De aquisição em aquisição, o alemão nacionalizado chileno Horst Paulmann consolida a Cencosud como uma das maiores varejistas do Brasil e da América Latina.
O empresário Horst Paulmann nasceu em 1936, em Kassel, no centro da Alemanha, mas o seu destino estava na América do Sul, para onde a sua família imigrou, após a Segunda Guerra Mundial. Ao chegar no sul do Chile, seu pai comprou um pequeno varejo local. Foi a partir desse negócio que o jovem Paulmann encontrou a sua vocação de empreendedor. A partir de 1960, ele e seu irmão, Jurgen, assumiram o comando do empreendimento familiar, transformando-o no que é hoje a maior varejista chilena, a Cencosud, uma rede que fatura US$ 12,2 bilhões ao ano. Paralelamente ao crescimento da Cencosud, Paulmann construiu a sexta maior fortuna da região e a 75ª do mundo, avaliada em US$ 10,5 bilhões, segundo o ranking da Forbes. Consolidado em seu país adotivo, agora é o Brasil que Paulmann quer conquistar. Na quarta-feira 16, a Cencosud anunciou a aquisição da rede carioca Prezunic, cujo nome é inspirado na expressão “preço único”, em francês. Essa é a sétima que faz no País. O negócio foi fechado por R$ 686 milhões, já descontados R$ 189 milhões em dívidas da rede, que pertencia à família Cunha, do Rio de Janeiro, e capital de giro. A operação vai acrescentar um faturamento de R$ 2,4 bilhões, em valores de 2010, e mais 31 lojas ao grupo chileno.
O Cencosud deve superar os R$ 8 bilhões em receita anual e totalizar 280 lojas no Brasil. Com a aquisição, a empresa mostra que, aos poucos, está conseguindo cobrir Estados estratégicos do território brasileiro e ganhando porte para enfrentar os seus três maiores concorrentes: Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart. A Cencosud chegou ao Brasil em 2007, com a compra, por cerca de R$ 730 milhões, da G.Barbosa, baseada em Sergipe. Há um ano, fechou outro grande negócio, ao pagar R$ 1,3 bilhão pela mineira Bretas. “No Nordeste, somos a segunda maior, em Minas Gerais, a primeira, e, com a aquisição da Prezunic, estamos em terceiro no Rio de Janeiro”, disse o executivo chileno Daniel Rodriguez, gerente-geral da empresa, durante coletiva de imprensa, em Santiago, capital chilena. “Sempre que houver uma oportunidade no Brasil, vamos observar.”
Por sinal, o próprio Paulmann chegou a declarar que gostaria de comprar a operação do Carrefour por aqui, quando a negociação da rede francesa com Abilio Diniz começou a fazer água.“Quem imaginava, como eu, que a Walmart estaria liderando as aquisições, é uma surpresa ver a Cencosud comendo pelas bordas”, afirma Eugênio Foganholo, da consultoria Mixxer Desenvolvimento Empresarial. Essa fome por novos negócios tornou a Cencosud a empresa de maior crescimento no setor de supermercados brasileiro. No terceiro trimestre deste ano, ela registrou crescimento de 117,5% no País, em comparação com o mesmo período de 2010. Mas as operações não vão tão bem quanto esse número indica. A expansão de vendas em mesmas lojas, descontando as redes recém-adquiridas, foi de apenas 2,5%. Um volume abaixo do setor, que cresceu cerca de 4% no mesmo período. “A Cencosud está em um momento de absorção das operações, o que prejudica a gestão, mas as suas aquisições indicam que a estratégia é de longo prazo”, diz Foganholo.
Se alguém tem dúvidas da capacidade de crescer da empresa é só conhecer um pouco mais das iniciativas de Paulmann. Atualmente, ele está construindo em Santiago, o centro comercial Costanera Center que abrigará o que promete ser o maior arranha-céu da América do Sul, com 70 andares. Orçado em US$ 600 milhões, o conjunto começou a ser erguido em 2006 e deverá ser inaugurado em 2012, apesar de sofrer críticas quanto às suas dimensões megalomaníacas. Não se trata da única polêmica em que Paulmann se envolveu no país. Quando foi agraciado com uma cidadania honorária chilena pelo ex-presidente Ricardo Lagos, em 2005, partidos de esquerda o acusaram de ter ligações com a Colônia Dignidade, que era formada por neonazistas e acobertada por crimes que incluíam até pedofilia, durante o regime militar de Augusto Pinochet. Apesar da proximidade com o socialista Lagos, Paulmann foi presença notada no funeral do ditador.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro