O conceito de rastreabilidade - mecanismo que permite identificar a origem e a trajetória de alimentos e produtos desde o plantio ou fabricação até a casa do consumidor - tem adquirido importância significativa nos últimos tempos, principalmente nos mercados internacionais de produtos agrícolas.
Diante das exigências da União Europeia e, a partir de 2012, também do mercado americano, muitas empresas brasileiras vêm implantando o sistema, principalmente, nas cadeias de carne bovina, soja e frutas.
"Trata-se não só de uma exigência para vender para a União Europeia, mas principalmente de uma segurança para o produtor", afirma Adriana Prado, diretora de marketing e logística internacional da Itaueira, produtora cearense de melão.
A empresa exporta 20% da produção de melões das suas fazendas instaladas nos Estados do Ceará, Piauí e da Bahia diretamente para países da Europa e da América do Norte, como Estados Unidos e Canadá.
São 1.100 hectares de plantações, com uma produção anual de 3.300 toneladas da fruta. Toda a produção é rastreada, do plantio até a mesa do consumidor, dentro de um processo que começou no início deste ano.
Os melões, conhecidos no mercado como a "fruta da redinha" por causa da sua embalagem, podem ser identificados fruta por fruta, caixa por caixa, pallet por pallet ou lote por lote. A identificação permite ao comprador colher as informações da maneira que desejar apenas com a passagem do scanner pela etiqueta colada ao produto.
Com a ajuda da tecnologia e de um farto banco de dados, todos os elos envolvidos na cadeia de compra, venda e consumo de alimentos podem saber quando a semente foi plantada, que tipo de adubagem recebeu e com qual frequência e intensidade, a data da colheita, quando a fruta chegou ao depósito do cliente, como ela foi processada e ainda o tempo que levou para chegar até a mesa do consumidor.
Ou, no caso das fazendas de gado, é possível conhecer a genética dos animais, a data de nascimento e de abate, o tipo de alimentação, tempo de permanência no frigorífico e no varejo. "A vantagem é que não são apenas dados estatísticos, é possível saber também em que fase o problema ocorreu e quem foi o responsável", reforça Adriana.
Segundo Flavia Costa, assessora de soluções de negócios da GS1, que estabelece boas práticas para certificação, a preocupação com a segurança dos alimentos é cada vez maior, em decorrência da economia globalizada, que coloca na mesa dos consumidores produtos de todo o mundo.
"De agora em diante, ficará cada vez mais difícil negociar no exterior sem a adoção dos processos de rastreabilidade. A medida está sendo valorizada também no mercado interno, sendo exigida por algumas redes de supermercado", diz Flavia.
Para os leigos, os números exibidos no selo, colocado em cada fruta, caixas ou pallets, mais parece um código de barras. E na realidade é uma evolução do velho conhecido dos consumidores, que traz em cada número uma identificação única, ligada a um único produtor no início da cadeia. "Por onde o produto passar, ele será identificado pelo código reconhecido no Brasil e no exterior", explica Flávia. "Daí a importância da adoção das normas de rastreamento."
O empresário Geraldo César Killer, sócio da Citrus K, com sede em Bauru, interior de São Paulo, desde 2001 mantinha os controles de produção, colheita e venda de cada pé de tangerina sem caroço de sua fazenda em seus arquivos. No final dos anos 2000, porém, buscou um endosso internacional, o que facilitou sua atuação no mercado europeu.
A certificação Global Gap, que atesta e controla todo o processo, do campo à mesa do consumidor, saiu em 2008. "Sem essa certificação aprovada não dá para exportar para a União Europeia", afirma Killer.
Ele observa que não teve nenhum problema até hoje com as frutas exportadas, mas é cada vez maior o número de casos de alimentos contaminados ao redor do mundo que acabam por interferir nas vendas da cadeia, mesmo que a produção ocorra em outro país.
"As pessoas têm por hábito generalizar e ações que inibem o consumo podem determinar o fim de uma empresa", declara. "Se o produto é rastreado, fica fácil dizer se a contaminação está no lote 1, produzido em determinado lugar, em um único período, o que diminui as chances de penalizar produtores que nada têm a ver com aquela plantação".
Hoje, a Citrus K exporta 60% das 5 mil toneladas de tangerina produzidas por ano para o Canadá, Ásia e União Europeia. A ideia da empresa é chegar a 2013, com uma produção de 15 mil toneladas da fruta por ano, 50% delas exportadas. (K.S.)
Veículo: Valor Econômico