruta.
"Com esta aquisição estratégica, a Cencosud entra no mercado de supermercados no Estado do Rio de Janeiro, que é um dos mais importantes do Brasil", afirmou a Cencosud em comunicado. O presidente mundial da rede, Horst, Paulmann, havia informado há dois meses que iria focar no crescimento orgânico no país.
Aquisição marca nova tendência no mercado do Rio
A compra da rede Prezunic pelo grupo chileno Cencosud marca um movimento contrário à tendência histórica do setor supermercadista do Rio de Janeiro: a concentração nas mãos de empresários locais, geralmente de origem portuguesa.
As estrangeiras Pão de Açúcar / Casino, Carrefour e Walmart - estão no Rio. O Pão de Açúcar, com todas as suas bandeiras, lidera. Mas redes locais como Guanabara, Mundial e, até ontem, o Prezunic, são a segunda força supermercadista no Estado.
"É difícil explicar racionalmente essa característica do mercado do Rio. Acho que é um apego ao negócio", diz Aílton Fornari, presidente da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), do alto dos seus mais de 40 anos no setor, a maior parte do tempo ligado ao grupo Sendas, comprado pelo Pão de Açúcar.
Sexto colocado do ranking nacional, o Prezunic vem conquistando os bairros mais sofisticados do Rio, como a Zona Sul e Barra da Tijuca, graças a uma política de preços agressiva e a um mix que atende as camadas de renda mais alta sem abrir mão do seu público original de renda média e baixa.
Sua origem vem dos Supermercados Rainha, fundado pelos irmãos portugueses Antonio, Manoel e Joaquim Cunha por volta dos anos 1970. Preocupados com possíveis brigas familiares que derrubaram antigos gigantes como Casas da Banha e Supermercados Disco, também de origem portuguesa, decidiram cada um abrir a própria rede. Antônio abriu o Dallas, Joaquim, o Continente e Manoel, o Intercontinental.
O Dallas e o Continente foram comprados pelo Carrefour, uma iniciativa que, segundo especialistas, não deu certo e foi progressivamente desfeita. O Intercontinental não cresceu muito, mas mantém-se ativo. Joaquim Cunha, ex-Continente, abriu o Prezunic com uma filosofia de lojas padronizadas com no máximo 2,5 mil metros quadrados e compras centralizadas que mostrou-se vitoriosa, inclusive na sucessão, com a passagem do comando a sua filha, Andréa Cunha.
Apesar de não participarem do ranking da Abras, as redes Guanabara e Mundial são consideradas por especialistas maiores do que o Prezunic, sendo este último caracterizado por preços ainda mais agressivos, com uma política de vendas exclusivamente à vista.
A outra rede do Rio que aparece entre as 20 maiores do país, os Supermercados Zona Sul (18º lugar em 2011 graças a vendas de R$ 965,5 milhões em 2010). Com uma estratégia diferenciada, voltada para as classes de renda mais alta e oferta de produtos mais sofisticados, a rede deverá superar R$ 1 bilhão de faturamento este ano.
Veículo: Valor Econômico