A tradicional fabricante dinamarquesa de brinquedos traz ao Brasil coleção absurda com bonecos que assaltam caixas eletrônicos.
A dinamarquesa Lego sempre reforçou o caráter educativo de seus famosos brinquedos. É de se estranhar, portanto, o lançamento de uma coleção absurda, que traz bonecos simulando assaltos a caixas eletrônicos. Incitar a violência junto ao público infantil, por si só, já seria lamentável sob todos os aspectos: pedagógico, econômico, social e por aí vai. Mas a brincadeira de mau gosto da Lego soa como um insulto aos brasileiros, especialmente num momento em que a sociedade, cansada da falta de segurança nas cidades, diz basta à criminalidade. O sucesso das ocupações das favelas cariocas pelo poder público é o mais eloquente sinal desta mudança. Que tipo de mensagem a Lego quer passar aos seus consumidores?
A coleção faz parte da linha City, uma das 22 distribuídas no País, compostas por 250 itens. Robério Esteves, diretor de operações da paulista M.Cassab, distribuidora oficial da Lego no mercado brasileiro, diz que os produtos estão sendo comercializados em 133 países desde abril. Mesmo sem argumentos convincentes, ele tenta defender a fabricante. “A linha City quer retratar todo o meio urbano sem jamais incitar a violência”, diz ele. “O que está havendo é um equívoco na interpretação.” Não é o que dizem os especialistas. A estratégia global da empresa é que está equivocada. O brinquedo politicamente incorreto é um exemplo do antimarketing. É um produto que veio em hora errada e pode prejudicar seriamente sua imagem. “É absolutamente necessário levar em conta questões particulares de cada mercado”, diz Daniela Khauaja, coordenadora de marketing da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo.
Segundo ela, esses bonecos podem manchar a imagem da Lego, que atua na faixa etária de cinco a 16 anos e é muito ligada aos pais dos seus consumidores. São 400 milhões de crianças que têm acesso aos bonecos bandidos, que já figuram entre os mais populares da linha. No Brasil, são cerca de 1,5 mil pontos de venda. O representante tem autonomia para escolher os produtos que quer distribuir. “Nesse caso, não vimos problema algum”, diz Esteves, da M.Cassab. “Mostrar à criança o que é bom e o que é mau faz parte do caráter pedagógico da empresa.” Ah, bom. Por esse raciocínio, pode-se, então, esperar o lançamento do Lego Traficante ou do Lego Pedófilo?
Veículo: Revista Isto É Dinheiro